Ensaio Volvo XC60 D5 Inscription: O rei no Norte

15/09/2017

Nativo da gélida Suécia, onde os invernos são longos, o Volvo XC60 tem um objetivo: tornar-se o rei dos sete reinos. Ou melhor, do reino dos SUV compactos de estirpe Premium. Mas a sua missão tem outra particularidade, ao suceder a um dos Volvo mais bem-sucedidos de sempre que contou com quase uma década de ‘vida’ comercial.

Mas não apenas isso. O anterior XC60 ‘resistiu’ de forma imperiosa durante os seus quase dez anos de comercialização, contribuindo sozinho para cerca de 30% das vendas mundiais da Volvo! Um feito impressionante e que atesta bem o peso do ‘manto’ que este novo 60 terá de suportar sobre os seus ‘ombros’.

Olhando para esse aspeto, a marca de Gotemburgo encarou a obrigatoriedade de conceber um novo XC60 como uma oportunidade para fazer melhor. Com tantos candidatos ao trono do segmento dos SUV Premium, a Volvo espera que o seu ‘rei no Norte’ consiga destacar-se e dotou-o de muitos argumentos técnicos e tecnológicos.

Bons genes

Tendo visto o seu XC90 nascer com tanto sucesso e preconizando a entrada numa nova era por parte da marca, as bases para este XC60 já estavam à vista de todos, a começar pela plataforma modular SPA (Scalable Product Architecture), que permite grande modularidade em termos de produção. Aliás, a SPA será a génese de toda a gama 60, tendo já sido de toda a gama 90 (S, V e XC). Para a futura gama 40, da qual o XC40 será o primeiro resultado, está reservada a igualmente nova plataforma CMA (Compact Modular Architecture). Desta forma, a SPA dispensa apresentações, sendo ligeira e resistente para aquilo em que a Volvo já é mundialmente reconhecida – a segurança dos seus modelos. No caso deste XC60, o caso não é diferente. Mas isso ficará para mais tarde neste mesmo texto.

Nas ligações ao solo, o XC60 destaca-se pela combinação de uma suspensão dianteira de braços triangulares duplos na frente com um eixo traseiro link integral, equipado com mola de lâminas transversal de baixo peso, fabricada em materiais compósitos, sendo assim uma forma de baixar o peso do conjunto de suspensão.

Interior de luxo

Com aspeto imponente em jeito de ‘mini-me‘ do XC90, este modelo tem muitos traços semelhantes ao seu irmão maior, a começar pela implementação da grelha e dos faróis com a assinatura luminosa ‘Martelo de Thor’, passando pela disposição dos farolins e pela própria silhueta, muito parecida com a do outro SUV.

A bordo, o XC60 surge em (quase) fotocópia daquilo que se pode encontrar nos 90, ainda que num patamar mais simplificado. Os materiais escolhidos pela Volvo são de primeira qualidade e destacam-se pelo cuidado de apresentação, com elevada qualidade percebida. Da mesma forma, a montagem de todos os elementos do habitáculo está em muito boa conta. Mas, como em quase tudo, há sempre espaço para melhoria e apenas um pecadilho se pode apontar a este SUV: o revestimento interior das pegas das portas poderia estar melhor. Mas, em todo o caso, cinco estrelas para a qualidade do habitáculo: elegante, refinado e cuidado para uma vivência tremendamente agradável e repleta de conforto.

Passível de elogios é também a simplificação da consola central. O XC60 remete quase todos os comandos para o grande ecrã tátil vertical que, muito simplesmente, na nossa análise, sobressai como um dos melhores atualmente disponíveis no mercado. Simples de entender e intuitivo de utilizar, rapidamente se percebe como utilizar as diversas funcionalidades deste sistema de infoentretenimento, o qual inclui navegação e conectividade aos smartphones, além de internet e acesso aos sistemas de segurança.

Entre os elementos de destaque deste modelo, referência para o modo de escrita no ecrã, que é quase perfeito. Impressionante é a insonorização de rolamento (ainda que o motor seja audível a frio e em acelerações mais fortes) ao passo que, também no campo da audição, vale a pena destacar a magnânima qualidade sonora do sistema de áudio da Bowers and Wilkins, opcional (3.075€) que permite até replicar o som da sala de concertos de Gotemburgo. O painel de bordo recorre a um ecrã para a apresentação das principais informações da condução, detalhe muito interessante, embora não tenha a mesma personalização que os sistemas oferecidos pelos carros do Grupo Volkswagen, por exemplo.

