Alguns poderão ‘torcer o nariz’ à ideia de uma motorização híbrida Plug-in com base num bloco a gasóleo. Mas isso é porque não conhecem a variante PHEV do renovado Classe E em formato 300de com autonomia elétrica em redor de 50 quilómetros e elevadíssima componente tecnológica. A ensaio está então a versão carrinha (Station) do renovado Classe E, que tem diversos méritos, incluindo os da tecnologia, como veremos mais à frente.

Ao ritmo dos novos sons da indústria automóvel, a Mercedes-Benz prepara a sua conversão total para a eletrificação, mas na transição continua empenhada em oferecer algo para cada um dos seus clientes. Daí que na renovação do Classe E, introduzida no mercado nas últimas semanas, o modelo germânico tenha mantido as suas variantes plug-in a gasolina (E 300e) e a gasóleo (E 300de), sendo esta última uma opção em total contraciclo com as demais marcas automóveis, que atualmente tendem a ostracizar o Diesel.

Mas, esta é ainda uma solução tremendamente válida e o Classe E renovado prova precisamente isso mesmo, com recurso a uma combinação do eficiente motor 2.0 de 194 CV e 400 Nm de mais recente geração com um motor elétrico de 90 kW/122 CV e 440 Nm. Combinados, os dois oferecem uma potência máxima de 306 CV e um binário máximo de 700 Nm, com gestão por uma caixa automática de nove velocidades 9G-Tronic.

Ao volante, com arranque em modo elétrico por defeito, sobressai uma ideia de refinamento e de enormíssima solidez de condução, numa ideia de que esta carrinha preenche diversos requisitos para uma utilização quotidiana – a suavidade de utilização, a precisão dos comandos, com destaque para uma afinação ótima da direção e uma entrega da potência moderada mas eficaz graças ao binário elétrico. Moderadamente realista, pode-se apontar a uma condução em modo elétrico na ordem bem superior a 60 quilómetros, com o motor elétrico a auxiliar o motor de combustão amiúde, mesmo quando a carga da bateria de iões de lítio de 13.5 kWh chega ao fim.

Ou seja, continuamente em modo elétrico, poderá utilizar até 50 quilómetros no modo dedicado ‘Electric’, mas mesmo não carregando o veículo numa tomada (sendo essa uma utilização completamente disparatada para um plug-in…), o motor elétrico vai dando uma ajuda frequente graças à energia que recupera na condução, durante as desacelerações ou em travagem.

Podemos, então, olhar para a questão da utilização desta carrinha plug-in por dois prismas diferentes – por um lado, com a eficiência de um Diesel que tem o auxílio frequente de uma motorização elétrica (resultando num consumo médio na casa dos 4 litros), melhorando a sua eficiência geral mas, por outro, com o motor elétrico a assumir o comando das operações para cortar emissões e consumos e recorrendo-se ao carregamento frequente das baterias, pode-se baixar para um consumo médio a rondar os dois litros. No caso do nosso ensaio, com os 50 quilómetros em pleno da bateria elétrica utilização posterior ocasional do modo elétrico (já sem a carga de bateria completa), obtivemos 2,6 l/100 km no total de 100 km, o que não deixa de ser um ótimo valor, mesmo que não idêntico ao anunciado pela marca alemã.

Quando ambos os motores trabalham em conjunto, nota-se uma maior intensidade de resposta e prestações mais fortes, aproximando-se de sensações desportivas, ouvindo-se a mecânica Diesel como ‘banda sonora’ de fundo – nada intrusiva graças à boa insonorização operada pelos engenheiros da marca de Estugarda (exceto em acelerações mais fortes de acelerador a fundo), mas presente. O consumo energético da bateria elétrica foi de 8.6 kWh/100 km.

Na variante carrinha, a condução é particularmente bem conseguida, fruto também das melhorias operadas ao nível do chassis pela Mercedes-Benz, com uma sensação de rigidez estrutual elevadíssima e agilidade que oculta bem o seu peso acima das duas toneladas. A direção precisa e com bom feedback ajuda a percorrer percursos sinuosos com equilíbrio e neutralidade, mostrando-se fiel companheira para todos os ritmos. Aliás, existe mesmo uma sensação de completa solidez geral desta Classe E carrinha, que sobressai tanto em mau piso como em estradas serpenteantes. Apenas a atuação do pedal do travão na sua parte inicial do curso é algo artificial, antes de, enfim, travar de forma mais mordaz.

Resta ainda apontar a existência de modos diferentes de condução, com base no sistema ‘Dynamic Select’ da Mercedes-Benz, que variam diversos parâmetros como a integração dos motores e as suas respostas, a atuação da caixa de velocidades ou a assistência da direção, havendo a destacar os modos ‘Eco’, que é o mais eficiente’, ‘Sport’, que conjuga os dois motores para respostas mais imediatas, ‘Comfort’ para toadas de longo curso e mais dois que são particulares desta versão, ou seja, o ‘Electric’, que força o modo elétrico sempre que a bateria tenha carga disponível e o ‘Battery Level’, que reserva a carga da bateria existente na bateria para uma utilização posterior, ao mesmo tempo carregando a bateria com recurso ao motor de combustão. Jogar com estes modos também é vantajoso consoante o estilo de condução pretendido.

Além disso, vale a pena notar que o renovado Classe E conta com um radar de proximidade dianteiro, útil para o cruise control adaptativo e que, mesmo em condução humana (à falta de melhor termo para definir o controlo manual), analisa a distância para o veículo precedente e retira velocidade, assim recarregando também a bateria quase de forma despercebida.

