É praticamente impossível ficar indiferente ao nome Porsche, muito graças ao imaginário desportivo criado em seu torno e que ainda hoje perdura. Ainda que o tempo dos elétricos e dos híbridos se apreste a chegar, a marca alemã não pretende abrir mão desse mesmo legado (aliás, o Taycan promete abrir uma outra porta neste campo), como demonstra com o lançamento da configuração GTS para a gama 718 Boxster e Cayman GTS 4.0, além de um polivalente Macan GTS.

A filosofia por detrás da gama GTS da Porsche não engana, procurando oferecer maior exclusividade e maior dinamismo sem retirar a funcionalidade da utilização quotidiana. Neste sentido, os Gran Turismo Sport replicam um ideal que já tem mais de cinco décadas de existência. No caso da gama 718, tanto o Boxster como o Cayman recebem o tratamento GTS, o que quer dizer que contam com uma maior dose de desportividade e um visual específico com diversos elementos a preto, como é o caso dos spoilers e difusor traseiro, jantes de 20 polegadas e faróis com fundo negro. Além disso, foram aplicadas igualmente alterações no chassis, com a mais relevante a ser a aplicação de suspensão PASM com rebaixamento de 20 mm (existe uma opcional que rebaixa a carroçaria em apenas 10 mm), além de sistema de escape desportivo. Tudo em prol de uma maior eficácia dinâmica.

O interior dominado pela tonalidade negra, tem nos bancos de estilo baquet um enorme contributo para uma sensação de condução emotiva, ‘agarrando’ o corpo dos dois passageiros com enorme satisfação. A entrada e saída desses mesmos bancos não é fácil, atendendo à sua colocação bastante baixa, mas tem o condão de tornar a posição de condução simplesmente fantástica. Circulamos perto do asfalto e isso permite tornar maior a conexão com o automóvel, sentido as suas reações e ‘nervos’ quando instigado a andar mais depressa. No entanto, volante e banco ajustam-se aos gostos do condutor.

Que dinâmica!

Mas esta é só a primeira parte da viagem. A seguinte começa ao rodar a chave da ignição situada no lado esquerdo do volante. O seis cilindros boxer desperta do seu torpor e deixa-se ouvir com um rugido.

No caso dos 718 GTS, esse rugido provém de um motor de seis cilindros boxer de 4.0 litros que já era conhecido do 718 Spyder e do 718 Cayman GT4. Uma unidade atmosférica com 400 CV de potência e 420 Nm de binário que tem outra particularidade muito amada pelos entusiastas da condução – uma caixa manual de velocidades (a PDK chega na segunda metade de 2020) com manuseamento preciso e eficaz. Se as caixas manuais estão em extinção, obras de engenharia como a destes Porsche torna a despedida muito mais difícil…

Efetivamente, os 718 GTS tornam-se máquinas precisas e extremamente emotivas, a começar pela resposta do motor, efusiva na subida de rotações e dotada de maior brutalidade na entrega dos 400 CV quando em modo ‘S+’, que é o mais desportivo dos quatro oferecidos pela marca germânica neste carro e que podem ser ajustados em comando rotativo no volante. Impulsivo na subida de rotações, a energia que entrega torna-se aditiva, tal como a sonoridade emanada pelos escapes, com um flap controlável a partir do habitáculo que faz aumentar ainda mais a sua gravidade. As passagens de caixa são, como já referido, precisas e exemplificam a sabedoria da Porsche no seu desenvolvimento. Ainda assim, não refutam o auxílio eletrónico e nas reduções de caixa há função ‘rev-matching’, que permite simular o ‘ponta-tacão’ de maneira automática (aumenta ligeiramente as rotações quando o pedal da embraiagem é pressionado) para que o ritmo não seja quebrado. Mesmo as recuperações, fruto de uma elasticidade elogiável do motor, são rápidas – ainda que se apreciem melhor quando em condução mais pacata e não em trajetos sinuosos desafiantes ou e circuito – onde pudemos experimentar também o 718 Cayman GTS 4.0. Já lá iremos.

