O nome “Discovery” obriga-nos a viajar no tempo e a pensar em… salas de estar! Estávamos em 1989 quando a Land Rover fez sair da linha de produção os primeiros Discovery, que, de imediato, ganharam o epíteto de “salas de estar de 4 rodas”! E dir-se-ia, bem fundamentado pois, na realidade, e para o bem ou para o mal, tratava-se um veículo com uma habitabilidade deveras impressionante e um conforto invejável que não nos deixava sensações muito dispares das proporcionadas pelo sofá “lá de casa”. Em tudo o resto, o Discovery estava longe ser uma referência entre os TT e também tinha dificuldade em escapar às “picadas” invejosas de quem dizia que “quem não podia ter um Range (Rover), tinha um Discovery, afinal o ‘Range’ dos pobres!”. Pontos de vista, claro! 28 anos passados e quatro gerações pelo meio, eis que o Discovery se apresenta mais uma vez ao serviço! Mas, convínhamos que, desta vez, será muito mais difícil fazer “gracinhas” com o TT da Land Rover, que continua um degrau abaixo do Range Rover na hierarquia da marca, mas que abraçou, verdadeiramente, muitos dos seus genes, sem perder os seus próprios traços de personalidade.
Exterior
Observado de frente, as linhas de design até são semelhantes, podendo até confundir os mais desatentos (ainda que pormenores como a grelha e as entradas de ar laterais sejam distintas), mas na altura ao solo e no design traseiro o Discovery e o Range começam a afastar-se. No Discovery fica a sensação exterior de que há algo desproporcionado nas linhas. A altura parece ser demasiada elevada face à largura do veículo (o que na realidade não acontece, é apenas sensação), o que o torna num exercício de estilo… estranho! Mas o uso de alumínio em vez de aço desmultiplicou-lhe o peso (face à geração anterior o Discovery poupou 480 kg, pesando agora 2184 kg), o que ajudou decididamente na agilidade dinâmica.
Interior
Aliás, a sensação de bem-estar não se resume à dinâmica, uma vez que todo o habitáculo respira luxo e sofisticação, seja pela qualidade de construção empregue, seja pela lista de equipamentos disponível ou pelo espaço interior oferecido, que facilmente se transforma – dois, cinco ou sete lugares, tudo através do fácil acionamento elétrico de descida dos bancos, que também faz variar o volume da bagageira entre os 258 litros (sete lugares), 1231 litros (cinco lugares) e os 2406 litros (todos os bancos rebatidos). No capítulo do equipamento de série, é verdade que há muitos extras que poderiam ser de série (ver lista de opcionais), mas, de um modo geral, nada de importante falta a este peso-pesado dos veículos de TT. 12 compartimentos para alojar pequenos objetos, quatro ganchos na bagageira de abertura e fecho elétrico, ar condicionado bi-zona, compartimento central para objetos e superior para óculos de Sol, iluminação de solo dianteira e traseira, porta-luvas secundário superior, suport de copos duplo com tampa na primeira fila e volante multifunções em couro são apenas alguns dos mimos disponibilizados para melhorar o ambiente a bordo.Ao volante
Com suspensões pneumáticas (cujo curso é controlado a partir do interior e pode aumentar a distância ao solo até 40 mm) a desenvoltura para os trilhos fora de estrada, afinal o habitat natural do Discovery, é facilmente ampliada. Mesmo que a uma boa parte dos Discovery’s vendidos nunca venha a conhecer o “sabor” da terra, das pedras, dos ribeiros, da areia, da relva ou do gelo, o que interessa é que ele esteja preparado para os enfrentar. E está… e com todo o à vontade! A ajuda e eficácia do sistema Terrain Response 2 (onde, através de um comando rotativo, no interior, é possível escolher a melhor combinação eletrónica, de suspensão, resposta do acelerador, direção e controlo de tração para enfrentar cada tipo de terreno), a que se junta o auxílio do bloqueio do diferencial traseiro ativo, do sistema All Terrain Progress Control (que gere a aceleração e travagem), dos controlos eletrónico de descida de declives (HDS), de arranque em subidas íngremes (GRC), de estabilidade de inclinação (RST) e ainda as suas magníficas capacidades de ângulo de ataque, saída, rampa e passagem a vau fazem com que, efetivamente, parece não haver limites para este Discovery! Fora dos circuitos de TT mais radicais, ou seja, na estrada, o comportamento do jipe britânico também está abrigado das críticas, sobretudo, na versão 3.0 TDV6 Auto HSE, a mais potente a diesel, capaz de entregar 258 Cv de potência e 500 Nm de binário ao condutor, valores mais do que suficientes para o tornar aprazível e muito confortável de guiar (mesmo que o seu peso se note sempre).
