A nova geração do Opel Corsa é também a primeira a estar disponível com três tipos de motorização, juntando-se uma versão 100% elétrica às já convencionais gasolina e Diesel. A difusão da tecnologia é cada vez maior e há cada vez mais concorrentes no mercado, mas este novo modelo da marca de Rüsselsheim tem um ótimo prognóstico – é dos melhores elétricos disponíveis atualmente.

A receita para este arranque na era da eletrificação é dada com recurso às ‘ferramentas’ do Grupo PSA, sobre as quais foi edificada esta nova geração do Corsa, a começar pela plataforma CMP, partilhada com o Peugeot 208, por exemplo, mas também a própria componente técnica, com uma unidade motriz elétrica de 100 kW, ou seja, mais familiares 136 CV de potência.

Mas isso não quer dizer que sejam faces da mesma moeda. Na verdade, mesmo com as suas semelhanças ‘parentais’, o Corsa e o 208 são ‘filhos’ bem diferentes, a começar pela imagem. O Corsa é mais clássico, talvez até um pouco mais racional nas suas proporções, muito bem desenhadas num desafio que foi ‘atirado’ à equipa de design da Opel aquando da aquisição da marca alemã pelo Grupo PSA com a consequente decisão de redesenhar o utilitário de segmento B.

Por isso, o Corsa-e é robusto e parece musculado, numa identidade que a cor laranja metalizada da unidade ensaiada reforça. Por dentro, há uma maior colagem a outros modelos da PSA, patente nos diversos comandos e botões como o dos modos de condução ou o próprio sistema de infoentretenimento, assente em ecrã tátil de 10 polegadas (embora as molduras negras lhe retirem espaço de visionamento). Porém, diferencia-se nos comandos da climatização, posicionados de forma independente na consola central, e pelo novo painel de instrumentos digital de 7″, que pode ser configurado nalguns parâmetros, mesmo sem a variedade de alguns rivais – vide o 208.

Mas, acaba por ser um ambiente muito bem conseguido, pese embora sóbrio, que prima pelo rigor de construção. Pelo lado menos positivo, algum excesso de plásticos no habitáculo, ao passo que a habitabilidade é positiva, mas longe de ser referencial, sobretudo nos lugares traseiros. Nesses dois lugares, dois adultos de estatura média (até 1,80 m) viajam com relativo desafogo, valendo-lhe boas cotas longitudinais (para as pernas) e em altura, mas o que menos agrada acaba por ser a entrada e a saída desses lugares, uma vez que a abertura é apertada – um constrangimento do desenho desportivo.

Também a bagageira é menos volumosa no novo Corsa-e, passando a ser de 267 litros, uma exigência da colocação de componentes do sistema elétrico na zona traseira. Seja como for, o Corsa-e agrada na sua vivência a bordo, apesar de alguns detalhes melhoráveis.

 

Dinâmica exemplar

A vertente técnica deste Corsa-e é pautada por um motor elétrico de 100 kW/136 CV de potência (260 Nm de binário máximo), alimentado por uma bateria de iões de lítio de 50 kWh, com refrigeração líquida, o que lhe garante maior eficiência na gestão térmica, sobretudo na admissão de carregamentos rápidos. É ela, com 345 kg, que torna o Corsa-e mais pesado do que todos os outros Corsa da gama, mas permite, em troca, um centro de gravidade mais baixo devido ao seu posicionamento em posição muito baixa. E porque é que isso importa?

Porque os 57 mm de redução no centro de gravidade tornam o Corsa-e num modelo muito divertido de conduzir. As oscilações laterais da carroçaria são contidas, mesmo em passagens de curva mais rápidas, e a direção ganha outra precisão num conjunto que se mostra muito satisfatório. Com efeito, é ágil, responde bem e parece obedecer sempre com afinco às ordens do condutor. Perderá alguma da sua bem-vinda agilidade já observada nos Corsa de combustão, mas terá ainda a seu favor a imediatez da resposta do motor elétrico, com os seus 260 Nm de binário a permitirem retomas rápidas e acelerações muito fortes.

Vale também a pena notar que o Corsa-e beneficia de diferenças no chassis, como por exemplo a suspensão dianteira com um acerto reformulado, além de reforços estruturais que permitem também aumentar a sua resistência torsional. Eis a razão para a tal compostura em curva da parte do Corsa-e. Mas, convém igualmente notar que o amortecimento pende ligeiramente para uma maior firmeza – não desconfortável, mas passando para o interior muitos dos desníveis e irregularidades do piso.

