Ensaio Honda Civic 1.6 i-DTEC: A tática da poupança ainda funciona

28/06/2018

Um ano depois de lançar a décima geração do Civic no mercado, chegou a vez do motor Diesel passar a fazer parte da gama deste popular modelo de Honda. Uma escolha que muitos poderão olhar de lado, mas que, verdade seja dita, continua a não causar estranheza, sobretudo num segmento em que este tipo de motores continuam a dar cartas.

Se é um facto que as vendas de motorizações Diesel estão a cair na Europa, também não se pode minimizar que a sua preponderância comercial continua a ser elevada nalguns mercados, como é o caso do português, onde os carros a gasóleo ainda beneficiam de boa aceitação. Tanto mais se forem como os deste Civic 1.6 i-DTEC, com 120 CV de potência e 300 Nm de binário máximo.

O motor não é propriamente novo, mas conta com imensas melhorias a vários níveis para assim cumprir com as cada vez mais exigentes normas europeias de emissões poluentes, ao mesmo tempo que o consumo reduzido continua a ser um importante argumento. Sobre este tema, note-se que em circuito misto, a Honda anuncia um consumo médio de 3,7 l/100 km para aceleração dos zero aos 100 km/h em 10,1 segundos no caso do modelo de cinco portas. Já as emissões de CO2 cifram-se nos 95 g/km.

Tecnicamente falando

As melhorias no bloco de 1.6 lnitros Diesel incluem tecnologias de redução do atrito nos cilindros e melhorias da eficiência de conversão dos óxidos de azoto (Nox), graças à utilização de novos processos de produção, diferentes materiais e componentes de nova geração. Assim, possui uma cabeça de baixo peso em alumínio e um bloco de topo aberto também em alumínio forjado a alta pressão, minimizando o peso total do motor, tendo ainda design exterior melhorado e maior rigidez estrutural (melhorando a gestão dos níveis de ruído, vibração e aspereza). Nesta unidade revista, a cabeça do motor requer assim menos reforços graças à melhoria no arrefecimento do bloco, pelo que foi possível reduzir a espessura – e, portanto, o peso – da estrutura de alumínio (em… 280 gramas!) face à anterior geração do 1.6 i-DTEC.

Outra das novidades técnicas deste motor é a aposta em pistões de aço forjado em oposição aos de alumínio que equipavam a versão anterior. Segundo a marca, a utilização deste material melhora o arrefecimento, porque evita que a energia térmica se escape do bloco do motor e possibilita a melhoria das transferências térmicas. O método de tratamento do famigerado óxito de azoto (NOx) também foi melhorado. Tudo isso sem recurso ao tratamento de poluentes por via do aditivo Adblue.

E na estrada, sentem-se as melhorias ou não?

Em primeiro lugar, há que salientar o refinamento deste motor, limitando de maneira muito competente as vibrações, que são quase impercetíveis a bordo. Da mesma forma, a insonorização é outro ponto forte. Sobretudo, e é aí que se consegue perceber realmente o grande progresso neste campo, quando se pede ao motor que faça uma retoma de velocidade sem recurso à caixa de velocidades manual. Elástico, o bloco tem energia mais do que suficiente para fazer essa recuperação, sem queixumes, vibrações ou ruídos estridentes. Suave como poucos.

Depois, há todo um lado de eficácia que permite prestações folgadas, destacando-se pelo facto de ser um motor muito ‘redondo’ na maneira como entrega os 120 CV e os seus 300 Nm de binário (às 2000 rpm). Logo em redor das 1000-1200 rpm dá sinal de ‘vida’ e, depois, estende esse seu voluntarismo até uma faixa em redor das 3500 rpm, sempre enérgico e solícito à maior pressão do pedal do acelerador. Não é um sprinter, mas deixa uma ideia de modelo muito completo, capaz de ritmos elevados sem suar as estopinhas e, também, de manter os consumos sob controlo.

O modo ECO, que torna o acelerador um pouco mais dormente, ajuda ainda mais nesse campo, assim como o sistema start-stop (este sim, ainda a carecer de algum trabalho de refinamento), com o Civic Diesel a revelar-se uma mais-valia em termos de poupança. Seriamente, apenas conduzindo como um ‘desvairado’ ou todos os dias apenas e só nos trajetos da cidade – e aqui todos sabemos que a poupança vai às ‘urtigas’ – é que os consumos irão exceder a casa dos seis litros por cada 100 quilómetros.

No nosso ensaio, com 60 quilómetros em ambiente urbano e 40 entre autoestrada e nacionais sempre a velocidade constante (quando possível) e dentro dos limites, obtivemos uma média de 4,6 l/100 km. E nem sempre o start-stop funcionou devido ao ar condicionado necessário para não ‘assar’ em dia de maior calor (neste verão de 2018 que está a ser tão peculiar…). Ou seja, poder-se-ia ter baixado um pouco mais. Seja como for, mesmo com um ou outro dia de condução mais ‘desviante’ da tónica da poupança, é credível ambicionar-se a médias constantes abaixo dos cinco litros de média e isso é um ponto muito positivo.

