Mercedes-AMG A 35 4MATIC: Até parece magia negra!

09/05/2019

Com o segmento dos desportivos compactos a fervilhar de opções oriundas de praticamente todos os quadrantes, a Mercedes-AMG decidiu dividir para reinar com a nova geração do Classe A mais desportivo. O objetivo é oferecer duas propostas de âmbitos diferentes (falta chegar o A 45 com mais de 400 CV para outros… voos), mas com genes desportivos bem vincados, ou não fosse a sigla AMG sinónimo exatamente de altas prestações e excitação máxima. E excitação nem é uma palavra que se possa usar muitas vezes com muitos carros. Neste A 35 podemos usá-la sem receios, dada a sua competência técnica que entusiasma quase de maneira desmedida.

Mas, o que é que se destaca assim tanto neste desportivo? Quase tudo: a entrega da potência, o funcionamento da caixa, a sonoridade em altos regimes ou nas reduções, a direção e, quase magia negra, a sua motricidade em curva. Mas, vamos por partes.

O anterior Classe A de sigla AMG era versão única, com 360 CV inicialmente elevados para 381 CV numa fase posterior com o facelift e era já uma máquina sublime para o seu segmento, tendo pela frente o Audi RS3 Sportback e o Ford Focus RS na ideologia de tração integral. Porém, com a nova geração, a Mercedes-AMG preferiu separar as águas, lançando uma variante de entrada ao mundo desportivo mais acessível e, embora extrema, não demasiado opulenta.

Trava, curva, acelera. Repete

O motor 2.0 turbo a gasolina de injeção direta foi trabalho para debitar 306 CV, o que atendendo ao que existe hoje no mercado até nem parece muito, fazendo-se acompanhar de 400 Nm de binário às 3000 rpm que a caixa AMG Speedshift DCT7 de sete velocidades se encarrega de explorar de maneira eficiente.

Se o valor de potência de 306 CV parece número que não sobressai, as suas respostas apagam por completo essa ideia. Graças ao sistema de tração integral 4MATIC, o A 35 reage de forma balística quando precisa de acelerar, com impulso de colar costas ao banco. A aceleração dos zero aos 100 km/h em menos de cinco segundos (4,7s) é uma prova da engenharia efetuada neste A 35 e atira-o para um patamar que, há meros 20 anos, era território de desportivos de marcas de culto.

O motor com bloco em alumínio foi amplamente modificado face ao da versão A 250 (com 224 CV), dispondo de turbocompressor ‘twin scroll’ para respostas mais ‘cheias’ em baixas rotações, intercooler de ar/água para maior eficiência térmica no ar da admissão (além de ser mais pequeno) e injetores de alta eficiência.

A subida de regimes é rápida, cheia e intensa, sobretudo quando se opta pelo modo mais desportivo Sport+ do Dynamic Select, que altera alguns parâmetros como o amortecimento (fica mais firme), a resposta da direção e do acelerador, as passagens de caixa (embora seja preferível utilizar as patilhas atrás do volante para comandá-la neste modo) e a sonoridade do escape. E que sonoridade. As passagens de caixa ou a simples retirada da pressão no acelerador são acompanhadas de um borbulhar que enaltece a vocação atlética deste AMG, dinamicamente irrepreensível na sua condução. A culpa é de uma ‘borboleta’ colocada na saída de escape, que ativada, ou desativada, varia a sonoridade.

Todos os ‘inputs’ que o carro concede ao condutor são sensorialmente exemplares, dando informações precisas do que se passa na estrada e fazendo com que as curvas passem depressa, muito depressa. A tração integral 4MATIC com variação na entrega da potência entre os dois eixos faz com que a trajetória seja tão precisa quanto possível (lida com as transferências de peso como se essas não existissem) e a condução é, afinal de contas, um exercício de diversão que é perfeitamente explorado no já referido modo Sport+, mas que também pode ser aproveitado em Sport. Mas não há espaço para descuidos ou desatenções: a facilidade com que ganha ritmo e com que sai de uma curva para a outra obriga a enorme atenção nas reações do carro.

Em condução normal e sem exigências de maior em termos de motricidade, o 4MATIC transmite toda a potência ao eixo dianteiro, mas pode repartir em 50:50 a força pelos dois eixos. Também o ESP tem funcionamento triplo, com um modo desportivo mais permissivo e um em que o mesmo é desligado por completo.

Existem ainda os modos Individual (para personalizar os parâmetros já referidos do chassis) e Comfort, este último com o objetivo de tornar as viagens mais tranquilas, mesmo que seja difícil quando se tem este conjunto à disposição. Além disso, usar a palavra Comfort no A 35 é um pouco figurativo, já que o amortecimento nunca deixa de ser firme. Tolerável nos maus pisos, mas as irregularidades e empedrados não passam despercebidos. Por outro lado, isso tudo é perdoável numa estrada de montanha em que a resposta a qualquer ordem do volante é quase imediata e com rolamento praticamente nulo da carroçaria em curva (as jantes e pneus de 19 polegadas ajudam bastante). É feito para curvar e fá-lo com excelência.

