Primeiro CUPRA 100% elétrico, o Born retrata o esforço inicial da marca catalã para oferecer um compacto desportivo de carácter mais entusiástico e simultaneamente respeitador dos princípios estéticos da companhia. Uma boa surpresa que dá otimismo quanto aos automóveis sem emissões mais entusiásticos de conduzir.

Nasceu como um concept com o símbolo da SEAT, mas é com a insígnia ‘tribal’ da CUPRA que o Born se apresenta ao mercado. Contando com um acerto mais desportivo para fazer jus ao legado mais irreverente da marca catalã que se há cerca de quatro anos se emancipou da SEAT, o Born recorre à plataforma MEB do Grupo Volkswagen e a alguns dos componentes criados para os automóveis elétricos de nova geração.

Não é de estranhar, por isso, que o formato e as suas características essenciais não sejam propriamente surpreendentes, seguindo ao invés um caminho de consolidação de virtudes no caso da CUPRA, que se evidencia também pelo princípio estético de um modelo mais agressivo, com grandes jantes de 20″ na versão ensaiada a preencherem muito bem as cavas das rodas, enquanto as assinaturas luminosas à frente e atrás ecoam o cuidado já depositado pela marca anteriormente em modelos com o o Leon. Esteticamente, o desenho jovial ajuda a destacá-lo na multidão.

Tal como noutros automóveis baseados na MEB, o Born conta com a mesma compleição técnica de motor traseiro e tração igualmente feita às rodas traseiras, o que, depois, se traduz numa condução muito interessante para quem procura algo mais emocionante de conduzir. Isto porque o Born beneficia de um acerto de chassis – suspensão e direção – específico que lhe garante um comportamento mais ‘vivo’ e divertido de explorar, ao mesmo tempo que tira partido de baixo centro de gravidade decorrente da bateria de iões de lítio – de 58 kWh – como parte integrante da plataforma entre os dois eixos.

A motorização singular no eixo traseiro oferece um total de 150 kW/204 CV de potência e 310 Nm, sendo este o valor que melhor consegue contribuir para uma resposta mais entusiasmante nas prestações. Como é hábito dos elétricos, é fácil obter um ganho de velocidade considerável sem grande esforço, o que também é o caso aqui, agradando nas acelerações e nas retomas, sobretudo no modo de condução mais desportivo de entre os disponíveis.

Quando ativado para percursos sinuosos, o Born exibe-se em ótimo patamar, com os amortecedores mais duros e as molas mais curtas em 15 mm a permitirem uma maior agilidade e um controlo mais eficaz da carroçaria, ocasionalmente deixando a traseira deslizar um pouco antes de o assistente eletrónico de estabilidade entrar em ação. Acaba por ser possível, ainda que por breves instantes, que a rotação da traseira ajude à sua trajetória em curva. O peso do conjunto não é totalmente retirado da equação, sentindo-se, nomeadamente, em mudanças mais bruscas de direção, sendo isso que lhe impede de clamar a designação de desportivo puro.

O pedal do travão exige alguma habituação, por inerência da regeneração de energia, mas dá ao condutor a confiança necessária para condução mais desportiva. Neste capítulo, saliente-se que o facto de atrás ter tambores e não discos não lhe retira eficácia na travagem, até porque o motor elétrico atua igualmente como ‘travão’.

O CUPRA Born tem os condimentos necessários para agradar a quem procura um elétrico requintado, com boas prestações e dinamicamente competente (capaz de agradar como poucos elétricos no mercado) sem penalizar o conforto ou o consumo.

Por outro lado, graças à sua maior firmeza em mau piso, o Born transfere para os ocupantes algumas das oscilações provenientes do mau piso, não se podendo considerar, de qualquer forma, desconfortável num sentido muito penalizador. As jantes de 20″ na unidade ensaiada, também desempenham o seu ‘papel’, auxiliando a dinâmica, mas tirando-lhe também alguma ‘finesse’ no rolamento.

Tendo já abordado o tema dos modos de condução, este modelo conta com quatro, sendo o ‘Range’ (autonomia) aquele que melhor defende a longevidade da carga da bateria, havendo ainda os modos ‘Comfort’, ‘Performance’ (o mais desportivo) e o configurável ‘Individual’.

Seja como for, o CUPRA Born tem os condimentos necessários para agradar a quem procura um elétrico requintado, com boas prestações e dinamicamente competente (capaz de agradar como poucos elétricos no mercado) sem penalizar o conforto ou o consumo, que no nosso ensaio ficou em modestos 13.6 kWh/100 km. Este é um valor francamente positivo e que ajuda a que a autonomia de 400 quilómetros entre carregamentos seja alcançável sem grandes dificuldades.

No momento de carregar, o Born admite até 11 kW em corrente alternada (AC) com recurso a ‘wallboxes’) ou até 100 kW em corrente contínua (DC), nos postos dedicados, bastando cerca de 35 minutos para repor até 80% da carga nestes últimos.

Interior moderno mas nem tudo é excelente

O interior do Born ostenta uma apresentação muito cuidada e bem conseguida em termos de construção e de espaços de arrumação, sendo particularmente bom nestes dois últimos capítulos. O volante desportivo tem ótima pega e a posição de condução é boa, mesmo que elevada – as propriedades da plataforma MEB fazem-se perceber – dando ao condutor uma boa perceção da estrada e da área envolvente.