Conforto e requinte: as duas noções chave para este novo SUV Premium, que vai dar muitas dores de cabeça aos alemães…

O espaço a bordo é outro critério muito apreciável, com muito espaço a bordo para quatro adultos, mesmo de maior estatura. A largura também não é um problema de maior, embora um terceiro passageiro nos lugares traseiros tenha de lidar com a maior largura do túnel central. Seja como for, um modelo confortável e de enormes créditos para viagens em família. A bagageira, com 505 litros e expansível até aos 1.432 litros, é bastante espaçosa e funcional.

Diesel de luxo

Antes que a aposta da Volvo passe unicamente para as motorizações eletrificadas – a partir de 2019 todos os modelos da casa sueca serão ou híbridos ou elétricos -, um dos motores de destaque é este Diesel D5 de 235 CV de potência e 480 Nm de binário com a particularidades desse valor ficar disponível logo às 1.750 rpm. Contudo, antes disso, já se pode sentir muita força neste que é um motor de enorme vigor e disponibilidade. A razão chama-se Power Pulse, que, em traços gerais, recorre a ar comprimido que é armazenado num depósito (a partir do filtro de ar) para o libertar na admissão e forçar o turbo a atuar de forma instantânea. Com isso, não há qualquer indício de atrasos no funcionamento do turbo, sendo este um modelo que impressiona pela sua prontidão e força a qualquer regime, fazendo esquecer até que este se trata de um SUV com uma altura generosa (mas Classe 1 nas portagens!). A associação à caixa Geartronic de oito velocidades permite ao motor explanar as suas potencialidades de forma veemente, impondo ritmos fortes e acelerações e retomas de excelente nível. Esta reação é particularmente evidente no modo Dynamic de condução, em que as respostas ganham uma intensidade maior.

Por outro lado, tal como já nos sucedeu na ocasião do ensaio com o V90 Cross Country D5, o consumo médio obtido foi mais elevado do que o anunciado, cifrando-se nos 7,6 l/100 km no cômputo dos nossos 100 quilómetros (com 60% de cidade e os restantes entre via rápida e autoestrada sempre a velocidades legais).

Não é para correrias de montanha

A sua pose é de elegância e requinte e, em condução, o XC60 anuncia logo aos primeiros quilómetros que a sua maior predileção são as estradas de curvas abertas. Com um amortecimento macio, este SUV médio não está pensado para subir e descer montanhas de forma aguerrida. Até o pode fazer, mas não é aquilo que mais quererá fazer. Naturalmente seguro, ou não fosse um Volvo, o XC60 não esconde, todavia, algum rolamento pronunciado da carroçaria quanto mais intenso é o ritmo e mais fechada é a curva, com a suspensão confortável a indicar que, a bordo, quem aqui segue é ‘rei e senhor’. Assim, deve ser tratado em consonância – com requinte e conforto na condução, pelo que não há cá correrias. E isso até é positivo, porque na apreciação de condução quotidiana, este é um SUV de tremenda competência.

A direção é bastante precisa e transmite boas indicações do que se passa na estrada, numa clara evolução em relação ao XC60 anterior. As escapadelas por pisos de todo-o-terreno são bem-vindas, com a tração integral a proporcionar uma maior versatilidade, algo é ajudado pelo modo Off-road – que se pode escolher unicamente a baixas velocidades no comando de estilo diamante na consola central e que altera alguns dos parâmetros do XC60. Este modo acaba por oferecer algumas configurações distintas, como a de controlo de velocidade em descida, além de tornar a distribuição do binário mais competente em pisos de aderência difícil. Já as jantes de 20 polegadas poderão não ser as mais indicadas para estas coisas de andar no mato. Contudo, sendo lógico, o ‘habitat’ off-road mais comum para este XC60 serão os estradões de terra batida e buracos mais incongruentes que um carro de distância ao solo mais reduzida poderia ter algum problema ou maior rispidez a ultrapassar pela sua suspensão com menor curso.

Por outro lado, tal como já se referiu, o modo Dynamic altera a resposta do acelerador, as passagens de caixa e a assistência da direção, fazendo com que o seu propósito seja mais desportivo, mas nunca conseguindo abdicar plenamente da sua missão de conforto.

À frente na segurança

Como é apanágio da Volvo, o novo XC60 chega ao mercado com uma série de novos sistemas de segurança que se afiguram como mais uma etapa do plano ‘Vision 2020’, que quer eliminar as mortes e ferimentos graves dos passageiros a bordo de modelos da Volvo.

No caso do XC60, a preocupação com a segurança é sublinhada pela inclusão de três novidades tecnológicas que vêm complementar a oferta Intellisafe da Volvo: são elas o City Safety, Oncoming Lane Mitigation e Blind Spot Information System.