Sistemas de Assistência à Condução, Segurança e Conetividade
Fazendo parte de uma geração de automóveis pouco condescendente com facilitismos em matéria de segurança, o Land Rover Discovery TDV6 Auto HSE só podia oferecer um vasto conjunto de soluções que fazem condutor e passageiros viajar descansadamente, seja por meia dúzia de quilómetros ou por largos milhares. Entre elas, destaque para múltiplos sistemas de vigilância ou controlo ativo, como o Controlo Eletrónico de Tração (ETC), Controlo de Velocidade de Cruzeiro, Cornering Brake Control (CBC), Controlo de Estabilidade Dinâmico (DSC), Gradient Acceration Control (GAC), Hill Descent Control com ABS preparado para Off-Road, Hill Lauch Assist, Direção eletronicamente assistida sensível à velocidade (EPAS), a que se junta ainda o Sistema Roll Stability Control (RSC), o Sistema de Monitorização da Pressão dos Pneus (TPMS), a suspensão pneumática auto-nivelante, o Aviso de Saída de Faixa de Rodagem, a câmara auxiliar traseira, os sensores de estacionamento dianteiros e traseiros. E se pensarmos que só para regular a travagem, o Discovery está preparado munido de Sistema de Travagem Antibloqueio (ABS), Travagem Assistida de Emergência (EBA), Sistema Autónomo de Travagem Inteligente, Sistema Eletrónico de Distribuição Equilibrada da Travagem (EPB) e Travão de Estacionamento Eletrónico (EPB), é difícil não se sentir seguro ao volante deste automóvel.
Equipamento Opcional
Como é normal nas viaturas de segmentos superiores, a lista de equipamentos opcionais é vasta, oferecendo, no caso deste Discovery TDV6 Auto HSE, 45 novas possibilidades de configuração, quer seja de elementos da carroçaria ou do habitáculo. Por isso, a menos que queira um ou outro apontamento extra isolado, os diversos Pack’s que a Land Rover põe à disposição serão sempre uma melhor opção. Assim, o “Dynamic Complete Pack (Exterior & Interior)”, que inclui acabamentos exteriores e interiores Dynamic, forro do tejadilho em Ebony, bancos desportivos em couro Windsor com costura contrastante, tapetes Dynamic e acabamento interior em Titanium Mesh podem ser uma boa opção por 2.667 €, mas o InControl Connect Pro Pack, que inclui o InControl Pro Services, InControl Apps e InControl Remote Premium (por 3 anos) também é algo a ter em conta por 739 € se a conectividade estiver na sua lista de prioridades. Mas se o TT, será mesmo a sua principal forma de encarar o Discovery, então é melhor não dispensar o “Capability Plus Pack”, que junta às diversas funcionalidades, a caixa de transferências de duas velocidades por mais 1.447 €. Se o ambiente interior é o mais importante, então o “Climate Comfort Pack”, com pára-brisas atérmico e acústico, ar condicionado automático de três zonas, bancos dianteiros climatizados e compartimento refrigerado na consola central, por 1.819 € é algo a pensar. Mas se o dinheiro não for problema, o ainda mais capaz “Luxury Climate Confort Pack”, que acrescenta os bancos dianteiros e traseiros em couro Windsor climatizados, pára-brisas atérmico, acústico e aquecido, bicos do limpa pára-brisas aquecidos e volante em couro aquecido, passando o ar condicionado a operar em quatro zonas – tudo por 3.442 € -, a ser uma opção a considerar. Já o “Remote Intelligent Seat Fold Pack” (1.757 €), inclui bancos com rebatimento inteligente, segunda fila de bancos 60:40 com ajuste longitudinal e reclináveis eletronicamente e terceira fila com ajuste elétrico, enquanto o “Technology Pack” (2.170 €) oferece sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, abertura e fecho elétrico da bagageira, sistema de som Land Rover, com rádio, MP3, 11 altifalantes com subwoofer, 250 W e InControl Touch Navegation SD. É, portanto, tudo uma questão de ter a carteira cheia para rechear de equipamento o Discovery TDV6 Auto HSE, que muitos dos Pack adicionais incluídos facilmente ultrapassará os 115.000 €.
