Com a eletrificação a ganhar cada vez mais espaço, já nem os desportivos escapam incólumes à mudança, como demonstra a mais recente geração da gama Leon, solução que junta motores de combustão e elétrico para uma potência combinada de 245 CV e 400 Nm de binário máximo. Nesta nova forma de ser dos desportivos, o que se ganha e o que se perde com a hibridação? O CUPRA Leon e-Hybrid na variante Sportstourer ajuda a perceber melhor.

Recorrendo à mais recente geração Leon, um progresso em todos os sentidos, a CUPRA mantém o seu plano de emancipação, tornando-se cada vez mais numa marca independente da SEAT, mesmo que os pontos de contacto sejam evidentes – afinal de contas, a plataforma e os princípios de génese são os mesmos. Imagine-se o CUPRA Leon e-Hybrid como o alter ego do modelo com o símbolo da SEAT, mais agressivo e mais focado na sua missão desportiva.

Dessa forma, se os traços gerais são os mesmos, a versão CUPRA adota um para-choques distinto, com uma grelha de novos contornos, saias laterais distintas, o spoiler posterior e as jantes de visual distinto e de maiores dimensões (19 polegadas, neste caso). Além disso, o novo logótipo da tatuagem tribal está em grande destaque, povoando a carroçaria e o interior. Nota ainda para os diversos elementos em tonalidade cobre, mais um indicador da especificidade da versão, presente no exterior e no interior.

Aqui, predomina o ambiente bem conseguido, com desportividade moderada, sublinhada pelo painel digital de 10.25″ com mostradores específicos para a versão CUPRA, bancos desportivos com maior suporte do corpo e, a juntar ao valorizado rigor de construção e boa escolha de materiais (com os plásticos mais duros na zona inferior do habitáculo, mais longe da vista e do toque), alguns apontamentos de tom cobre (como nos embelezadores das saídas de escape que… são apenas elementos estéticos e não reais contornos para os escapes).

A localização da bateria abaixo do piso de carga retira alguma capacidade à bagageira, num total de 470 litros disponíveis. Algo de que não somos adeptos é a concentração de todos os comandos e funcionalidades no ecrã central tátil de 10″, sendo necessário adaptação, sobretudo na ativação da climatização. Por outro lado, nota positiva para a iluminação ambiente adaptativa, variando a cor do habitáculo consoante o modo escolhido, mas também dispondo de uma função em matéria de segurança, servindo de alerta para o sistema de ângulo morto ou saída da via de rodagem.

Combinação eficiente

No caso do CUPRA Leon e-Hybrid, a escolha mecânica recai num sistema híbrido plug-in de 245 CV de potência combinada e 400 Nm de binário máximo quando os dois motores ‘empurram’ em uníssono. No lado do bloco térmico encontra-se o bem conhecido 1.4 TSI de 150 CV e 250 Nm, enquanto do lado da ‘era do eletrão’ está uma máquina elétrica de 85 kW (116 CV), sendo necessário recordar, uma vez mais, que a potência combinada não é apenas a soma dos dois motores. A caixa escolhida para esta combinação é a automática de dupla embraiagem de seis velocidades (DSG). A alimentar o motor elétrico está uma bateria de iões de lítio de 13 kWh, que pode ser recarregada em seis horas numa tomada doméstica (2.3 kW) ou em cerca de quatro quando ligada a uma ‘wallbox’ de 3.6 kW.

A primeira impressão ao entrar no universo híbrido deste CUPRA é que… impera o silêncio. Ao contrário de outros desportivos, o arranque (feito a partir de botão colocado no volante, onde também se encontra o botão dos modos de condução) é quase impercetível, com o modo elétrico a assumir as despesas, sempre que necessário e que possível. Depois, em modo elétrico e se acionado o modo ‘CUPRA’ dos perfis de condução, a sonoridade altera-se e surge uma estranha produção acústica a partir dos altifalantes para que aos ocupantes seja concedida alguma ligação com os modelos de motor de combustão. Estranho… e não morremos de amores, sobretudo porque se torna algo monótono ao fim de algum tempo.

Mas, com 52 quilómetros de autonomia homologada e realisticamente capaz de os cumprir desde que não se opte pelo modo ‘CUPRA’ e por uma condução desregrada, esta carrinha sobressai desde logo por essa mesma capacidade de se assumir como uma familiar prática e eficiente, sem demonstrar qualquer inibição de ritmo e sem se assumir como excêntrica para o dia-a-dia. Ao mudar-se o modo de condução para ‘Comfort’, a Leon e-Hybrid Sportstourer torna-se numa requintada companheira de viagem, fazendo a permuta entre os dois motores (quando há carga suficiente na bateria) de maneira a retribuir com bons níveis de economia.

Quando se quer extrair um pouco mais desta combinação motriz, os dois modos seguintes são os mais indicados: ‘Sport’ e ‘CUPRA’. Neste último, a performance ganha maior peso, com o chassis a receber configurações específicas, como a direção variável mais direta e com menor assistência, a suspensão ligeiramente mais firme, a sonoridade mais grave que se ouve no habitáculo e a resposta mais empenhada do sistema híbrido.