Além disso, a composição sensorial da condução é reforçada pela sua rigidez estrutural e pelo acerto do chassis. A direção é impecável quer na resposta aos inputs do condutor, quer na transmissão do que se está a passar nas rodas dianteiras, auxiliando nas passagens em curva bastante rápidas. Aos poucos, começa a ser viciante e entusiasmante a possibilidade de controlar a trajetória e o deslizamento às quatro rodas apenas com recurso ao acelerador, afinado com enorme precisão.

Aumentando o ritmo, a traseira começa a manifestar-se com maior frequência, sobretudo quando o acelerador é pressionado em demasia à saída de curvas fechadas. Mas é o feedback da direção que permite também reagir à mesma com a devida rapidez. Além disso, o controlo de estabilidade desportivo também ajuda a manter tudo nos eixos. Depois, pisando o travão, resposta mordaz e precisa do sistema reforçado com discos de maiores dimensões no eixo dianteiro, com elevadíssima resistência à fadiga.

Enquanto desportivo, o 718 GTS é um automóvel mais cru, sem ser extremo como um GT4, podendo ser ‘degustado’ com maior dose de progressividade. Muito elogiável, de qualquer das formas. Resta ainda confirmar que, apesar da maior firmeza e das jantes de 20 polegadas, não é dos mais desconfortáveis no mau piso, surpreendendo até neste particular.

Excitante no autódromo

Para comprovar as qualidades dinâmicas deste GTS 4.0, o circuito do Estoril foi palco perfeito, não só para demonstrar a intensidade do motor de seis cilindros, mas também a eficácia e progressividade do chassis. Variado nas suas características, o Autódromo do Estoril continua a ser um bom laboratório para perceber o que vale um desportivo.

De rédea solta, há ‘luz verde’ para explorar as suas potencialidades – ainda que atrás de um instrutor ao volante de um 911 Carrera 4S que impõe o ritmo (elevado) – e a mais interessante de todas é mesmo a sua competência generalizada ao longo dos cerca de 4,3 quilómetros de perímetro do circuito português.

Entrada em curva com precisão fenomenal – confirmando a mesma sensação verificada em estrada – e resposta sempre presente e intensa do motor, a que se alia a fantástica precisão da caixa manual. Os travões são impecáveis em travagem e as transferências de massas previsíveis em curva, o que ajuda no momento de colocar no asfalto toda a potência. Mantêm-se alguns traços de carácter, porém: ligeira tendência para escorregar de traseira quando se acelera muito e cedo demais (apesar de diferencial autoblocante no eixo traseiro) e sonoridade poderosa.

O motor impressiona pela resposta a baixos regimes e pela sua progressividade até quase ao redline, algo que fica percetível em plena reta da meta, quando se coloca num ápice acima dos 240 km/h. Na travagem para a Curva 1, a fundo e em força, não há queixumes da traseira, nem do pedal do travão, oferecendo confiança para mais uma volta a ritmo semelhante. Confiável, como se quer.

O 718 Cayman GTS 4.0 tem um custo a partir dos 120.284€, aumentando ligeiramente para os 122.375€ no caso do 718 Boxster GTS 4.0.

Em suma

Talvez o maior feito da Porsche com esta gama 718 GTS 4.0 seja simbólico – uma demonstração de querer e saber num conjunto muito completo de virtudes desportivas que farão as delícias de quem procura um automóvel para visitas esporádicas ao circuito num qualquer ‘track day’ e para usar no dia-a-dia, descontando, porém, limitações como as da bagagem ou espaços de arrumação a bordo. Mas, como instrumentos de diversão, esta fórmula GTS é inegavelmente um sucesso.

Ficha técnica
Porsche 718 Cayman GTS 4.0
Motor Gasolina, 3996 cc, seis cilindros boxer, injeção direta, atmosférico
Potência 400 CV às 7000 rpm
Binário 420 Nm entre as 5000 e as 6500 rpm
Transmissão Tração traseira, caixa manual de seis velocidades
Aceleração 0-100 km/h 4,5 segundos
Velocidade máxima 293 km/h
Consumo médio (WLTP) 10,9 l/100 km
Emissões CO₂ WLTP 247 g/km
Emissões CO₂ NEDC 246 g/km
Preço 120.284€

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