Dinâmica de líder

Na dinâmica, o Civic com o motor a gasóleo partilha as mesmas credenciais dos ‘irmãos’ a gasolina, ou seja, um equilíbrio salutar entre conforto e desportividade. É por esta última vertente que a mais recente geração do Civic se demarca. Bastante preciso nas suas reações, é fácil apostar em toadas mais rápidas por percursos sinuosos, mercê de chassis muito bem calibrado (mais leve e muito mais rígido face ao modelo anterior) e de direção com ótima resposta. Graças a este conjunto, é fácil descrever trajetórias de maneira eficaz e, até, com divertimento à mistura. Mesmo com um motor de ‘apenas’ 120 CV.

O facto de ter agora suspensão independente no eixo traseiro ajuda a explicar a forma como as suas trajetórias são tão lineares, mas também o maior conforto a bordo, não deixando transparecer secura para o habitáculo. Depois, há ainda a posição de condução baixa e desportiva e a caixa de velocidades de manuseamento delicioso e escalonamento curto – embora com sexta mais longa para os consumos.

Bom habitáculo

Quanto a espaço, como é normal, quatro passageiros vão muito bem, cinco é já com algum aperto, ainda que para viagens curtas seja possível. É, assim, mais para quatro ocupantes adultos e, para esses, o habitáculo do Civic está muito bem conseguido, tanto em matéria de espaço para as pernas, como em altura interior, embora nos bancos traseiros pessoas com mais de 1,85 metros possam ter alguns constrangimentos para acomodar-se convenientemente. A bagageira merece amplo destaque, com os seus 478 litros, quase uma referência neste segmento.

Ainda por dentro, a construção volta a estar em muito bom plano, nem tanto os materiais, que destoam nalguns detalhes, alternando entre elementos macios e outros ríspidos ao tato. Nada de muito severo, porém. A instrumentação digital é uma boa adição, assim como a conjugação de elementos no sistema multimédia da consola central, que tem boa leitura, mas que tem na eliminação do botão físico de volume um óbice de difícil habituação. Ainda para mais quando pouco abaixo do ecrã está uma ‘rodinha’ que rodamos várias vezes… A da climatização… É o hábito, meus caros. A interação com os comandos no volante para o computador de bordo também exige alguma habituação. Tanta quanto o posicionamento das tomadas de USB e HDMI na consola central, num patamar inferior por debaixo da alavanca da caixa…

Elogioso é o nível de equipamento disponível neste modelo, sobretudo no que diz respeito à segurança, com o sistema Honda Sensing de série a oferecer travagem de emergência automática, alerta de desvio de faixa ou aviso de distância para o veículo da frente, além de sensores de estacionamento ou câmara traseira. Algo que ajuda a explicar o custo algo elevado de 29.450€, mas que beneficia ainda de uma campanha de desconto no valor de 4000€ que se divide entre os 2250€ da retoma do veículo antigo e 1750€ do financiamento da marca. Propositadamente, não se faltou de estilo neste ensaio: ou se gosta ou não. Nós gostamos…

VEREDICTO

O novo Civic não dispensa o Diesel e no contexto em que continua a ser importante para clientes que fazem muitos quilómetros, esta é uma opção muito válida, uma vez que alia boas prestações a uma economia muito peculiar no segmento. Podem-se também apontar atributos como o refinamento e as prestações como elementos distintivos do motor 1.6 i-DTEC, que é certamente um ótimo motor, uma evolução clara face ao motor, mesmo que a génese seja semelhante. O seu maior concorrente interno será o Civic com o motor 1.0 de três cilindros com 129 CV que também oferece ótimas prestações e preço mais baixo, mas à troca de consumos mais altos. Vale a pena fazer contas. Seja como for, um carro extremamente ágil e dinâmico que preencherá os requisitos de todos aqueles que procuram um carro que vá do ponto A ao ponto B com um sorriso.

Mais: Condução envolvente, consumos, prestações, refinamento, estilo, equipamento.

Menos: Algumas soluções do habitáculo (colocação da tomada USB, por exemplo), comandos táteis nem sempre simples, preço alto (apesar de bem equipado).

FICHA TÉCNICA
Honda Civic 1.6 i-DTEC Elegance
Motor: 4 cilindros em linha, injeção direta, turbodiesel
Cilindrada: 1597 cm3
Potência: 120 CV às 4000 rpm
Binário máximo: 300 Nm às 2000 rpm
Tração: Dianteira
Caixa: Manual, seis velocidades
Aceleração (0-100 km/h): 10,1 segundos
Velocidade máxima: 201 km/h
Consumo médio anunciado: 3,7 l/100 km
Emissões de CO2: 95 g/km
Peso: 1.340 kg
Comprimento/Largura/Altura (mm): 4518/1799/1434
Distância entre eixos (mm): 2697
Bagageira: 478-1267 litros
Suspensão dianteira: Independente, McPherson
Suspensão traseira: Independente multibraços
Preço: 29.450€ (25.450€ com campanhas)

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