Apontar o primeiro SUV da era moderna é um pouco como tentar encontrar a resposta à adivinha do que apareceu primeiro – o ovo ou a galinha. Mas o que parece incontornável e imune a qualquer dúvida é que pertence ao Nissan Juke o estatuto de grande instigador da autêntica moda que hoje se vive com os SUV mais pequenos, de segmento B, além de ter lançado algumas outras modas.

Distante no tempo, o Qazana Concept deixou muita gente surpreendida com o arrojo da Nissan ainda em 2009, poucos anos depois de ter mostrado ao mundo como se fazia um SUV bem-sucedido na forma do Qashqai. E teria sido tão fácil à equipa de design do Juke replicar as linhas do Qashqai para o modelo mais pequeno. Mas a marca quis arrojar e os dividendos foram muitos.

No jantar de apresentação internacional do novo Juke, que decorreu no final do ano passado em Barcelona, o diretor do Centro de Design europeu da Nissan, Matt Weaver, recordou como a reação estranha à imagem do Juke em 2010 se converteu em tendência, sendo isso também um claro sinal da sua importância.

“Quando viram o desenho do primeiro Juke, algumas marcas riram-se da frente com os dois grupos óticos separados. Hoje, uma delas utiliza bastante aquele estilo…”, contou Matt Weaver, gracejando sobre o impacto que o peqeuno SUV teve na marca e no próprio mercado europeu, pois criou um sub-segmento tão importante que, atualmente, não estar nele é perigoso em termos de resultado de vendas.

Passados cerca de dez anos, o Juke regressa num formato semelhante para uma geração inteiramente nova, tentando manter os mesmos predicados de originalidade e irreverência, mas melhorando aquilo que tinha de menos emocionante – a funcionalidade.

Extrovertido

Foi precisamente a pensar na melhoria da sua funcionalidade que os engenheiros da marca começaram por talhar todos os seus elementos, do desenho à composição, com recurso à plataforma CMF-B, que é a mesma do Renault Captur.

Assim, cresce notoriamente face ao anterior Juke, algo que fica de imediato percetível pela maior largura e pelo maior comprimento, o que lhe dá mais espaço nos bancos traseiros, sobretudo para a colocação das pernas (merecendo também destaque pela altura ao tejadilho), e no capítulo da bagageira (422 litros). Ou seja, a sua habitabilidade melhorou bastante e quatro adultos podem viajar de forma confortável mesmo em percursos mais longos. A largura interior continua a não ser brilhante, mas, em contrapartida, entrar e sair dos lugares traseiros é bem mais fácil.

Os materiais interiores estão também a um nível superior do que no modelo anterior, com superfícies macias ao toque e, no caso da variante N-Design Chic, até com um revestimento em camurça no tablier para uma aparência mais… chique. Enfim, verdadeiramente uma evolução. De resto, comandos simples no habitáculo, com o ecrã tátil de 8.0″ bem no topo da consola central, de manuseamento simplificado e acesso à navegação e conectividade aos smartphones. A visibilidade é boa e não nos pareceu muito suscetível de dificuldades de visualização com os brilhos.

O condutor beneficia de um misto de instrumentação analógica e ecrã central TFT de 7″ que oferece informações essenciais.

As linhas exteriores, por seu turno, mantêm-se como um dos atributos mais fortes do Juke. Assim, em destaque na dianteira, uma aproximação à nova imagem da marca, com a grelha ‘V-Motion’ a envolver-se com as luzes diurnas em LED na parte superior e a iluminação principal (também em LED, de série) na parte inferior e com uma assinatura em ‘Y’, prosseguindo assim com a tendência de separação nos grupos óticos. A imagem agressiva prossegue na traseira e no perfil mais ao jeito de um coupé, reforçado pelos vincos fortes acima das cavas das rodas e pelos próprios ‘ombros’ largos que albergam jantes até 19 polegadas, como é o caso na unidade ensaiada.

Com o aumento de dimensões o peso não se descontrolou. Antes pelo contrário. Com um comprimento de 4210 mm, altura de 1595 mm e largura de 1800 mm, o novo Juke consegue ser 23 kg mais leve graças à utilização de aço de resistência ultra elevada. A distância livre ao solo também aumentou, sendo agora de 179 mm, mas não se entusiasme com a ideia de passeios fora de estrada.

Adepto dos bons caminhos

Embora fosse um SUV elogiado pelo lado da condução, ao Juke anterior faltava algum cuidado na passagem por maus pisos, algo que esta nova versão corrige, embora as jantes de 19 polegadas não permitam explorar essa competência na totalidade. Se ajudam à robustez estética e ao dinamismo em curva, acarretam também alguma sensação de firmeza em estradas mais estragadas. E, sendo um tração dianteira, também não vale muito a pena pensar em levá-lo para maus caminhos. Ainda assim, regra geral, saliente-se o seu equilíbrio geral em termos de dinamismo e de conforto.