Consumos
Não se pode esperar milagres de um veículo que pesa 2184 kg e cuja a aerodinâmica, apesar de melhorada face às anteriores gerações, continua a não ser particularmente eficaz (0.35 de coeficiente aerodinâmico), na hora de falar de consumos. Os anunciados 8,2 litros/100 km de média são, como em todas os carros modernos, otimistas, sendo melhor contar com médias de 10.1 litros/100 km em ritmos moderados. Com tento no acelerador, talvez seja possível fazer menos, mas sem ele, a escalada dos consumos promete disparar e médias de 12/13 litros tornam-se facilmente realistas.
A versão que levámos para o terreno e que por quatro dias nos acompanhou, a TDV6 Auto HSE, é uma das 15 disponíveis na última geração do Land Rover Discovery. Está a meio da tabela, em termos de hierarquia, ficando acima das versões com motorizações de quatro cilindros turbodiesel – TD4 (180 Cv) e SD4 (240 Cv), ambas disponíveis com linhas de equipamento S, SE, HSE e HSE Luxury -, mas abaixo das versão Si6, a gasolina (340 Cv), com níveis de equipamento SE, HSE e HSE Luxury. Entre as versões TDV6 (258 Cv), poderá encontrar as variantes SE, HSE (a que ensaiámos), HSE Luxury e First Edition, com preços iniciais que variam entre os 91.973 € (SE) e os 116.855 € (First Edition), com a HSE, que nos serviu de companheira de viagem, a ficar-se pelos 100.628 €.
Concorrentes
Há diversas alternativas à última geração do Land Rover Discovery, mas quando se explora a fundo a versatilidade do jipe britânico, elas ficam mais reduzidas. Audi Q7 Quattro 3.0 TDI Tiptronic (272 Cv, 91.290 €), BMW X5 30d (258 Cv, 91.370 €), Jaguar F-Pace AWD 3.0 TDV6 Pure (300 Cv, 82.505 €), Jeep Grand Cherokee 3.0 CRD V6 Limited (250 Cv, 88.203 €), Lexus RX 450h Business (263 CV, 82.770 €), Mercedes GLE 350d 4 MATIC (258 Cv, 91.650 €), Porsche Cayenne Diesel (262 Cv, 97.866 €), VW Touareg 3.0 V6 TDI Tiptronic (262 Cv, 93.460 €), Volvo XC90 D5 Geartronic AWD (235 Cv, 74.018 €) são tudo opções válidas, muitas delas equiparadas em termos luxo, prazer de condução e funcionalidade, mas nem todas tão à vontade no capítulo da flexibilidade dinâmica.
Balanço Final
Filipe Pinto Mesquita
FICHA TÉCNICA
Motor
Tipo – V6, injeção direta, turbo, intercooler
Cilindrada (cm3) – 2993
Diâmetro x curso (mm) – 84,0 x 90,0
Taxa de compressão – 16,1:1
Potência máxima (cv/rpm) – 258/3750 rpm
Binário máximo (Nm/rpm) – 600/1750-2250 rpm
Transmissão e direcção – Tração integral permanente com bloqueio diferencial central de série e Terrain Response, caixa automática de 8 velocidades; direção de cremalheira, com assistência elétrica (EPAS)
Suspensão (fr/tr) – SLA com triângulo duplos/integral link
Prestações e consumos
Aceleração 0-100 km/h (s) – 8,1s
Velocidade máxima (km/h) – 209 km/h
Consumos Extra-urb./urbano/misto (l/100 km) – 6,5/8,3/7,2
Emissões de CO2 (g/km) – 189
Dimensões e pesos
Comp./largura/altura (mm) – 4970/2220/1846
Distância entre eixos (mm) – 2923
Largura de vias (fr/tr) (mm) – 1692/1686
Travões (fr/tr) – Discos ventilados/Discos ventilados
Peso (kg) – 2223
Capacidade da bagageira (l) – 258 (7 Lugares) /1231 (5 Lugares) /2406 (2 Lugares)
Pneus – 235/65 R19
Preço base (versão TDV6 HSE Auto.) (€) – 100.628€
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