Autêntico fenómeno de popularidade entre muitos adeptos da mobilidade elétrica, a Tesla tem hoje um protagonismo verdadeiramente impressionante. Tecnologia, estilo e potência combinam-se num pacote que mostra as capacidades dos veículos elétricos numa fase em que a indústria parece encaminhar-se em definitivo para a era da eletrificação. O mais famoso dos Tesla atualmente é o Model 3, que se assume como o mais acessível da gama e que coloca em sentido os tradicionais fabricantes alemães.

É fácil perceber todo o ‘hype’ em torno dos modelos da marca americana, liderada por Elon Musk, adepto de uma boa polémica de quando em vez. Com os Roadster, Model S e Model X a darem o tiro de partida, foi o Model 3 que permitiu à marca chegar a um leque cada vez maior de condutores a nível global, cimentando uma posição que é cada vez mais própria.

A ensaio no Motor24 esteve o Model 3 Long Range, que, como o próprio nome indica, é o que tem a maior autonomia. Mas, com o aumento do número de pontos de carregamento públicos e de supercarregadores da marca (‘Superchargers’), até a temida ansiedade da autonomia vai desaparecendo de vez do léxico dos utilizadores dos veículos elétricos.

Tecnologicamente, o Model 3 dá um passo em frente em funções de conectividade e ergonomia, mesmo que a escolha de simplificação máxima do habitáculo pareça algo exagerada e a carecer de alguma habituação. Com efeito, quase todas as funcionalidades se controlam a partir do grande ecrã central de 15 polegadas que congrega também as informações de condução – ali se ajustam os espelhos e o posicionamento do volante (recorrendo simultaneamente a um comando no volante), as informações de consumos, o Cruise Control adaptativo automático (Autopilot simples), os modos de condução, os faróis, os limpa para-brisas, a abertura das bagageiras e até… do porta-luvas. A verdade é que tudo funciona bem, mas nem sempre é intuitivo para quem vai ao volante.

Não sendo propriamente uma crítica, é antes uma presunção de gostos de utilização, havendo quem prefira esta abordagem e quem ache que fica aquém da funcionalidade pensada para um automóvel moderno numa era em que as distrações se multiplicam.

Ainda no tablet central, o acesso para funções como o Google Maps é muito bem-vindo, assim como a possibilidade de conectividade online, incluindo a aplicações como o Spotify (uma benção dos deuses), Netflix ou Youtube, além de jogos e aplicações, entre as quais estão dois modos que, vistos sob o prisma meramente de um entusiasta do automóvel, são estranhos – a função de lareira e a de traques fictícios que são emitidos a partir de cada banco, colocando o passageiro do mesmo em desconforto. Engraçado? Talvez, mas não é isso que faz a diferença.

A conexão à aplicação móvel é também muito importante e é uma das mais-valias da Tesla, podendo o smartphone servir como chave digital e também como controlo de localização do veículo, da carga, de funcionalidades como a abertura dos vidros ou portas e até a ativação dos modos ‘Valet’ e ‘Sentry’ – que serve de ‘sentinela’, gravando a aproximação ameaçadora de todos aqueles que tenham segundas intenções para a ‘saúde’ do ‘nosso’ Tesla. Para tal, conta com câmaras junto às cavas das rodas dianteiras. Uma boa ideia que, se não elimina os riscos de danos, pode ajudar a tranquilizar os donos mais zelosos.

O interior do Model 3 é também uma melhoria e, se não está a par da construção de um Mercedes-Benz, Audi ou BMW, confirma a ideia de que a Tesla está cada vez melhor. Na verdade, esta berlina deixa muito boa impressão: bons materiais – a maior parte deles suaves – e construção apropriada dão boa aparência ao interior deste elétrico, que se destaca ainda pelos bancos confortáveis, mesmo que falte algum apoio lateral em curva (já vão perceber porquê…). Há muitos espaços de arrumação a bordo e a claridade é impressionante, dada a possibilidade de ter tejadilho panorâmico.