Ora, como se percebeu, beneficiando também da maior distância entre eixos, o Juke é eficaz a curvar com rolamento da carroçaria pouco notório e direção precisa, permitindo elevada estabilidade direcional. Essa sua melhorada vertente dinâmica permite, assim que o Juke aborde qualquer tipo de percurso com renovada confiança, seja numa estrada de montanha, seja na cidade, onde mantém a sua reconhecida agilidade.

No capítulo motriz, sempre com tração dianteira, o motor 1.0 DIG-T de 117 CV de potência, 200 Nm de binário, turbo e de três cilindros, pode ser associado a caixa manual de seis velocidades ou a automática de dupla embraiagem de sete velocidades (concebida pela Getrag), que aqui é proposta a ensaio. A mecânica tricilíndrica cumpre perfeitamente com as pretensões da marca japonesa, sem aportar consigo grandes anseios desportivos, mesmo quando associado à caixa automática, que merece elogios pela suavidade no aproveitamento do binário disponível.

Possibilitando boas prestações de uma forma geral, este motor de nova geração oferece boa entrega e ótimo refinamento, mitigando as vibrações e os ruídos com muita eficácia. A caixa automática de dupla embraiagem DCT7 permite condução muito satisfatória, valendo-se da sua suavidade de funcionamento na generalidade das ocasiões.

A aceleração dos zero aos 100 km/h cumpre-se em 11,1 segundos (face aos 10,4 segundos da variante de caixa manual), mas a sensação que oferece é de que o faz mais rapidamente do que os números anunciam. Para condução mais dinâmica, as patilhas atrás do volante dão-lhe uma emotividade suplementar, ainda que falte um seletor ‘M’ para que essa tarefa fique exclusivamente a cargo do condutor.

Destaque ainda para os modos de condução que, respondendo a um dos desejos dos engenheiros da Nissan, alteram de forma notória a rapidez de resposta do acelerador e o nível de assistência na direção, podendo ficar mais ‘pesada’ no modo ‘Sport’, um dos três que estão à disposição do condutor, a par do ‘Standard’ e do ‘ECO’, este último tornando as respostas ainda mais suaves em prol da eficiência, mas também tornando o bloco um pouco mais amorfo às solicitações do condutor, mais evidente pelo acerto mais longo das relações mais altas da caixa de sete velocidades. Reação que também experimentámos, não pela positiva, foi a de alguma brusquidão no momento de arrancar após paragem momentânea, sendo, felizmente, ocasião rara.

Ainda no capítulo da condução, demarca-se pela boa visibilidade geral e pelo competente entrosamento com o condutor, que tira partido de boa posição de condução (mais baixa do que por exemplo no ‘primo’ Captur), com volante de base plana e bancos com encosto de cabeça integrado, permitindo bom apoio do corpo, para uma experiência muito agradável, comprovando a grande melhoria feita em todos os sentidos pela Nissan.

Com preço base de 19.900€, o Juke beneficia de campanhas promocionais que tornam o preço da versão de acesso – Visia – bem mais apelativa: 17.150€. No caso da versão ensaiada, será preciso despender um pouco mais. A N-Design Chic tem um custo de 23.800€ quando associada a caixa automática e de 22.200€ com caixa manual, pelo que compensará testar uma e outra para perceber se a caixa manual pode ser melhor negócio. Nós gostámos do funcionamento da unidade DCT7. Nota ainda para a extensa lista de equipamento nesta versão, que justifica o preço, nomeadamente pelos diversos sistemas de segurança avançados.

VEREDICTO

O Juke, que foi um dos precursores da tendência de transformação dos modelos de segmento B em SUV ainda no início da década, evolui para uma nova geração com ganhos significativos nas dimensões, no espaço a bordo e na vertente tecnológica, ao mesmo tempo que mantém a imagem tão irreverente e única que o destacou no passado.

A opção única de um motor nesta fase pode ser limitativa e não se adaptará a todos os tipos de utilização, como por exemplo para quem pretende um companheiro para viagens mais longas, mas a Nissan entende que este bloco de 117 CV é um equilíbrio adequado entre prestações e consumos. Desfazendo os temores de falta de energia, o motor é mais do que suficiente para uma condução agradável e competente, em linha com a própria imagem do Juke.

Em boa verdade, o Juke encheu-nos as medidas e a razão é simples: este é um modelo evolutivo, levado no sentido certo pela Nissan, que agora não precisava de revolucionar, mas antes evoluir a receita original de irreverência. Se dúvidas existissem, o Juke está maior e melhor. Pronto para nova batalha no segmento. E para tornar a marca japonesa numa das forças do mercado.

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