As prestações são muito boas, sobressaindo mais até fora da cidade do que nessa, onde, como é habitual, os elétricos partem com ímpeto e intensidade. Em vias rápidas ou até em autoestrada, este Opel mexe-se com energia e competência, chegando aos 120 km/h com destreza e mantendo essa velocidade sem grande esforço.

Surpresa no consumo energético

Mas é também a perceção de que o Corsa-e é muito eficiente na sua gestão energética que permite ainda adotar postura mais arrojada em percursos sinuosos. Com uma condução quase banal – sem adaptação excessiva do ritmo, mas recorrendo frequentemente à importante função ‘B’ da alavanca da caixa (que incrementa a força de regeneração da energia e a desaceleração) – pudemos obter uma média de consumo de 12.1 kWh/100 km.

No ensaio foram percorridos 268 quilómetros, com uma velocidade média de 33 km/h e a carga restante na bateria apresentava ainda autonomia para 130 quilómetros. Ou seja, também com a ajuda do modo de condução ‘ECO’, que limita a performance e o sistema de climatização, teria as condições necessárias para superar os 337 quilómetros de autonomia homologada em ciclo WLTP, o que é muito elogioso.

Já numa condução em que o modo ‘Sport’ é utilizado de forma mais frequente – sentindo-se assim que é ativado um impulso por parte do motor, como se houvesse um ligeiro ‘kickdown’ – a média tende a subir para os 15-16 kWh/100 km. Porém, em nosso entender, o modo ‘ECO’ ou o ‘Normal’ são os que melhor permitem viver com este Corsa-e e permitem obter autonomias reais na casa do que a marca promete ou até superá-la em condições ideais de condução e temperatura.

No momento de carregar, a opção por tomadas domésticas de 230 V é último recurso, pois, como experimentámos, o Corsa-e carrega a 6 km/hora, sendo preciso cerca de 25 horas para se obter uma carga completa. Pouco prático, portanto. De série, o Corsa-e conta com um carregador de bordo monofásico de 7.4 kW, dispondo opcionalmente de uma unidade com 11 kW, que lhe permite, isso sim, tirar o máximo partido de uma ‘wallbox’. Melhor só o carregamento rápido em DC a 100 kW, que lhe permite carregar de zero a 80% em meia hora.

O utilizador tem a possibilidade de configurar opções de carregamento a partir do veículo ou consultar o processo na aplicação para smartphone ‘MyOpel’.

Sendo também mais dispendiosa do que os Corsa de motor convencional, este elétrico admite equipamento volumoso, havendo no caso da unidade ensaiada e-Elegance adições interessantes (a pagar) como o sistema de iluminação Matrix LED, uma raridade no segmento, que torna a condução noturna mais segura, ou o travão de estacionamento elétrico, além de um segundo cabo de carregamento (‘Mode 3’) para ‘wallboxes’ e postos de carga rápidos (opcional por 340€). O Corsa-e pode ser encomendado com preços a partir dos 29.990€ na versão mais acessível e-Selection, sendo a ensaiada e-Elegance a de topo por 32.610€, a que se juntam ainda opcionais como as jantes aerodinâmicas de 17″ por 350€, o Pack Premium, que inclui o carregador de telemóvel sem fios, Pack visibilidade, entrada e arranque sem chave e rádio com ecrã de 10″ com navegação e gráficos HD por 1200€ e os faróis de matriz LED, um extra muito recomendável por 600€. No final de contas, pela unidade das imagens, seria preciso desembolsar um pouco mais de 35.000€.

VEREDICTO

O Corsa-e é uma novidade absoluta na gama da Opel, mas assume-se também como uma proposta válida para quem busca um elétrico para mais do que apenas a vida urbana. Mesmo com um preço ainda algo dissuasor, que pode ser compensado depois ao longo da vida útil e nos custos de utilização, o Corsa-e mantém as premissas de dinamismo e diversão de condução do Corsa com motores de combustão, mas adiciona uma dimensão nova de consolidação da aposta na eletrificação.

O sistema motriz está bem desenvolvido, oferecendo boas prestações e boa eficiência geral – os consumos podem mesmo surpreender pela positiva -, enquanto o chassis está muito bem calibrado para lidar com a conversão elétrica.

A habitabilidade nos lugares traseiros não é fantástica, mas é um pequeno preço a pagar pelo visual dinâmico e robusto, acabando por ficar na média do que o segmento oferece em termos de espaço a bordo.

MAIS

Qualidade geral

Aprumo dinâmico

Prestações e eficiência

Menos

Algum excesso de plásticos rijos no interior

Acesso e saída aos lugares posteriores

Bagageira

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