Renault Mégane R.S. Trophy: Radicalmente desportivo

05/06/2019

A tarefa da Renault não era particularmente fácil com o novo Mégane R.S., sabendo de antemão que o segmento dos desportivos compactos está mais repleto do que nunca antes, multiplicando-se as ofertas no mercado: das mais extremas como o Honda Civic Type R às mais comedidas como o Volkswagen Golf GTI (ainda que conte com variações como o R para compensar). Mas, como parar é definhar, a marca gaulesa deitou mãos à obra e criou não uma, mas duas versões do seu R.S., uma sigla que identifica o carácter dinâmico da Renault Sport.

Se a versão de base já é conhecida, com os seus 280 CV de potência, a novidade no mercado é a versão Trophy, que eleva a exclusividade e o dinamismo para um patamar que se pode considerar mais extremo, com tudo o que isso acarreta de bom e de menos bom. Por um lado, as vantagens traduzem-se num chassis mais exigente com alteração no amortecimento e motor mais potente, subindo 20 CV para os 300 CV e o binário em 10 Nm para os 400 Nm. Uma fórmula que atrai os amantes da condução desportiva e que tem ainda no sistema de eixo traseiro direcional uma solução técnica avançada para melhorar a sua competência em curva (e não só).

A mecânica de 1.8 litros sobressai pela intensidade na subida dos regimes, mas sobretudo quando ultrapassado a fasquia das 2000 rpm, a partir da qual o R.S. Trophy ganha contornos balísticos, atirando-se à curva seguinte com rapidez excitante. Não que em baixas rotações seja isento de resposta, mas, fruto de uma caixa manual com escalonamento um pouco mais longo, nem sempre é muito lesto a entregar-se de ‘alma’ aos desejos do condutor, sobretudo quando se tratam de recuperações em relações mais altas. Recorrendo à caixa para uma redução, a história muda de figura e a fogosidade regressa, com o condutor a sentir bem o efeito dos 300 CV de ímpeto. A aceleração dos zero aos 100 km/h cumpre-se em 5,7 segundos, para uma velocidade máxima de 260 km/h.

O modo Race do Multi-Sense extrai o máximo deste desportivo, mudando até a sonoridade do escape (através de válvula na ponteira), fazendo com que soe mais grave e com os correspondentes estalidos nas reduções de caixa. Ou só quando se tira o pé do acelerador, na medida em que é viciante.

Quanto aos consumos – se está preocupado com isso, talvez este não seja o ensaio ideal para si… – o Mégane R.S. Trophy compromete-se muito facilmente com médias entre os 9 e os 10 litros por cada 100 km. E quando o objetivo é andar em ‘altas’ nem vale a pena pensar nos consumos de gasolina. De qualquer forma, a média homologada é de 8,4 l/100 km em ciclo WLTP.

Chassis apurado

Face ao modelo que lhe serve de base, esta variante beneficia de algumas diferenças em termos de acerto (na forma de chassis Cup), como por exemplo o diferencial autoblocante mecânico Torsen, a suspensão de batentes hidráulicos de compressão e maior firmeza de amortecimento, tanto no conjunto molas/amortecedores, como nas barras estabilizadoras.

Isso traduz-se no facto de que o R.S. Trophy transmite um maior foco sensorial, dando ao condutor (ou será piloto?) uma maior identificação com o que se passa no asfalto. Uma aproximação a um universo sem filtros ou entorpecimento de sensações com o objetivo de mostrar uma maior eficácia em condução rápida. E isso é algo em que o Trophy está particularmente à vontade, entrando em curva como uma flecha e, depois, rodando pela curva com um comportamento que, à primeira instância, precisa de habituação. São as quatro rodas direcionais a ‘puxar’ o Mégane para o interior da curva, o que faz com que naquelas que são mais longas, se tenha de corrigir a trajetória.

Mas, compreendido o princípio para curvar com afinco, vai sobre carris este desportivo gaulês. Basta ter confiança na sua inserção e, embora levantar o pé do acelerador liberte um pouco a traseira, o R.S. não exibe comportamento arisco. Poder-se-á questionar se isso não é, de certa forma, desvirtuar um pouco a ideia de sensações máximas e de desportivo ‘puro e duro’, mas a eficácia conta mais neste aspeto. Além disso, realce ainda para os travões ranhurados bimatéria (proporcionando uma redução de 1,8 kg por roda), que são incansáveis no momento de parar o ímpeto do R.S., não mostrando grandes sinais de fadiga após utilização mais intensiva. As jantes de 19″ com pneus Bridgestone Potenza S001 fornecem boa motricidade.