O facto de ter uma plataforma totalmente elétrica permite que tenha uma boa acomodação dos ocupantes, bem como duas bagageiras – uma na dianteira (117 litros) e outra na traseira, esta com 425 litros, mas com um bocal algo estreito. Regressando aos lugares a bordo, o espaço para as pernas é muito bom, mas bem menos interessante é o espaço em altura do assento ao tejadilho atrás, devido à linha descendente pronunciada do tejadilho. Adultos acima de 1,75 m poderão sentir maior incómodo.

Numa avaliação geral do interior, o Tesla Model 3 é uma enorme evolução, com espaço aceitável, combinando-se com uma forte componente tecnológica que rapidamente compensa e faz esquecer o facto de ainda não estar ‘lá’ no que diz respeito a alguns acabamentos.

Para quem gosta de conduzir

O temor de que os elétricos não terão qualquer emoção ao volante esfuma-se quando se tenta extrair um pouco mais do Model 3. Embora não seja o mais diabólico Performance, o Long Range já conta com uma solução de dois motores (Dual Motor) para uma potência combinada de 351 CV (256 CV+200 CV) e bateria de 75 kWh de alta eficiência que permite autonomia confortável para condução além de 450 quilómetros entre carregamentos (na homologação há indicação de 560 quilómetros).

Se os elétricos são conhecidos pela sua rapidez esfuziante em linha reta (e o Model 3 Long Range não é exceção), esta unidade surpreende pela forma como se permite levar em troços mais sinuosos, sobretudo pela estabilidade direcional muito elevada que lhe garante passagens em curva muito precisas e rápidas, mercê também de direção muito eficaz (dispondo de três modos de assistência – de Comfort à Sport, com menor assistência) e do chassis concebido em aço e alumínio. O centro de gravidade muito baixo é igualmente determinante para essa assertividade dinâmica, com a bateria colocada em posição muito baixa.

Tipicamente americano

Uma das particularidades de um automóvel americano está bem à vista na bagageira, onde uma patilha permite abrir a bagageira a partir do seu interior, sendo mesmo uma obrigatoriedade a sua existência para evitar que alguém – voluntária ou involuntariamente – fique preso na mesma.

O rolamento da carroçaria muito contido em curva mostra que a Tesla tem feito um bom trabalho nos seus automóveis, não só em linha reta, mas também a curvar, mesmo que não seja um desportivo no verdadeiro sentido do termo. Um dos segredos para esse seu bom desempenho está também na forma como coloca no chão a sua potência assim que sai de uma curva. O tato do pedal de travão é também mais natural do que o de muitos concorrentes elétricos, sendo esse um ponto a seu favor na agradabilidade de condução.

Em contraponto, quando o piso piora percebemos também que o acerto da suspensão é firme, batalhando com os desníveis de maiores dimensões, algo em que as jantes de 19 polegadas também não ajudam. Não se pode ter tudo.

Mesmo faltando aquele modo que faz doer a cabeça ao fim de umas quantas repetições – o ‘Ludicrous’, que coloca a potência máxima ao dispor do condutor para condução intempestiva -, o Long Range tem modos de condução ‘Chill’ e normal, sendo já dono de prestações que estão ao alcance de poucos – não obstante os 1847 kg de peso total -, como a aceleração dos zero aos 100 km/h em apenas 4,6 segundos e os 233 km/h de velocidade máxima. A autonomia de 560 quilómetros em ciclo WLTP parece difícil de cumprir, mas um total superior a 450 quilómetros é facilmente alcançável, com a fasquia dos 500 quilómetros a carecer já de um pouco mais de cuidado no doseamento do acelerador e dos consumíveis como o ar condicionado, mas também exequível. Neste aspeto, a Tesla está também em patamar privilegiado.

O nosso consumo médio foi de 14.9 kWh/100 km, o que atesta a sua eficiência energética, fazendo-se esta média de 100 quilómetros num misto de percursos urbanos e de vias rápidas a velocidades legais e constantes.

Quanto a carregamentos (tomada CCS Combo), é sempre preferível recorrer a postos de carga rápida ou ‘wallboxes’, uma vez que em tomada doméstica é impossível tirar partido do Model 3 – ou de praticamente qualquer outro elétrico, valha a verdade. Os Superchargers são escolhas óbvias pela rapidez que permite no carregamento (podendo carregar até 150 kW), mas também pode recorrer aos ‘Destination Chargers’, localizados em locais como hotéis, restaurantes ou centros comerciais, que permitem também recarregar o Tesla com maior rapidez, embora não tanta como nos Superchargers.

