Ensaio Peugeot 308 SW 1.2 Puretech: Porque não a gasolina?

24/11/2017

Carro Europeu de 2014, o Peugeot 308 foi alvo de uma atualização recente que o deixou a par da concorrência que entretanto foi chegando com a ambição de reinar naquele que não deixa de ser um dos segmentos mais importantes da Europa, o dos familiares compactos.

Mantendo uma boa parte dos (bons) predicados que tornaram este ‘leão’ num dos modelos mais elogiados do segmento, o 308 recebe uma série de novidades estéticas que o mantêm em linha com o resto da gama, da qual os novos 3008 e 5008 são exemplos de uma nova linguagem de estilo, capaz de conciliar elegância com agressividade.

Neste capítulo, não nos alongando em demasia, importa reter que existe uma nova grelha, capot esculpido e esguio e uma nova assinatura LED que lhe dá mais presença. Na traseira, a luz permanente com três ‘garras’ a simularem as do leão que dá ânimo à marca, são o elemento mais chamativo, havendo ainda retoques ligeiros no para-choques. Como se percebe, as mudanças estéticas no exterior são curtas, mas nem por isso insignificantes. Cumprem com o objetivo de manter este modelo atual, havendo até uma sensação de grande robustez quando se olha para a carrinha, que conta com uma versão mais longa da plataforma utilizada no 308 (mais 11 cm na distância entre eixos).

Isso equivale a mais espaço no interior, como seria de esperar face ao 308 compacto, permitindo-lhe dessa forma ser mais amplo e competente no transporte de todos os ocupantes. Atrás, há amplitude suficiente para as pernas e em altura o 308 SW também se sai muito bem, permitindo-se até a levar três adultos (com algum aperto) nos bancos posteriores. Capítulo em que se sai muito bem é também no volume da mala, que é de 610 litros (aproveitando o espaço sob o piso da mala), que permite levar uma imensidão de carga para as férias.

Para quem procura espaço para a família, o 308 SW assume-se como uma escolha muito apreciável neste segmento, até porque oferece bons espaços para arrumação no habitáculo (ainda assim, poderia ser melhor) e uma vertente familiar bem mais valiosa do que o modelo de cinco portas.

Cockpit evoluído e com qualidade

Também ao nível dos materiais e da construção, o novo 308 tem uma qualidade muito elevada, apostando em boas soluções, com um visual muito minimalista, com pouquíssimos botões. Felizmente, o comando do volume mantém-se no campo dos botões rotativos e não transitou para o ‘lado negro’ dos comandos táteis… Bem a propósito, o ‘leão’ familiar tira partido de um sistema multimédia atualizado, mantendo um ecrã tátil de 9.7 polegadas (agora capacitivo, logo mais preciso e funcional). O software do sistema também surge melhorado e em linha com o que se pode encontrar noutros modelos, como o 3008. Simples de utilizar, concentra a grande maioria das funcionalidades, como os do ar condicionado, que acabam por causar alguma distração. Não é caso único deste Peugeot, uma vez que a grande maioria da indústria ruma neste sentido.

A energia deste motor 1.2 Puretech surpreende, sobretudo nas recuperações, onde a sua elasticidade fica bem à vista. A caixa EAT6 está bem concebida e é amiga do condutor.

A disposição do tablier segue aquilo que a Peugeot denomina ‘i-cockpit’, uma evolução do conceito estreado no 208 e 2008 e que ainda não tem a configuração mais atual utilizada nos mais recentes 3008 e 5008. Assim, ao contrário destes, ainda obriga a encontrar um compromisso para que o volante não fique a tapar a instrumentação, o que passa, na grande generalidade das vezes, por ajustar o volante para baixo. Por outro lado, mantém-se então os elevados padrões de construção interior, como já atrás foi indicado.

Admirável motor turbo

Para esta revisão de gama, a Peugeot manteve-se fiel aos seus motores eficientes, em que um dos destaques é este 1.2 Puretech a gasolina com 130 CV de potência. A sonoridade é típica de um motor tricilíndrico, sendo mais evidente em velocidades muito baixas, mas em ritmos mais elevados há que elogiar o bom trabalho feito pela marca francesa no refinamento desta unidade.

Mas não é o som que realmente interessa. São as prestações. Enérgico, redondo e com uma enorme capacidade de reação perante a maior pressão no acelerador, este 1.2 Puretech ganha ritmo de forma muito eficaz, mostrando-se à vontade tanto em cidade, como em autoestrada. Associado a uma caixa automática de seis velocidades (EAT6), o Puretech ganha então um outro registo ainda mais eficaz, com passagens de caixa rápidas e maior aproveitamento dos seus 230 Nm de binário às 1750 rpm, mas que muito antes já se consegue extrair em muito boa medida. No modo manual da caixa, que permite grande liberdade ao condutor, pode-se assumir o controlo da situação. E, mesmo quando se arranca em 2ª velocidade o motor responde sem queixumes à solicitação, o que também atesta a relativa liberdade que a programação eletrónica da caixa oferece ao condutor, o que nos dias que correm é quase atípico (note-se que muitas das caixas automáticas, mesmo quando colocadas em modo manual-sequencial conseguem ser ainda muito interventivas…).