A marca também não poupou esforços para isso e, no desenvolvimento, teve como grande meta o reforço estrutural para que a sua rigidez estrutural fosse ainda maior. Neste aspeto, nota para o reforço inferior no subchassis. Reduzindo a torsão no eixo dianteiro, existe uma prancha de alumínio aplicada no subchassis da suspensão, sendo também nesse componente que está ancorada a suspensão traseira multibraços. Depois, é o bom trabalho da nova plataforma usada para esta geração de modelos compactos da Mercedes-Benz. A direção também foi melhorada para maior precisão e o conjunto de travões também majorado para responder à maior exigência dinâmica. Assim, foram instalados discos ranhurados e perfurados de 350 mm de diâmetro no eixo dianteiro e de 330 mm atrás. A potência de travagem sai bastante reforçada.

Quanto aos consumos, conte com uma média a variar entre os nove e os dez litros por cada 100 quilómetros, mesmo que isso varie com o modo de condução escolhido. No nosso caso, obtivemos 9,6 l/100 km, embora num ritmo sempre abaixo daquilo que o A 35 4MATIC consegue oferecer…

Interior em misto hi-tech desportivo

A bordo, o AMG replica muitos dos princípios do Classe A de base, como por exemplo a boa qualidade de montagem e a racionalidade dos comandos, destacando-se o já conhecido sistema MBUX com os dois ecrãs na horizontal para um visual ‘widescreen’ que congrega, de um lado, o painel de instrumentos configurável e, do outro, as funções de infoentretenimento (navegação, áudio, conectividade…). Tanto um como outro dispõem de ecrãs específicos de performances AMG, podendo observar-se no ecrã tátil central dados como a entrega momentânea da potência, do binário, temperaturas ou os ‘G’ de força lateral e longitudinal.

Opcionais (2700€), os bancos dianteiros em estilo bacquet Performance AMG Advanced (com combinação em pele e Alcantara) têm ótimo apoio lateral e sustentação exímia do corpo do condutor e do passageiro, permitindo também uma posição de condução ótima, em conexão com o volante desportivo de base plana, ocultando atrás de si as patilhas para o comando sequencial da caixa e dispondo na parte inferior de comandos de atalho para os modos de condução, ajuste da caixa e controlo de estabilidade. Uma opção que acrescenta um toque especial no segmento e que, num nível menos evoluído, surge também no eficaz Hyundai i30 N (que não é concorrente direto porque esse é só tração dianteira).

Os materiais são bem escolhidos e a construção do habitáculo está bem conseguida, mesmo que nalguns detalhes destoe ligeiramente. O espaço atrás é adequado para dois adultos (três é melhor evitar, uma vez que o túnel central não ajuda e a largura não abunda) e a bagageira, com 370 litros, oferece boa capacidade para as bagagens de um fim de semana de férias. No para-choques traseiro, o destaque vai para o difusor que alberga as duas saídas ovais de escape e que propicia maior carga aerodinâmica em velocidades mais altas.

Tal como é apanágio da Mercedes-Benz (e AMG), existem packs de equipamento abundantes (sobe, sobe fatura, sobe…), com o destaque nítido a ir para o kit apresentado na unidade ensaiada (One), que recorre a apêndices aerodinâmicos reforçados nas laterais do para-choques dianteiro, a um spoiler de grandes dimensões na tampa da bagageira (que assenta que nem uma luva) do Pack Aerodinâmico AMG (1450€), havendo ainda que mencionar as jantes de 19 polegadas raiadas em preto (1200€) ou o Pack Premium Plus (6150€), que inclui painel de instrumentos de 10″ ou os faróis LED Multibeam. No total, a unidade ensaiada exigia fatura de 76.344€…

VEREDICTO

A primeira impressão com que tinha ficado do contacto na apresentação internacional merece aqui uma confirmação cabal das capacidades do AMG A35 como um dos reis do seu segmento. Será tentador colocá-lo no mesmo patamar de Honda Civic Type R, Renault Mégane R.S. e companhia pelo nível de potência, mas convém não esquecer que esses são tração dianteira e mais baratos do que o AMG A 35 4MATIC.

Mas, como máquina de emoções fortes e de competência dinâmica, o Mercedes-AMG exacerba precisamente tudo aquilo que se deseja num automóvel do género – confiança, segurança, robustez e imediatez na resposta para que uma ida ao circuito não seja de descartar quando o aborrecimento do dia-a-dia aperta. Impacta a maneira como ganha velocidade, mas também como trava, mercê do sistema de travagem, além da capacidade de curvar em apoio com estabilidade enorme.

O A 35 4MATIC é arrebatadoramente eficaz e deliciosamente viciante para, com ‘apenas’ 306 CV de potência e 400 Nm de binário, oferecer as prestações que oferece num modelo de segmento C Premium. O preço de 61.300€ é mais elevado do que o de propostas semelhantes e os opcionais tendem a fazer crescer a fatura final a pagar, mas o AMG A 35 4MATIC é um compêndio assinalável de engenharia que oferece uma boa relação custo-benefício. Será magia negra?

FICHA TÉCNICA

Mercedes-AMG A 35 4MATIC
Motor: Gasolina, quatro cilindros em linha, Turbo, injeção direta
Cilindrada: 1991 cm3
Potência: 306 CV às 5800 rpm
Binário: 400 Nm às 3000 – 4000 rpm
Velocidade Máxima: 250 Km/h
Aceleração de 0 a 100 km/h: 4,7 segundos
Transmissão: Tração integral 4MATIC otimizada; caixa automática de 7 velocidades
Peso: 1555 kg
Consumo Combinado: 7,3 l/100km
Emissões de CO2: 167 g/km
Preço desde: 61.300€ (ensaiado: 76.344€)

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.