Por outro lado, falta um pouco mais de diferenciação face a propostas como o ID.3 da Volkswagen, por exemplo, na medida em que o conceito base é semelhante. Ou seja, um painel de instrumentos bastante minimalista de 5.3″ complementado com o sistema head-up display que serve um propósito excelente de informar o condutor, aliado a um ecrã tátil central de 12″ que serve de centro nevrálgico de todas as operações do veículo, permitindo conectividade com Android Auto, Apple CarPlay e Mirror Screen.

Ainda que a visibilidade para o ecrã seja excelente, o ajuste em movimento de parâmetros como a climatização é pouco intuitivo. Também a falta de iluminação nas teclas que servem para baixar a temperatura ou o volume logo abaixo do ecrã tátil não é propriamente funcional, nomeadamente à noite. O mesmo se pode dizer do comando tátil para alternar entre a abertura dos vidros dianteiros e traseiros a partir da porta do condutor. Por vezes, descomplicar é a melhor rota…

Algo que não merece reparos é a habitabilidade, com excelentes cotas de espaço a bordo, sobretudo nos lugares traseiros, dando até a possibilidade de um terceiro ocupante atrás sem se tornar demasiadamente ‘apertado’. Naturalmente, que dois adultos poderão viajar com maior comodidade, sem constrangimentos para as pernas ou em altura, mesmo para os mais altos. A insonorização de alto nível assegura que os ruídos exteriores são bem contidos e faz com que a vivência a bordo deste Born seja bastante agradável, quer se vá ao volante, quer se viaje no banco de trás.

Proposto por um valor base a partir dos 40.029 euros, o CUPRA Born assume uma lista de equipamento muito completa logo desde base, compreendendo elementos como as jantes de 18″ de estilo ‘Cyclone’, faróis Full LED, ecrã central de 12″, navegação e CUPRA Connect Plus, cruise control adaptativo e câmara traseira.

Depois, os opcionais como a pintura Azul Aurora (960€), as jantes ‘Blizzard’ de 20” (1439€), os bancos estilo bacquet (1823€), o head-up display com realidade aumentada (1055€), o tejadilho panorâmico ‘Skyline’ (1055€) ou o conjunto de tecnologias Pilot L (por 618€ e que inclui câmara ‘Top View’, alerta de tráfego traseiro, assistente de faixa de rodagem, sistema de aviso de saída, assistente automático de máximos e Park Assist inteligente) elevam o valor final a pagar para cerca de 48.000€, que acaba por ser um valor algo elevado.

VEREDICTO

Mais do que um desportivo de carácter agressivo e sem credenciais de conforto, o novo CUPRA Born representa uma etapa extremamente interessante de descobrir por parte dos condutores mais afoitos que buscam a essência da condução elétrica sem emissões associada a uma condução progressiva que não se limita a fazer o trajeto de ‘A’ para ‘B’.

O Born, com os seus 204 CV de potência, é rápido a acelerar e saudosista da antiga era dos GTI em termos de prestações. Mas está também apto a curvar de forma dinâmica, afastando a ideia de que os elétricos mais compactos tenderão a ser desprovidos da vertente emocional na condução numa fase em que parece que apenas a estética prevalece.

O Born é uma prova de que há margem para ambas as partes coexistirem na nova era da mobilidade: apelativo no desenho, sem ruído do motor (que não o artificial), mas capaz de oferecer sensações de condução condizentes com a ambição da CUPRA. Equilibrado, confortável e espaçoso, do Born apenas gostaríamos de maior diferenciação na composição do interior face aos seus ‘primos’ assentes na plataforma MEB. Não é – ainda – a fase dos desportivos elétricos descomplexados na CUPRA. Mas, para primeiro esforço, fica um gosto muito saboroso…


MAIS
Equilíbrio entre dinamismo e conforto
Boas prestações
Qualidade de construção
Autonomia realista
Boa eficiência
Habitabilidade
Desenho jovial

MENOS
Concentração de funcionalidades no ecrã tátil central
Comandos táteis nas portas e volante
Interior algo ‘colado’ ao de outros modelos com a mesma plataforma

Ficha Técnica
CUPRA Born 58 kWh
Motor Motor elétrico singular, síncrono de íman permanente
Potência 150 kW/204 CV
Binário máximo 310 Nm
Bateria Iões de lítio, 62 kWh (58 kWh úteis)
Transmissão Tração traseira, caixa de 1 vel.
Acel. 0-100 km/h 7,3 segundos
Vel. máxima 160 km/h
Consumo médio (WLTP) 15,5 kWh/100 km
Emissões CO2 (WLTP) 0 g/km
Autonomia (WLTP) 418 km
Tempo de carregamento 35 min. de 5-80% a 120 kW (CC); 6h15 de 0-100% a 11 kW (AC)
Dimensões (C/L/A) 4322/1809/1540 mm
Distância entre eixos 2766 mm
Peso 1736 kg
Bagageira 385 litros
Pneus 215/55 R18
Preço 40.029€ (ensaiado: 48.000€)
Gama desde 40.029€

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