Renault Clio R.S. Trophy: O Clio Williams dos tempos modernos?

09/03/2017

Na década de 1990, houve um Clio que arrebatou os corações dos entusiastas da condução desportiva, num modelo que homenageava a parceria então vigente entre a Renault e a Williams e que resultou num binómio dominante nos tempos de Nigel Mansell, Alain Prost, Damon Hill e Jacques Villeneuve. 

A introdução deste ensaio com tanta evocação dos tempos de Fórmula 1 tem uma lógica: mostrar que a divisão desportiva da Renault, a Renault Sport (R.S., para abreviar) sabe bem como recolher informação da competição e transferi-la para os seus modelos de produção em série.

Com a renovação de meio de ciclo da gama Clio em meados do ano passado, a Renault aproveitou também para melhorar de forma ligeira a sua variante mais desportiva, uma vez mais contado com a experiência e sabedoria da divisão Renault Sport. E, como já se percebeu, eles sabem o que fazem. Será este Clio R.S. capaz de fazer reviver as emoções do  tão idolatrado Clio Williams?

O que tem de novo?

O renovado Clio R.S. surge com opção única do chassis Trophy, que é como quem diz o mais extremo e pensado para uma utilização em circuito nos track-days. A suspensão com afinação específica (rebaixamento de 20 mm à frente e de 10 mm atrás), as jantes de 18 polegadas e o sistema de escape Akrapovic (opcional), desenvolvido em especial para este modelo, contribuem para uma experiência dinâmica e auditiva muito melhorada.

Ao nível da condução, o diferencial e os pneus Michelin Pilot Sport Cup 2 são alicerces que se traduzem num modelo com uma aura dinâmica muito competente, com uma direção precisa que leva o Clio R.S. pela trajetória imaginada com o máximo de simplicidade. A facilidade com que o eixo traseiro segue, de forma eficaz e com rapidez imediata o eixo dianteiro remete para um universo kart que agradará a todos os que procuram uma experiência desportiva. O Clio R.S. é mais exigente e mais recompensador na forma como enfrenta as estradas sinuosas, mesmo que, sob aceleração a fundo e em segunda, por exemplo, se sinta ainda algum do denominado ‘torque steer’ – o efeito no volante da transmissão da potência às rodas dianteiras.

Mas isso apenas acontece porque o motor 1.6 Turbo de 220 CV e 280 Nm de binário que equipa este Clio R.S. é uma unidade que impressiona pela forma como responde à maior pressão no acelerador, sobretudo em regimes mais elevados a partir das 2.000 rpm. Sobrealimentado, este motor desenvolvido pela Renault Sport é incisivo na entrega da potência, com uma curva de binário muito forte que lhe oferece uma rapidez que é capaz de colar ao banco. Junte-se a isto uma eficaz caixa automática de seis velocidades EDC de dupla embraiagem (fica a curiosidade de imaginar como seria este modelo com caixa manual) e o Clio R.S. tem uma dimensão próxima à de um pequeno carro de competição. Com comando sequencial através de patilhas atrás do volante, de grande dimensão e fixas, consegue-se obter uma maior ligação com o veículo em termos dinâmicos. Quanto à travagem, o sistema desempenha as suas funções de forma exemplar, com elevada resistência à fadiga.

Se em modo Normal, este Renault tem já as suas características vincadas, é no modo R.S. que se obtém ainda mais ‘alma’. Se procurar no sistema RS Monitor, uma preciosidade para os maníacos dos dados e da telemetria (afinal, nunca se sabe quando é que poderá querer cronometrar a aceleração dos 0 aos 100 km/h…), poderá até afinar a resposta do acelerador e personalizar a direção. Coloque o acelerador em ‘Extremo’ e uma ‘patada’ no acelerador é acompanhado de uma colagem ao banco. Se gosta de ir para a pista com regularidade pode incluir dados de circuitos para o sistema de forma a que este possa gerir os dados dos mesmos nas aventuras à ‘Alain Prost’ pelos circuitos.

