Renault Clio TCe 130 RS Line: ‘Cliopátria’

06/09/2019

Líder do mercado português desde o lançamento da geração anterior, em 2013, é difícil não encontrar neste retângulo à beira-mar plantado uma pátria de sucesso para o Renault Clio, ou seja, uma… ‘Cliopátria’! Agora totalmente renovado, tem ainda mais condições para manter o seu estatuto face aos rivais.

Enorme evolução geral face ao modelo precedente, o novo Clio acaba por ser enorme pedrada no charco, mesmo que ocultada pelo estilo que se limita a ser evolutivo e não disruptivo. A marca explicou-nos na apresentação internacional (que decorreu em Portugal) que essa foi uma opção assumida atendendo à enorme aceitação que o design do modelo da anterior geração angariava.

Ainda assim, o novo modelo até parece maior, ainda que a fita métrica contrarie a ideia: com pouco mais de quatro metros de comprimento (4050 mm), tem menos 12 mm do que o modelo lançado em 2013, pelo que o Clio invalida a ideia de que os carros do segmento estão cada vez maiores. Como se percebe, não é o caso… De perfil, para conferir maior distinção, aplicaram-se elementos cromados na parte inferior da carroçaria e no contorno dos vidros e, no caso da unidade ensaiada, jantes de maiores dimensões e ponteira de escape cromada na traseira.

Como novidade absoluta, a plataforma CMF-B, desenvolvida pela marca com o intuito de permitir três pilares essenciais para o futuro: conectividade elevada, eletrificação acessível e automatização da condução. Permitindo maior ligeireza e rigidez, esta plataforma assume-se como o ponto de partida para a grande revolução tecnológica do novo Clio, dando um passo em frente em matérias como a insonorização, qualidade de construção e dos materiais ou na vertente do chassis, com direção com assistência elétrica de desmultiplicação reduzida face ao anterior.

Ponto fulcral desta nova geração do Clio, o interior salta diretamente para o topo do segmento em matéria de qualidade e de construção. A aplicação de muitos materiais macios ao toque em locais tão diferentes como o tablier, portas e consola central remetem para um cuidado superior, sublinhando-se também o facto de ter alguns equipamentos da linha de equipamento RS Line que lhe dão um aspeto mais desportivo a bordo, como o volante com base plana (com borracha demasiado macia, todavia…). Outros detalhes reforçam essa mesma impressão de cuidado com a apresentação, como fica patente também nos botões dos vidros elétricos, que recebem pequeno entalhe cromado. E são esses detalhes que fazem a diferença para um segmento B que se aproxima, em rigor e qualidade, de um segmento C.

Na habitabilidade, por outro lado, temos uma demonstração mais precisa de que é, efetivamente, um segmento B, sobretudo quando se acede aos lugares traseiros. Se no comprimento para as pernas não existem grandes problemas para adultos de estatura média, a largura indica que apenas dois adultos vão em conforto e desde que não sejam muito altos, como já se referiu.

Existem ainda mais locais de arrumação no habitáculo, beneficiando por exemplo da troca da alavanca de travão de parque por um mais funcional sistema de parque elétrico. Outro do trabalho efetuado pela Renault foi no adelgaçamento de elementos como a coluna de direção para ganhar espaço para as pernas do condutor ou o volante com uma unidade de airbag mais compacta, o que permite melhorar a visualização através do volante para o painel de instrumentos. Este, por sua vez, é um ecrã de 7”, com as principais informações de condução e da viagem, sendo funcional.

A bagageira conta com 391 litros de capacidade, com fundo duplo e bocal mais amplo e retilíneo do que no Clio atual. Já o botão para dar ordem de abertura ao porta-bagagens está em posição baixa, entre as luzes de matrícula.

Palpitações desportivas

Mesmo que não vá ser a motorização mais vendida, o 1.3 TCe GPF de 130 CV de potência e 240 Nm de binário permite extrair muito do potencial de um chassis que dá liberdade para condução veloz e, ao mesmo tempo, sem perder competências de conforto. A direção direta ajuda à inserção da dianteira em curva, mesmo que lhe falte algum ‘feedback’. Porém, num chassis tão bem calibrado, essa circunstância é praticamente irrelevante para o condutor, que procura acerto, segurança e estabilidade direcional, além de qualidade de rolamento (e de insonorização), sendo todas estas características que o novo Clio ‘chama’ para si.

Rapidamente dá para perceber que o motor turbo tem enorme fôlego para impelir o Clio para ritmos fortes, com a caixa EDC de sete velocidades (única disponível para este motor) a ser grande responsável pelo aproveitamento de um motor muito refinado e elástico no seu funcionamento. Subidas de regime intensas e acelerações muito rápidas são características de relevo deste Clio que tira partido ainda do Multi-Sense (200€) com modos de condução distintos – do Eco ao Sport (passando pelo personlizável My Sense), mas os seus efeitos são pouco óbvios. Para melhor experimentar o modo Sport, que altera o padrão de funcionamento da transmissão automática, vale a pena recorrer às patilhas atrás do volante para controlo sequencial.

O consumo revela-se comedido com médias fáceis na casa dos seis litros, mesmo que o abuso do pedal direito possa fazer desviar em maior medida a média de utilização face à anunciada pela Renault. No nosso teste obtivemos um registo de 6,7 l100 km.

Um dos outros pilares do novo Clio é o da conectividade, com um novo sistema de infoentretenimento, que é mais simples no seu manuseamento e também mais rápido no acesso aos diferentes menus. Também aqui um passo em frente, até pela facilidade de visualização do ecrã tátil na consola central (neste caso de 9.3 polegadas, que é opcional por 500€, face ao de 7″ que vem de série), mas que, numa tendência corrente, opta por inefáveis comandos táteis também para o sistema de áudio. Não havia necessidade… Seja como for, é preferível usar o já tradicional manípulo ‘satélite’ para controlo do multimédia localizado atrás do volante.

Em matéria de segurança, enorme panóplia de sistemas de assistência, que dão ao condutor mais conforto na sua missão, como o leitor de sinais de trânsito ou o alerta de saída de faixa, a que se junta o já (quase) normal sistema de travagem de emergência autónoma.

Esta versão RS Line tem um preço base de 23.925€, valendo-se de ótima relação preço/conteúdo, embora existam outras variantes disponíveis de menor potência que serão muito mais apelativas para quem procura algo mais equilibrado em termos de performances e economia. No caso da unidade ensaiada, destaque para detalhes opcionais como a pintura metalizada especial Laranja Valência (650€), Pack Vision 360 de câmaras para ajuda ao estacionamento (1080€) e jantes em liga leve de 17 polegadas (500€).

VEREDICTO

O novo Clio deu um grande salto qualitativo em todos os aspetos, sendo um dos melhores modelos do seu segmento, tanto na condução e no equilíbrio entre dinamismo e conforto, mas também na forma como acolhe os seus ocupantes, que continuam a ter alguns entraves na sua habitabilidade, sobretudo atrás. De resto, na versão ensaiada, o motor 1.3 TCe sobressai pela sua enorme elasticidade e competência em todos os regimes de utilização, tirando bom partido da caixa automática EDC de sete velocidades.

Se dúvidas existissem, a Renault desfê-las com esta nova geração do Clio: mais maduro e competente, o utilitário da marca gaulesa tem todos os argumentos para se manter como uma das propostas mais atrativas no segmento e para se manter como o líder na ‘Cliopátria’.

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