Ao nível do equipamento, o Model 3 Longe Range dispõe de Interior Premium, com elementos como a Conectividade Premium (mapas satélite com visualização de trânsito em tempo real, música e multimédia via Internet, atualizações automáticas via dados móveis, browser de Internet) válido por um ano, o sistema de som Premium melhorado, bancos aquecidos e ajustáveis eletricamente em 12 vias, aquecidos à frente e atrás e… tapetes. A pintura vermelho multicamada da unidade ensaiada tinha um custo de 2200€, enquanto as jantes Sport de 19″ (são de 18″ de série) têm um custo adicional de 1600€. Outro opcional, este mais tecnológico, é o Piloto Automático com capacidade de condução autónoma total, que eleva as suas competências de condução autónoma face àquelas de base, a troco de ‘sumarentos’ 6500€ (não disponível na unidade ensaiada).

Feitas as contas, o Model 3 Long Range tem um preço base de 59.600€, com os opcionais equipados a aumentarem o valor para 64.384€. A garantia geral de componentes é de quatro anos ou 80.000 km, enquanto a bateria e motor dispõem de garantia de oito anos ou 192.000 km.

VEREDICTO

A chegada da Tesla trouxe consigo uma visão revolucionária para os elétricos, mostrando que podiam ser elegantes, funcionais e impactantes de conduzir. O Model 3 aprofunda essa mesma noção, tratando-se de um automóvel bastante chamativo visualmente, sobretudo com a cor vermelha desta unidade, mas é o conjunto de todos os seus elementos que fazem do Model 3 um dos melhores carros do seu segmento e, muito possivelmente, o melhor elétrico do mercado. Tecnologicamente, o modelo americano está na vanguarda – mesmo que exagerando na forma como elimina os comandos tradicionais -, apresentando ainda prestações excelentes e um compromisso de condução que surpreende quem aprecia conduzir.

Haverá quem o compare a um ‘gadget’ da moda, mas o Model 3 pode ser também isso e muito mais – o elétrico da Tesla permite maior acessibilidade aos elétricos Premium, num mercado que começa a estar cada vez mais preenchido de alternativas. E aqui nem a autonomia se assume como problemática.

O ensaio deste Tesla também procurou focar-se muito mais nos aspetos de um automóvel e aí surpreende. Ora, com a chegada da marca de Elon Musk gerou-se também uma divisão entre os adeptos indefetíveis da marca e os que lhe são, digamos, avessos. Olhando para os seus automóveis, vale a pena pensar que os tempos modernos são fantásticos pela variedade de propostas que nos são apresentadas e não deve existir um fundamentalismo extremo, nem de um lado (pró-Tesla), nem do outro (anti-Tesla). Um Tesla Model 3 é um fantástico exemplo de automóvel – elétrico -, enquanto outros são fantásticos exemplos de automóveis de motor térmico ou híbridos. Não deve existir imposição de uns aos outros, mas antes diferentes necessidades que têm de ser preenchidas.

Dito isto, o Model 3 Long Range permite-se a ser, muito possivelmente, o melhor veículo elétrico do mercado automóvel atualmente. E isto é dizer muito.

FICHA TÉCNICA
TESLA MODEL 3 LONG RANGE DUAL MOTOR
Motor dianteiro: Elétrico, síncrono de íman permanente
Potência: 256 CV/188 kW
Motor traseiro: Elétrico, síncrono de íman permanente
Potência: 200 CV/147 kW
Potência total: 351 CV/258 kW
Transmissão: Automática de relação única; tração integral
Bateria: Iões de lítio, 75 kWh
Aceleração 0-100 km/h: 4,6 seg.
Velocidade máxima: 233 km/h
Consumo médio: N.D.
Emissões CO2: 0 g/km (WLTP)
Autonomia: 560 km (WLTP)
Comprimento/Largura/Altura: 4694/1849/1443 mm
Distância entre eixos: 2875 mm
Peso: 1847 kg
Bagageira: 425 (T)+117 (F) litros
Preço base: 59.600€

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