Nesse mesmo sistema pode monitorizar temperaturas, valores de binário e de potência em tempo real, pressão do turbo, pressão da travagem, ângulo do volante, regime do motor, binário à roda, acelerações, forças “g” e cronómetro de voltas. Todos os dados podem ser gravados numa pen, para posterior análise no computador de casa – uma hora de condução, por exemplo, ocupa um ficheiro com apenas 3 MB.

O seu acerto muito firme tem como compensação algum desconforto para os ocupantes, sobretudo ao nível do eixo traseiro, que é ‘rijinho, rijinho’ e que tem alguma dificuldade em lidar com lombas e desníveis na estrada. O trabalho da suspensão, ainda que muito eficaz nas suas funções dinâmicas, pesa no conforto mais parco, mesmo que seja perfeitamente possível de viver diariamente com o Clio R.S.. Quanto aos consumos, este é um modelo com um ‘apetite’ algo elevado: levando apenas Sem Chumbo 98, os consumos tendem a ser elevados em caso de entusiasmo excessivo do condutor. No nosso ensaio, obtivemos 8,9 l/100 km, o que se distancia dos anunciados 5,9 l/100 km.

Exuberância contida

Ainda que seja um desportivo, o Clio R.S. não é espampanante, acabando por ser a cor tradicional da Renault – o amarelo Sirius (extra por 1.600€) a chamar a atenção deste ‘rebelde’, além, claro, das jantes de 18 polegadas. Na frente, um pormenor digno de realce é a composição das luzes diurnas em LED situadas na zona inferior do para-choques, replicando o axadrezado de uma bandeira. O sistema tem a denominação R.S. Vision, inspirado naquele que se viu no ‘exuberante’ R.S.16 criado em meados do ano passado, e integra as funções de faróis de nevoeiro e de iluminação em curva, bem como médios e máximos. Atrás, o aileron superior, o difusor traseiro e as duas saídas de escape Akrapovic mostram revelam que o R.S. não é um Clio qualquer. É um ‘pocket rocket’.

No interior, o ambiente é sublinhado pelo volante desportivo (com linha central no topo), bancos desportivos de estilo bacquet (ainda que a posição de conduçao seja elevada) e pedais em alumínio, numa demonstração de que a renovação foi positiva, até porque o modelo foi lançado em 2012. O espaço a bordo está apenas na média do segmento, ficando abaixo daquilo que alguns dos seus rivais oferecem na amplitude nos bancos de trás. O custo de 32.205€ apontado pela Renault faz jus ao seu pendor dinâmico, tratando também de justificar o equipamento adicional, como o R.S. Monitor, cruise control e patilhas no volante, que surgem de série.

Veredicto

Aqui tudo gira em torno da expressão eficácia. A Renault renovou os elementos chave do Clio R.S. e com a versão Trophy do chassis oferece um modelo altamente competente e ‘sensitivo’, que graças aos 220 CV de potência do motor se torna numa das escolhas referenciais do seu segmento (no qual rivaliza com propostas como o Peugeot 208 GTi, Opel Corsa OPC, DS 3 Racing e Volkswagen Polo GTI, este último prestes a ser renovado, e um outro, o Toyota Yaris GRMN na calha para chegar). O preço é ligeiramente superior ao de alguns dos seus concorrentes atrás mencionados, mas é também mais potente e algo mais extremo na forma como permite explorar o seu potencial.

“Devo comprar?” O segmento dos utilitários desportivos tem visto o seu leque de opções alargar-se com propostas cada vez mais diversas por parte de diferentes construtores. O Renault Clio R.S. insere-se numa área mais vocacionada para os que preferem filosofias mais extremas, mas também muito recompensadoras em condução dinâmica (sobretudo em modo sequencial). Se é isso que procura, sentir-se-á ‘em casa’. Essa é uma das suas mais-valias, sem que seja inclemente na utilização do dia-a-dia. O preço, contudo, pode ser dissuasor face a alguns concorrentes.

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