Mercedes G 350d: Não é o que se faz, é como se faz

06/08/2019

SUV há muitos, mas nenhum é como novo Classe G. É um modelo old school, mas adaptado à era moderna…

O Classe G, mais conhecido como Geländewagen, é um dos grandes ícones da Mercedes-Benz. Tendo nascido como um veículo militar, hoje é símbolo de luxo e exclusividade dentro da marca alemã. E são vários os fatores que contribuem para isso: é o carro de eleição de oligarcas, artistas e condutores que procuram distinção; é construído artesanalmente, com uma produção previamente esgotada de um ano para outro; e tudo rematado com um preço a condizer. E não há como fugir. Quem gosta das suas linhas clássicas não quer outra coisa que não seja o Classe G.

Primus inter pares
A família 4×4 do construtor germânico contempla uma série de gamas, e na realinhada filosofia de designações da Mercedes, todas começam pela letra G: GLA, GLC, GLE e GLS. Mas aquele que é apenas o ‘G’ é o rei. Nasceu há 40 anos, tendo sofrido diversas evoluções ao longo dos anos, com variadas carroçarias – três e cinco portas, soft-top e variantes especiais para bombeiros, serviços florestais e até um papa-mobile – e inúmeras motorizações Diesel e a gasolina, onde sobressaem as musculadas versões AMG.

Aquilo que é a verdadeira segunda geração deste ícone foi finalmente estreada o ano passado. Parece o mesmo modelo, mas na realidade é totalmente novo. Clientes e fãs não permitiram que os criativos da marca alemã divergissem da silhueta original, rejeitando mesmo os primeiros esboços partilhados nas consultas à porta fechada.

Apesar de tudo, as dimensões são ligeiramente maiores, e a principal novidade é a suspensão dianteira independente – quando antes era de eixo rígido – de forma a possibilitar a introdução de sistemas de segurança e de apoio à condução. De resto, mantêm-se o perfil quadrado e todos os pormenores ao gosto dos incondicionais, como as óticas redondas à frente, os piscas sobre os guarda-lamas, as óticas traseiras horizontais e a roda sobressalente pendurada no portão traseiro.

Fora do comum
É no interior que se notam maiores diferenças. Como é um ‘4×4 à antiga’ – ou seja, alto –, convém recorrer ao estribo lateral para aceder ao habitáculo. Requinte, solidez e sofisticação é o que se pode esperar, embora num ambiente sóbrio. Há pormenores herdados das gamas A e E, como as saídas de ventilação e sobretudo o duplo ecrã dianteiro de alta resolução, que faz de painel de instrumentos (configurável) e de ecrã central – onde são concentradas todas as funções e comandos multimédia e de gestão dos sistemas de bordo. Aqui, o posto de comando é elevado, como é tradicional nos 4×4.

Este G 350d move-se com suavidade, mais do que o seu antecessor, fazendo uso, neste caso, de um nobre Diesel de seis cilindros em linha – uma configuração de motor que a Mercedes resgatou após quase duas décadas dedicadas aos V6. A sonoridade é viril e não excessivamente filtrada, para não estragar a experiência. Os técnicos da Mercedes-Benz retiveram laivos de rugosidade nesta nova geração, e isso é um pormenor importante.

Com 600 N.m de força disponíveis entre as 1200 e as 3200 rpm, este 350d tem pujança para dar e vender, contando com os préstimos da caixa automática 9G-Tronic para entregar a potência de forma fluida. Graças aos seus 286 CV, e apesar dos seus 2451 kg em ordem de marcha, rapidez não lhe falta. Mas não é disso que se trata o Classe G. Nem precisava de tanto rendimento, pois na verdade, a partir dos 120 km/h notam-se os ruídos aerodinâmicos, cortesia do seu formato quadrangular.

O Geländewagen é para desfrutar em todo o tipo de cenário, do mais refinado ao mais campestre, podendo ir até ao ‘fim do mundo’.

E tudo mérito das suas capacidades trialeiras. Uma das suas características essenciais é possuir três diferenciais 100% bloqueáveis. Se para a maioria dos utilizadores isto diz muito pouco, já os entendidos em todo-o-terreno sabem que isto garante a melhor motricidade em condições extremas. Ou seja, perante um terreno ultra escorregadio, basta que uma das rodas tenha tração para garantir progressão do veículo. Se juntarmos a isto a caixa de redutoras (cada vez mais em desuso) e os ângulos favoráveis para a prática de TT (31 graus de entrada, 30 graus de saída e 26 graus de ângulo ventral) é fácil perceber por razão o Classe G perdura a aura de ser um dos melhores 4×4 ‘puro-e-duros’ da história.

 

Sempre elitista
No entanto, e como é habitual nesta classe de veículos, poucos serão os utilizadores a levar o seu SUV de 163 mil euros para o meio das silvas e a escalar corta-fogos, por mais capaz que ele seja. Seja para proteger o investimento, seja porque ele é mais um símbolo de status, o asfalto será infelizmente o destino de muitos dos novos Classe G.

O conforto é vital neste tipo de automóveis, ainda que neste caso não seja sublime, nem tem de o ser. E tudo porque é um modelo rústico na essência, e a suspensão traseira continua a ser de eixo rígido. Mesmo nas pequenas irregularidades de cidade e arredores, esta arquitetura provoca ligeiros balanceamentos da carroçaria, mais sentidos por quem vai sentado nos lugares posteriores. Não é defeito, é feitio.

A melhor medida a tomar é selecionar a opção de suspensão Sport, o que torna o G 350d mais firme, sem prejuízo na comodidade de todos, além de melhorar um pouco a confiança que incute em curva, já que a altura ao solo e o alto centro de gravidade jogam um papel importante nesta equação. E a verdade é que mesmo com lotação esgotada e bagageira cheia, o comportamento pouco ou nada é modificado. Fruto da nova suspensão dianteira independente, a direção é agora de pinhão e cremalheira (antes, de esferas recirculantes), o que propicia maior precisão e melhor feedback ao condutor. Curva mais depressa que o seu predecessor, mas vamos sempre sentir que estamos a conduzir um veículo alto e portentoso. Mas, bem vistas as coisas, nem o queríamos de outra forma…

FICHA TÉCNICA
Mercedes-Benz G 350d
Motor: Diesel, seis cilindros em linha, injeção direta, TGV, intercooler
Cilindrada: 2925 cm3
Potência: 286 CV/3400-4600 rpm
Binário máximo: 600 N.m/1200-3200 rpm
Tração: Integral permanente, com redutoras e 3 diferenciais bloqueáveis
Caixa: Automática de 9 velocidades, conversor de binário
Aceleração (0-100 km/h): 7,4 segundos
Velocidade máxima: 199 km/h
Consumo médio: 9,6 l/100 km
Emissões de CO2: 252 g/km
Peso: 2451 kg
Preço base da versão (ensaiado): 163.350€ (192.700€)