Eis os méritos deste motor, altamente competente e uma opção muito interessante para um segmento e formato que, tradicionalmente, são dominados por motorizações Diesel. Por outro lado, a par da sonoridade característica, sentem-se igualmente algumas vibrações provenientes do motor, uma vez mais de maior notoriedade a baixa velocidade ou no para-arranca da cidade. O consumo anunciado de 4,9 l/100 km é muito mais utópico do que atingível, sendo bem mais fácil rodar em médias entre os 6 e os 7 litros por cada 100 quilómetros. Destaque para o sistema start-stop com funcionamento aprimorado. No nosso ensaio, obtivemos um registo de 7,1 l/100 km.

Nota também muito positiva para o comportamento dinâmico, com uma contenção muito eficaz das oscilações da carroçaria em curva, mas sem que afete o conforto severamente, mesmo com as jantes de 18 polegadas que equipam esta versão GT Line. Efeito de um bom chassis, muito bem concebido com uma direção bem ‘acertada’ e uma suspensão desenvolvida a pensar no equilíbrio entre conforto e dinamismo. O facto de também ter um motor mais ligeiro do que a unidade Diesel ajuda no propósito de manter uma dinâmica muito composta e ‘certinha’ que pode ser explorada para ritmos fortes quando assim for desejado. Apenas não se lhe pode atribuir o desígnio de divertido (a versão GT cumpre melhor esse papel), mas é um fiel cumpridor.

O segredo tecnológico

Nesta renovação, a Peugeot coloca o foco no reforço tecnológico, sobretudo ao nível da segurança, com algumas soluções já vistas nos 3008 e 5008 a chegarem ao 308. Assiste-se, pois, à chegada do Distance Alert com Active Safety Brake (que é como quem diz Aviso de Proximidade do Veículo da Frente com Travagem de Emergência Autónoma), Alerta Ativo de Transposição Involuntária de Faixa, Sistema de Deteção de Fadiga, Assistente Automático de Máximos, Reconhecimento dos Sinais de Velocidade e de Recomendação, Cruise Control Adaptativo com Função Stop e o Sistema Ativo de Vigilância do Ângulo Morto.

A versão GT Line, além do aspeto mais desportivo, traz consigo um conjunto muito eficaz de equipamentos (como o cruise control, ajuda ao estacionamento dianteiro e traseiro, ar condicionado automático bi-zona, faróis dianteiros Full-LED com DRL específicos, entre outros elementos) que compensa o custo já acima dos 30.000 euros. Contudo, para quem quiser aceder a este motor de forma mais ‘poupada’, poderá fazê-lo com a versão de equipamento Active com caixa manual de seis velocidades, com um preço de entrada de 26.290€. Este mesmo motor, mas em opção de 110 CV, também está disponível. Em relação ao preço, muitos poderão torcer o nariz ao facto de se estar a dispender tanto dinheiro por um ‘mero’ 1.2 de três cilindros, mas vale a pena lembrar que este é um tricilíndrico que está ‘anos-luz’ à frente de propostas 1.4 e 1.6 atmosféricas que povoavam o segmento num passado não muito longínquo… Ou seja, é o preço da evolução.

VEREDICTO

A proposta de uma motorização a gasolina para uma carrinha familiar pode parecer descabida, mas analisando aquilo que o 308 SW 1.2 Puretech oferece, vemos um caso muito forte. Pujante e muito voluntarioso nas prestações, mais silencioso do que um Diesel e com um preço de partida mais baixo do que a correspondente versão a gasóleo, este é um motor repleto de boas credenciais, sendo apenas ‘traído’, em comparação com o Diesel, pelo consumo mais elevado e pelos valores de retoma ainda menos aliciantes (o que também tem vindo a mudar).

É, por seu mérito, um modelo perfeitamente adequado para uma pequena família, com espaço atrás e uma bagageira que revela grande capacidade, mesmo que já não tenha a versatilidade de remoção de bancos do anterior 308 SW. Mesmo não mudando por aí além, o renovado Peugeot 308 SW é um bom exercício de qualidade geral e capaz de ombrear facilmente com as carrinhas Renault Mégane, Opel Astra, Volkswagen Golf ou Hyundai i30.

FICHA TÉCNICA

PEUGEOT 308 SW 1.2 PURETECH EAT6 GT-LINE
Motor 1199 cc, 3 cilindros em linha, injeção direta, turbo, intercooler
Potência 130 CV/5500 rpm
Binário 230 Nm/1750 rpm
Transmissão Caixa automática de 6 velocidades, tração dianteira
Aceleração 0-100 km/h 10,1 seg.
Velocidade máxima 198 km/h
Consumo médio (anunciado – medido) 4,9 l/100 km – 7,1 l/100 km
Emissões CO2 112 g/km
Comprimento/largura/altura 4585/1804/1457 mm
Distância entre eixos 2730 mm
Peso (c/ condutor) 1200 kg
Bagageira 610 – 1775 litros
Depósito de combustível 53 litros
Suspensão dianteira Independente McPherson
Suspensão traseira Eixo de torção
Preço base 31.610€ (ensaiado: 33.625€)

PRINCIPAIS OPÇÕES

Pintura metalizada Azul Magnetic (430€); tejadilho panorâmico em vidro com comando elétrico (450€); jantes de liga leve Diamant de 18″ (385€); Peugeot Connect Nav 3D+leitor de CD (100€); entrada e ignição mãos livres (400€); Pack Assist+Assistente de ângulo morto (350€) e Pack Safety: sistema de alerta de colisão com assistência à travagem e aviso visual/acústico, aviso de desvio de faixa de rodagem, reconhecimento sinais trânsito e controlo dos faróis com máximos de accionamento automático (400€).

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