Renault Scénic TCe 140 Bose: Jogos de família

01/03/2019

A Renault lança finalmente em Portugal a versão mais compacta da família Scénic, que passa a fazer companhia ao ‘irmão’ maior, Grand Scénic, aproveitando a ‘benesse’ de passar a ser Classe 1 em associação com o dispositivo Via Verde. Para jogos de família, cinco lugares com modularidade garantida, embora mais compacto do que o modelo de sete lugares.

Seja como for, o lançamento do Scénic em Portugal é uma ótima novidade para a Renault, mesmo que chegue com algum atraso. Isto porque a marca gaulesa preferiu apostar todas as fichas na versão de sete lugares, enquanto a lei não se alterou para promover maior justiça nas portagens. Contudo, chegados aqui, mantém-se injustiçado. O Scénic, mesmo com pouco mais de 4,5 metros de comprimento, 1,65 metros de altura e 1563 kg de tara continua a ser Classe 2 nas portagens quando não surge associado a um dispositivo de Via Verde.

No entanto, as suas qualidades suplantam amplamente esse pequeno óbice. Para começar, as linhas de monovolume mescladas com as de um SUV compacto, traduzindo-se em maior altura ao solo e jantes de 20 polegadas, que conferem robustez e nem por isso retiram conforto aos ocupantes (já lá iremos), adotando igualmente carroçaria bicolor, assinatura luminosa tipicamente Renault e faróis em forma de “C” equipados com a tecnologia LED Pure Vision. Na traseira, as luzes criam um efeito 3D, devido ao sistema Edge Light. Proteções inferiores das portas com misto de plástico e cromado também remetem para um universo mais versátil de utilização, mas o Scénic é um estradista, claro.

Jantes de 20”: Dinamismo e preço garantido. Segundo a marca, graças a um acordo com os principais fabricantes de pneus, o preço desta “excentricidade” é igual ao que seria pedido por unidades de 17’’.

A bordo, o ambiente denota qualidade elaborada, não só pelos materiais macios na parte superior do tablier, mas também pela construção que, apenas destoa na parte inferior do habitáculo e em pequeníssimos detalhes que em nada influem numa apreciação muito positiva deste monovolume compacto. Posição de condução elevada, boa visibilidade geral e um tablier que se prolonga pela frente do veículo, dando-lhe até uma impressão de maiores dimensões. Em modelo do género, importam também os espaços de arrumação diversificados, garantidos pelo enorme ‘baú’ no túnel central (ajustável longitudinalmente), portas e alçapões sob os pés nos lugares traseiros, cujos bancos deslizam sobre calhas para assim variar o espaço disponível para as bagagens.

Rebatíveis (com comando ‘One Touch Folding’ utilizável a partir do tablet central R-Link 2 ou nas laterais da bagageira) e deslizáveis, aos bancos traseiros moduláveis juntam-se também o banco do passageiro dianteiro que pode assumir a posição de mesa. Espaço e modularidade é assim algo que não falta para os passageiros, possibilitando a viagem confortável de três adultos nos bancos posteriores. Ainda assim, as mesas dos encostos dos bancos dianteiros podem tocar nos joelhos de passageiros mais altos. A bagageira é elemento muito positivo, com os seus 572 litros de partida, beneficiando ainda do comando para rebatimento rápido do banco.

Bem dinâmico

Ao volante, a ideia de que o Scénic seria um modelo pouco apto a toadas velozes cai por terra aos primeiros quilómetros. Bastante ágil, o Scénic manifesta rolamento da carroçaria muito contido, ganhando pontos pelo bom acerto da suspensão e pelas jantes de 20 polegadas, que traduzem dinamismo na sua expressão máxima. Todavia, o incómodo para os ocupantes decorrente dessa escolha é mínimo, com boa filtragem das irregularidades do piso ou empedrado. Nota-se, obviamente, uma maior firmeza no amortecimento, mas está longe de penalizar o conforto a bordo.