Não obstante, há pormenores que vale a pena ter em atenção. A transmissão da potência ao eixo motriz – o dianteiro – acarreta, não raras vezes, um efeito de ‘torque steer’, algo que nem o esquema evoluído de suspensão dianteira, nem o diferencial autoblocante parecem conseguir anular por completo sob jugo dos 300 CV do bloco 1.8 turbo. De igual forma, o tal incremento na rigidez do chassis contribui para um amortecimento muito mais firme, ótimo em pisos lisos, mas que pode ser cansativo quando o alcatrão se transforma em queijo ‘cheddar’, repleto de buracos e incongruências. Mesmo com o modo Comfort do Multi-Sense ativado, o efeito não é propriamente eliminado. Porém, fica tolerável.

No interior, ao qual não faltam os essenciais bancos desportivos de estilo bacquet, com ótimo suporte do corpo em todos os sentidos, respira-se um ambiente desportivo sem grandes concessões à funcionalidade, até porque este modelo é apenas de cinco portas e, com isso, aumenta a sua competência familiar. O volante tem pega desportiva e base plana e a instrumentação tem configuração específica para o modo desportivo de condução, substituindo conta-rotações usual por um mostrador de luzes de estilo de competição para simbolizar a aproximação da zona de corte de rotações (luzes que se vão acendendo até ao vermelho que dá ordem para… seguir em frente para mudança acima). No sistema Multi-Sense, também ecrãs específicos para esta variante, disponibilizando uma espécie de telemetria (R.S. Monitor) com diversos dados de utilização e do funcionamento do motor.

Esteticamente, talvez um dos seus maiores trunfos. Ao contrário de alguns dos seus rivais do segmento – na verdade, apenas o excêntrico Civic Type R –, o Mégane R.S. tem a agressividade estritamente necessária. Não se irá confundir com um outro Mégane, mas certamente que não irá ser tão polarizador na sua abordagem enquanto peça de ‘arte’ visual. Destaque para os faróis com tecnologia LED, a mesma que se aplica nas luzes R.S. Vision em estilo bandeira de xadrez no para-choques dianteiro, para os alargamentos laterais ou para a combinação vistosa na traseira de spoiler e difusor.

O preço a pagar por esta versão mais extrema do Mégane R.S. é de 48.233€, surgindo dotado de uma série de elementos de série que atribuem valor a uma proposta que é já bem interessante pela relação qualidade/preço. Exceção feita ao amarelo Sirius, que tem um custo de 1600€, sendo uma cor especial evocativa do passado Renault Sport, e aos bancos dianteiros desportivos Recaro (2500€), os demais elementos são relativamente acessíveis.

VEREDICTO

A Renault não ficou parada a ver os outros ‘mexer’ no segmento dos desportivos compactos de duas rodas motrizes. Os franceses trabalharam bem no Mégane e o resultado é um desportivo extremamente eficaz e reativo, sobressaindo pela sua faculdade sensorial de andar depressa e com um nível de adrenalina que irá ao encontro de quem procura um modelo deste género. A passagem em curva pode ser feita a velocidades que há dez anos seriam impraticáveis e com um nível de estabilidade a toda a prova.

Mas, eu sei que o leitor tem uma pergunta imediata: é melhor do que o Civic Type R, que é assumido como o ‘rei’ do segmento? Ao primeiro impacto, fica algo aquém do exímio rival japonês, não tanto nas prestações realizadas, mas no trato que oferece – o do japonês mais dócil quando necessário e com uma precisão impressionante em curva. Se a diferença é significativa? Não, talvez por isso escolher entre os dois fosse matéria de foro subjetivo e nem tanto de eficácia pura e dura. E a imagem do gaulês é mais ‘cómoda’ de viver do que a excentricidade do ‘manga’ nipónico. Mas, uma vez mais, tudo subjetivo.

Do que não há dúvidas é de que o Mégane R.S. Trophy exemplifica o ‘savoir faire’ dos franceses na lógica dos desportivos compactos, dando continuidade ao legado iniciado pelos anteriores R.S. e mantendo-se num lugar honroso ‘top of mind’ quando o assunto é pensar em desportivos compactos para andar a ritmos elevados e para emoções fortes.

Características Renault Mégane R.S. Trophy EDC
Motor Gasolina, 4 cilindros em linha, injeção direta, turbo, intercooler, 1798 cc
Potência 300 CV
Binário 420 Nm
Transmissão Dianteira, caixa automática de seis velocidades com modo sequencial
0-100 km/h 5,7 s
Velocidade máxima 255 km/h
Consumo anunciado (medido) 8,4 l/100 km (10,1 l/100 km)
Emissões CO2 190 g/km
Comp./Larg./Alt./Entre eixos 4364 mm/1875 mm/1435 mm/2669 mm
Peso 1518 kg
Suspensão (Fr/Tr) Independente McPherson/eixo de torção
Mala 384-1247 litros
Pneus 245/35 R19
Preço (ensaiado) Preço: 48.300€ (51.250€)

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