Alfa Romeo Giulia: O segredo está na massa … cinzenta

25/03/2017

O Giulia quer iniciar o renascimento da Alfa. Design inspirado, qualidade irrepreensível e um chassis desenvolvido com o dedinho da Ferrari, para mostrar aos rivais alemães que não são os únicos a saber fazer carros que curvam bem e depressa

Belas artes, belos carros e boas pizzas. Três coisas que definem o imaginário que temos da Itália e que se calhar a Itália tem dela própria.

Quando apuram a “mão” os italianos fazem massa como ninguém e desenham carros como poucos. É por isso que o segredo do novo Alfa Romeo Giulia está na massa, neste caso, na massa cinzenta.

Ou seja, a essência do design, matéria-prima principal dos “pratos automobílisticos” italianos, desta vez apurada com um condimento normalmente mais usado a norte dos Alpes — a qualidade de construção e o grande feeling de condução.

Para refinar este seu prato principal, a Alfa Romeo precisou de muita “massa”, cerca de 5 mil milhões de euros, que é o investimento alocado ao renascimento da Alfa pela Fiat-Chrysler e que compreende um nova linha de produtos capazes de fazer a marca atingir em 2018 um ambicioso volume de vendas de 400 mil unidades no mundo inteiro.

O Alfa Romeo Giulia é o primeiro ariete desta ofensiva com que Sergio Marchionne, o “boss” da FIAT, pretende devolver a marca de Arese às suas glórias passadas. Para atingir esse desiderato, resgata um nome histórico, o Giulia, modelo que marcou as décadas de 60 e 70 na história da Alfa e investiu fortemente no desenvolvimento de uma nova plataforma — a Giorgio — cuja supervisão esteve a cargo do diretor técnico da Ferrari, Philippe Krief. O resultado é uma berlina desportiva de tração traseira capaz de enfrentar qualquer rival alemão — nomeadamente o BMW Série 3 ou o Audi A4 — no terreno que ele escolher.

Forma e conteúdo

Puxando da fita métrica, o Giluia mostra que é dos mais compactos do seu segmento o que não compromete a elegância, antes a acentua. Com 4,64 metros de comprimento, 1,87 metros de largura e 1,42 metros de altura, o Giulia consegue projetar uma silhueta dinâmica e ser um inconfundível Alfa.

Apesar da tirania da fita métrica, o Giulia consegue oferecer espaço a bordo, apenas penalizado pelo túnel da transmissão que impede que o passageiro do meio do banco traseiro viaje sem ser a “empernar” com os do lado (o que até pode ter o seu interesse, dependendo de quem vai ao lado…)

Mas a bem da verdade,  nos tempos modernos as berlinas apostam numa “tática” 2+2 (lugares) em vez do tradicional 2+3.

Um dos principais defeitos do Giulia é o acesso difícil e limitado aos lugares traseiros, que dificulta a vida a pessoas mais corpulentas ou com mobilidade reduzida. Já a capacidade da bagageira (480 litros), está na média do seu segmento.

Passando diretamente para o melhor lugar da “casa” — o que está em frente ao volante — aprecio imediatamente a envolvência do posto de condução e a sua relação com os pedais, o volante e os comandos do sistema de infoentretenimento, cujas principais funções são controladas a partir do comando rotativo colocado ao lado da alavanca de velocidades. O ecrã de 6,7 polegadas é o centro nevrálgico do sistema Connect, a partir do qual controlamos a conectividade com smartphones, o rádio, a navegação, o ar-condicionado e a habitual panóplia de gadgets que um carro desta classe tem no seu menu.

No que respeita ao nível de equipamento, a Alfa Romeo não quis deixar margem para os alemães cantarem de galo e incluiu diversos sistemas de segurança que se tornaram presença obrigatória neste segmento. Destaque para conteúdos tecnológicos como o sistema de aviso de colisão dianteira com travagem de emergência autónoma, o sistema de alerta de mudança de faixa de rodagem e o configurador de modos de condução DNA, que vai do modo dinâmico ao modo eficiente ou neutral, e que muda as cores do painel de instrumentos em função do modo de condução escolhido.

A qualidade dos materiais e de montagem merece também nota positiva e revela o cuidado que a Alfa depositou em combater os alemães onde eles são fortes.

Está tudo a postos para ir para a estrada. Só falta encontrar o botão do start. Não está no tablier, nem junto à alavanca de velocidades, mas onde raio está?

Meio minuto às aranhas, e finalmente lá está ele, bem à frente do meu nariz. No volante, um preciosismo fantástico da Alfa.

Vamos lá ver então se este Giulia é o tal predador do asfalto de que tanto se fala. Gentlemen start your engine!

Condução allegro vivace

A forma quase sibilna como se move e a envolvência de condução que oferece são as primeiras impressões que se recolhem nos quilómetros iniciais. O motor é equilibrado e permite extrapolar a eficácia do chassis. Trata-se de um quatro cilindros Diesel com 180 Cv de potência e uma generosa dose de força e binário — 450 Nm — que não sendo empolgantes, permitem acelerações e recuperações convincentes, assim que a ultrapassada a barreira das 2000 rpm.

A caixa manual de seis velocidades serve bem uma utilização racional do motor, não sendo preciso estar sempre a convocá-la para ultrapassagens. A única coisa menos feliz é a resposta do acelerador. Há por vezes um hiato, uma espécie de “deixa cá pensar um bocadinho” antes de se decidir a transmitir as ordens às rodas. Exatamente ao contrário da direção, que é na minha opinião, um dos condimentos mais saborosos da condução do Giulia. A resposta é incrivelmente rápida e incisiva a qualquer ordem do condutor, que deve estar preparado para lidar com uma direção que está longe de ser filtrada.

Num bom encadeado de curvas numa estrada de montanha, o volante é a nossa rédea e a sensação de controlo que a direção oferece para uma cavalgada é notável. É nas mãos que sentimos todo o equilíbrio e sensações do chassis do Giulia.

A repartição de peso entre os os dois eixos (50/50), a boa resistência à torção e às oscilações da carroçaria, mostram que o “dedinho” da Ferrari não é só conversa de marketing. É seguramente uma das berlinas mais divertidas de conduzir do mundo, capaz de atacar as curvas em alta velocidade e maior graciosidade, sem perder a compostura e, portanto, ideal para quem gosta de serpentear por estradas sinuosas em ritmo de tenor de ópera. Tudo isto sem comprometer o conforto — já que suspensão é versátil e capaz de se “transfigurar”  — e sem ser um sorvedouro de gasóleo. Mesmo em ritmo “allegro vivace”, combinando cidade, auto-estrada e estrada, fiz médias de 6 litros, o que é bastante razoável. Se como nas pizzas, o segredo está na massa, o novo Alfa Romeo Giulia mostra de que massa é feito, e é da boa.

Ficha técnica

Alfa Romeo Giulia 2.2 Diesel Super

Motor 4 cilindros 2.2 Diesel

Cilindrada 2.143 cm3

Potência 180 Cv às 3750 rpm

Binário Máximo 450 Nm às 1750 rpm

Vel. Máxima 230 km/h

Aceleração 0-100 km/h 7,2 segundos

Consumo anunciado 4,2 l/100 km

Média de ensaio 6,2 l/100 km

Emissões de CO2 109 g/km

Bagageira 480 l

Peso 1445 kg

Pneus 225/50 R17

Preço 44 400 euros

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