Embora em dois dos casos se tratem de evoluções, as novidades são relevantes.
Começando pelo City Safety, o sistema tem agora a possibilidade de apoiar a condução pela direção, sendo ativado quando a travagem automática não for capaz, por si só, de evitar uma potencial colisão. Nessas circunstâncias, o automóvel irá fornecer esse apoio adicional para evitar o obstáculo em frente. O City Safety ajuda a evitar colisões entre veículos, peões e animais de grandes dimensões. A assistência à direção estará ativa para velocidades entre os 50 e os 100 km/h.

Ideal semelhante rege o Oncoming Lane Mitigation, que irá ajudar a evitar colisões com veículos em faixas contrárias, alertando o condutor que, de forma involuntária, tenha saído da sua faixa de rodagem. Além disso, intervém na direção para redirecionar o veículo novamente para a sua própria faixa de modo a evitar a trajetória da outra viatura (entre os 60 e os 140 km/h). Por último, aquele que é um dos sistemas de segurança mais antigos da Volvo recebe agora uma atualização que também tem por objetivo evitar colisões inesperadas. Assim, além de alertar o condutor para a presença de veículos no chamado ângulo morto, o BLIS (Blind Spot Information System) pode agora providenciar assistência à direção para evitar potenciais colisões recolocando o automóvel na própria faixa de rodagem e fora de perigo. Opcional no XC60 é também o sistema Pro Pilot de condução semiautónoma que, sempre vigilante, intervém ao nível da direção para manter o veículo dentro da sua faixa de rodagem.

Por tudo isto, o novo XC60 exibe um conjunto de elementos que o tornam num forte concorrente, embora a diferença no preço e a competência do motor D4 de 190 CV possam dificultar a ‘vida’ a este D5 tão vigoroso. Se pretende um XC60 com alma para galgar quilómetros de forma rápida e impressionante – repare-se nos 0 aos 100 km/h em apenas 7,2 segundos para um automóvel com 1.879 kg de peso – a versão D5 pode ser a opção que precisa. Elástico e soberbo, cai que nem uma luva na filosofia de condução descontraída que comandou o desenvolvimento do novo SUV escandinavo.

Atenção, apenas, ao custo dos opcionais, que pode fazer elevar em demasia o preço final. Com diversos extras associados, o modelo deste ensaio em versão Inscription lançava-se já para os 85.257€, demarcando-se pelo sistema de áudio já abordado, pelo valioso pacote de segurança IntelliSafe Pro (1.685€), sendo que, se só tiver verba para um conjunto de opcionais, vá pelo da segurança. Por outro lado, atendendo ao seu estatuto Premium, há alguns itens lançados para o leque de opcionais que são estranhos, como os sensores de ajuda ao estacionamento nas duas pontas (418€) ou o porta-luvas com trancamento (25€).

Veredicto

Mudar um exemplo de sucesso nunca é fácil, mas arriscamos a dizer que a Volvo produziu um carro que é definitivamente melhor em todos os aspetos do que o anterior XC60. Exemplarmente confortável e com uma tónica firme no requinte, este sueco gélido está entre os melhores SUV Premium do mercado, batendo-se taco a taco com propostas como o Audi Q5 de nova geração. Tecnologicamente avançado e com um toque de simplicidade que é bem-vindo, o XC60 merece ainda muito boa nota pelo motor D5, que é eficaz nas prestações e que é outro dos pontos fortes deste modelo.

O preço a pagar também reflete, naturalmente, algum pouco desse seu posicionamento superior, com a versão D5 a ser proposta por 67.835€. Justificados, de resto, para o valor do conjunto. Mais para a frente, chegará um bem mais competitivo motor D3 Diesel de 150 CV que será a base das suas vendas na grande maioria do mercado europeu, incluindo Portugal, vindo acompanhado de tração dianteira para uma realidade que os lusos gostam tanto.

Características 
Motor4 cil. em linha turbocompressor, Power Pulse, injeção direta
Cilindrada1.969 cc
Potência235 CV/4.000 rpm
Binário480 Nm/1.750-2.250 rpm
TransmissãoCaixa automática de 8 velocidades, tração integral
Vel. máxima220 km/h
0-100 KM/H7,2 seg
Consumo médio oficial (medido)5,5 l/100 km (7,6 l/100 km)
Emissões CO2144 g/km
Comp/larg/alt.4.688 / 1.902 / 1.658 mm
Distância entre eixos2.865 mm
Peso1.879 kg
Mala505-1.436 litros
Depósito71 litros
Suspensão dianteira/traseiraIndependente triângulos duplos /eixo 'multilink' com mola de lâminas
Pneus série (ensaiado)235/55 R19 (255/45 R20)
Travões dianteiros/traseirosDiscos ventilados/discos ventilados
Preço (ensaiado)67.835€ (85.257€)

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