Na hora de carregar as baterias, através de uma tomada de carga situada no canto traseiro direito, no para-choques (longe de ser uma solução ideal pela propensão de toques a estacionar, por exemplo), o condutor/utilizador pode recorrer a uma ‘wallbox’ ou à tomada doméstica comum (230 V), com tempos de espera distintos. O E 300de surge equipado com um carregador de bordo de 7.4 kW, garantindo um tempo de carregamento completo da bateria em redor de duas horas e meia numa ‘wallbox’ ou cinco horas quando ligado à tomada doméstica de uma garagem, por exemplo.

Imagem rejuvenescida

Lançado em 2016, o Classe E sofreu a sua primeira grande renovação estética, dispondo de diversas novidades, a começar pelo design, que está mais dinâmico, sobretudo com os grupos óticos redesenhados (na dianteira, os faróis são Full LED de série, com a tecnologia Multibeam LED disponível como opção da unidade ensaiada (integrado aqui no Pack Premium Plus por 6500€, controlando os máximos de forma adaptativa), o mesmo se aplicando à grelha do radiador e aos para-choques. Além disso, a Linha AMG (3100€) aplicada nesta unidade torna a aparência ligeiramente mais desportiva, juntamente com sistema de travagem com discos maiores no eixo dianteiro, sendo uma opção valiosa para quem aprecia o visual dinâmico. Do lugar do condutor, um dos pontos de design mais interessantes é o de se conseguirem observar as duas saliências no capot, que remetem para modelos de carácter vincadamente mais desportivo, como os que são assinados pela AMG…

No interior, a marca reforçou a sua aposta no conforto e na funcionalidade. Tecnicamente, dispõe de dois ecrãs digitais ligados entre si, com 12.3 polegadas (sendo um opcional face aos ecrãs de 10.25″ de série). O sistema MBUX estende-se agora também ao Classe E, com comandos por voz (incluindo assistente virtual que responde ao chamamento ‘hey Mercedes’) e possibilidade de realidade aumentada, numa evolução continuada desta tecnologia que se estreou no Classe A. O volante também tem um novo desenho, com três raios duplos e comandos táteis, que são funcionais e fáceis de operar. Juntamente com a personalização dos ecrãs – tanto o de instrumentos, como o de infoentretenimento com menus específicos à versão híbrida -, a noção tecnológica do renovado Classe E é bastante elevada e confere uma outra importância a este executivo.

A qualidade de construção é referencial, embora em termos de design se note que este é ainda um modelo de anterior geração pela configuração da consola central e das suas teclas de atalho. Mas isso não invalida que o Classe E seja um modelo brilhantemente acolhedor para quatro adultos, com cotas de habitabilidade muito interessantes atrás, sobretudo para as pernas dos ocupantes e em altura – nem tanto no lugar central, com um túnel central avantajado. Além do custo dos opcionais, há apenas mais uma crítica que se lhe pode fazer de forma contundente, sendo preciso olhar para a bagageira para encontrar um ‘degrau’ inestético e pouco funcional que rouba espaço de bagagem. A explicação também é simples: a bateria vai montada naquele local, pelo que houve uma redução dos 640 litros da versão meramente alimentada por um motor de combustão para os 480 litros desta versão plug-in.

Face ao proposto, a versão E 300de base tem um custo de 72.550€, mas os muitos opcionais elevam-no para 83.950€ da unidade ensaiada.

VEREDICTO

Para a Mercedes-Benz, o caminho da estratégia de eletrificação assente na filosofia EQ Power propõe o aproveitamento das virtudes dos motores elétricos para uso em cidade em paralelo com a eficiência dos Diesel que permitem autonomias superiores a 900 quilómetros. O E 300de é um ótimo representante dessas virtudes, não só porque otimiza a eficiência das mecânicas turbodiesel, reduzindo-lhe também a pegada ambiental, mas porque pode ser visto como uma solução que permite o melhor de dois mundos. A eficiência do sistema elétrico é muito boa, auxiliando de maneira convincente a mecânica de combustão tanto nas prestações, como na questão dos consumos e emissões.

Quando em modo elétrico, a autonomia de 50 quilómetros declarada é realista e permite deslocações com suavidade, permitindo que o condutor se desloque no dia-a-dia sem recorrer ao motor de combustão. Associada a uma condução de pose refinada que não se escusa a ritmos mais altos com segurança e estabilidade, o E 300de é um daqueles modelos que preenche todos os requisitos. Mesmo os mais exigentes, numa prova de que a eletrificação do Diesel também tem méritos. Embora apenas a Mercedes-Benz se atreva a demonstrá-lo…

MAIS
Eficiência geral
Módulo elétrico eficaz
Sistema MBUX e vertente tecnológica
Habitabilidade para quatro
Consumos

MENOS
Custo dos opcionais
Degrau na bagageira

FICHA TÉCNICA

Mercedes-Benz Classe E 300 de Station
Motor térmico Diesel, 4 cilindros em linha, 1950 cc, inj.direta, TGV, intercooler
Potência 194 CV às 3800 rpm
Binário 400 Nm entre as 1600-2800 rpm
Motor elétrico Síncrono permanente
Potência 122 CV/90 kW
Binário 440 Nm
Bateria Iões de lítio, 13.5 kWh
Autonomia elétrica 50 km
Potência combinada 306 CV
Binário combinado 700 Nm
Transmissão Tração traseira, caixa automática de 9 vel.
Velocidade máxima 250 km/h
Aceleração 0-100 km/h 6,0s
Consumo médio WLTP 1,3 l/100 km
Emissões CO2 WLTP 35 g/km
Dimensões (C/L/A) 4945/1852/1476 mm
Distância entre eixos 2939 mm
Peso 2145 kg
Bagageira 480-1660 litros
Pneus 245/45 R18 (frente) – 275/40 R18 (atrás)
Preço base 72.550 €

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.