A sua performance sobressai pela entrega do binário elétrico em apoio ao motor térmico quando se deseja, por exemplo, fazer uma ultrapassagem (ainda que a caixa automática de seis velocidades evidencie alguma renitência na necessidade de redução rápida de mudanças), fazendo com que as prestações sejam um ponto positivo. No modo ‘CUPRA’ este Leon deixa patente o seu maior elo de ligação ao mundo desportivo da Catalunha. Sendo muito rápido e transmitindo exatamente essa sensação ao condutor (a aceleração dos zero aos 100 km/h cumpre-se em 7,0 segundos), não deixa de ser bastante eficiente na sua abordagem a percursos sinuosos: entra bem em curva, com dianteira muito afinada e a traseira a seguir pela mesma trajetória, obediente e sem sobressaltos. Mas, falta-lhe um pouco de entusiasmo no comportamento – algo que é compensado, de certa forma, pela energia do sistema híbrido e que, isso sim, obriga a uma atenção constante e sistemática na aproximação às curvas. Eficaz, mas não excitante.

A suspensão adaptativa garante uma ótima estabilidade sem colocar em causa o conforto, naquele que é um verdadeiro mérito. Raramente, a carrinha Leon e-Hybrid se sente firme ou desconfortável, valendo a pena elogiar também o comportamento do sistema de travagem, que é mordaz e competente para travar os ímpetos desta carrinha, mesmo tendo ‘apenas’ discos dianteiros de 340 mm face aos de 370 mm das versões mais potentes, com o crivo da Brembo.

No ‘mundo’ de opções permitido pela combinação híbrida, há ainda modos puramente elétrico (E-mode) selecionável no ecrã tátil central e de salvaguarda da carga presente na bateria para uso posterior, que pode ser útil para quando se deixa uma via rápida rumo a um centro urbano. Naturalmente, sendo um híbrido plug-in, há que ligá-lo à tomada para se obter o melhor em termos de consumos e de emissões.

No nosso ensaio, o percurso de 100 quilómetros efetuado – 50% urbano e o resto em traçados mistos via rápida/autoestrada a velocidades constantes e legais – permitiu-nos obter uma média de 2,7 l/100 km no modo ‘Comfort’, aumentando depois no mesmo modo ‘Comfort’, mas com a carga da bateria sempre abaixo de 10%, para os 4,4 l/100 km. Muito positivo. Com o modo ‘CUPRA’ a média tende a agravar-se em concordância com a maior voracidade de andamento. Não há milagres, mas, por outro lado, fica facilmente pelos 6,0 l/100 km.

Com um preço comedido de 42.425€ e bem dotado em equipamento, a versão e-Hybrid do CUPRA Leon cumpre com o que se propõe, oferecendo uma dose suplementar de racionalidade para a emoção desportiva tão ameaçada hoje em dia. Entre os opcionais, destaque para a cor metalizada (456€), teto panorâmico de abrir elétrico (868€), portão da bagageira elétrico com ativação pelo pé (438€), cabo de carregamento modo 3 (148€), volante desportivo com botões ‘satélite’ dos modos de condução e ignição (624€) e Pacote Segurança & Condução XL em combinação com Sistema de Navegação Plus 10″ (796€).


VEREDICTO

O CUPRA Leon e-Hybrid Sportstourer encaixa perfeitamente entre os objetivos modernos das marcas que procuram oferecer emoção de condução e, ao mesmo tempo, baixar emissões poluentes. Por isso, esta carrinha desportiva permite afirmar-se como um ‘dois em um’ eficaz e competente, mantendo a aura desportiva e emocional dos CUPRA, mas adicionando um manto de realismo para quem procura fazer deste automóvel uma escolha quotidiana. E é aqui que reside o maior sucesso do Leon plug-in desenvolvido pela CUPRA. É incisivo, mas cómodo. É rápido, mas não exuberante. E é capaz de oferecer consumos médios que ainda há cinco anos seriam inimagináveis para um desportivo de 245 CV.

Ainda assim, enveredando por esse caminho de racionalidade, o CUPRA Leon e-Hybrid Sportstourer fica algo aquém das emoções mais extremas inculcadas na filosofia CUPRA em termos de reações e de comportamento. O que, atendendo à ambição de maior amplitude de escolha na gama CUPRA, se revela uma estratégia acertada. Muito possivelmente, atendendo ainda aos seus baixos consumos, não surpreenderá se for a versão mais vendida na gama do novo CUPRA Leon.


MAIS
Prestações do sistema híbrido
Consumos baixos
Qualidade geral
Espaço atrás
Condução eficaz
Autonomia elétrica

MENOS
Capacidade da bagageira ligeiramente prejudicada
Concentração de funcionalidades no ecrã tátil
Falta de alguma emoção e entrosamento na condução

FICHA TÉCNICA

CUPRA Leon 1.4 e-Hybrid Sportstourer

Motor térmico Gasolina, 1395 cc, quatro cilindros em linha, turbo, intercooler
Potência 150 CV entre as 5000 e as 6000 rpm
Binário 250 Nm entre as 1550 e as 3500 rpm
Motor elétrico Síncrono de íman permanente, 85 kW (116 CV), 330 Nm
Bateria Iões de lítio, 13 kWh
Potência combinada 245 CV
Binário combinado 400 Nm
Transmissão Dianteira, caixa automática de seis velocidades
Dimensões (C/L/A) 4657/1799/1463 mm
Distância entre eixos 2681 mm
Aceleração 0-100 km/h 7,0s
Velocidade máxima 225 km/h
Consumo médio 1,5 l/100 km
Emissões CO2 32 g/km
Autonomia elétrica 52 km
Carregamento 3h45 de 0 a 100% a 3.7 kW; 5h50 de 0% a 100% a 2.3 kW
Peso 1717 kg
Bagageira 470 litros
Pneus 235/35 R19 (série)
Preço base 42.425€
Preço ensaiado 47.133€

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