Mas não é só o Scénic em si que é novidade. Também a gama de motores a gasolina é novidade de monta. Depois da estreia no Mégane, os motores a gasolina de 1.3 litros com 140 CV ou 160 CV (desenvolvimento conjunto com a Daimler) passam a estar disponíveis no Scénic, prometendo uma condução semi-desportiva e eficiência acrescida. Mas cumpre com essas promessas, até mesmo no caso da variante TCe de 140 CV.

A disponibilidade em baixos regimes é extremamente agradável para condução sem preocupações, ganhando ritmo com facilidade e até impetuosidade que remetem para ambições mais altas. A energia com que se ‘entrega’ ao condutor é até surpreendente pela elasticidade permitida em redor das 1500 rpm, estendo-se depois até às 3500 rpm. O bom escalonamento da caixa manual de seis velocidades – com a sexta mais longa, mas não em demasia – ajuda nas recuperações, pelo que esta versão de 140 CV poderá ser uma das preferidas dos condutores lusos que procuram prestações e facilidade de condução em todos os cenários. Quanto aos consumos, é fácil andar na casa dos sete litros, escolhendo sobretudo o modo ECO do sistema Renault Multi-Sense, que faz variar alguns dos parâmetros do veículos, como a resposta do acelerador, a direção, a iluminação ambiente e a instrumentação, ou a eficácia da climatização. No nosso ensaio, obtivemos uma média de 7,1 l/100 km, não muito longe dos anunciados 6,7 l/100 km do ciclo WLTP médio.

Quanto a equipamento, esta versão Bose destaca-se pelo sistema de som (que dá nome à variante…), a que acresce ainda uma panóplia de elementos que dão valor a este modelo de família, como os sensores de chuva e de luminosidade, reconhecimento dos sinais de trânsito com alerta de excesso de velocidade, ar condicionado bi-zona, alerta de colisão dianteira com travagem automática, consola central ‘Easy Life’ deslizável, aviso de saída de faixa, câmara de marcha-atrás com sensores dianteiros e traseiros, Multi-Sense, sistema R-Link 2 com ecrã tátil de 8.7 polegadas e head-up display, entre outros. Mais do que suficiente para justificar os 33.420€ pedidos pela versão Bose.

VEREDICTO

Antes de entrar pela apreciação muito concreta do Scénic TCe 140, atente-se nos preços das correspondentes versões de entrada a gasóleo e gasolina, neste caso, a Blue dCi de 120 CV e do TCe de 140 CV. A primeira tem um custo na versão Limited de 36.570€, enquanto a segunda tem um custo base de 31.070€. Ou seja, a compensação pela primeira opção surge apenas para todos aqueles que fazem muitos quilómetros de forma regular, pelo que o motor a gasolina de 140 CV deverá ter uma faixa crescente de adeptos.

Posto isto, a versão ensaiada mostra um conjunto de aptidões familiares que é uma mais-valia em todos os aspetos passíveis de análise, destacando-se a eficácia e suavidade da motorização a gasolina, a que se junta a sua disponibilidade, mas também o nível acertado de conforto, a versatilidade e os muitos espaços de arrumação a bordo. Face a isto, o Scénic torna-se num companheiro de viagem facilmente recomendável pelo conjunto de atributos a um preço que é acessível e justificado pelo amplo equipamento.

Ficha técnica

Renault Scénic TCe 140 FAP
Cilindrada (cc) 1.332
Potência máxima (cv/rpm) 140/5.000
Binário máximo (Nm/rpm) 240/1.600
Velocidade máxima (km/h) 201
0-100 km/h (s) 10,4
Emissões CO2 (g/km) 151-154
Consumos: ciclo completo (l/100 km) 6,7-6,8
Preço: 31.370€*
*Versão Limited com caixa manual de seis velocidades

Percorra a galeria de imagens acima clicando sobre as setas.