A identidade e o formato de sucesso mantêm-se, mas a filosofia é outra: o novo 500e recorre a uma motorização 100% elétrica, promovendo uma profunda renovação técnica e tecnológica face ao anterior 500 (que se mantém em comercialização, por enquanto) com foco na mobilidade sustentada. Como citadino, é um ‘cidadão’ exemplar. No entanto, não está limitado a terrenos urbanos.

Responsável por boa parte do sucesso da Fiat na última década e meia, o 500 renovou-se por completo para se adaptar à nova era da mobilidade, tornando-se totalmente elétrico. No entanto, o 500 não perdeu as características que conquistaram tantos adeptos ao longo dos tempos, desde a primeira geração até à que fez renascer o modelo, em 2007.

Em primeiro lugar, num detalhe fundamental, a Fiat soube manter a inspiração estética no 500 original (com detalhes bem modernos como os faróis LED), mantendo as dimensões igualmente contidas, embora tenha crescido ligeiramente em todos os sentidos graças à nova plataforma pensada apenas para a eletrificação (não haverá motores de combustão no novo 500). Face ao modelo precedente, cresceu 6 cm de comprimento, 6 cm de largura e 2 cm na distância entre eixos, ficando ligeiramente mais robusto na sua postura.

A secção dianteira mais direita, a grelha inferior simplificada e os dois grupos óticos circulares (o superior divide-se pelo capot), tornam a ‘face’ do novo 500 mais moderna e engraçada ao olhar, enquanto a traseira não foge muito ao que seria de esperar, embora os farolins apresentem também tecnologia LED e o novo monograma identificativo da marca no cimo da tampa da bagageira.

Já no interior, sobressai o visual moderno, com painel de instrumentos digital de 7.0 polegadas a que se junta um ecrã tátil central de 10.25 polegadas, a partir da qual é possível configurar praticamente todas as funcionalidades tecnológicas graças ao novo sistema de infoentretenimento Uconnect 5 (compatível com Android Auto e Apple CarPlay). Além disso, é possível também configurar os horários dos carregamentos e tirar partido de funcionalidades como a navegação. O mapa de navegação em 3D pode ser visualizado também no painel de instrumentos de 7.0”. Para simplificar ao máximo a interação, um sistema de reconhecimento de voz em linguagem natural permite interagir com a viatura dizendo “Hey, Fiat”.

Apesar da redução substancial de botões físicos no tablier, a Fiat manteve os comandos independentes da climatização, havendo também um vão espaçoso entre os dois passageiros da frente.

No entanto, num habitáculo muito acolhedor e bem construído, há outros pontos de interesse, como os detalhes que evocam a sua proveniência italiana, uns mais escondidos do que outros, como nos puxadores interiores das portas ou no espaço para os smartphones em baixo do ecrã central. Na versão Cabrio, até a capota em lona apresenta o monograma ‘FIAT’, assim como os bancos.

No capítulo da habitabilidade, apesar do crescimento nas dimensões, note-se que o 500e não apresenta grandes ganhos face ao anterior, com dois lugares traseiros ‘justinhos’ e bagageira de apenas 185 litros, claramente à medida das suas aspirações urbanas. Nada que não se esperasse de antemão.

Música no arranque

A pressão no botão de ignição é acompanhado do silêncio comum dos elétricos, mas o primeiro arranque faz ecoar parte da melodia do filme ‘Amarcord’, de Federico Fellini, uma vez mais numa alegre alusão ao seu passado e à intemporalidade da banda sonora composta por Nino Rota para a película de 1973.

Na versão mais potente à nossa disposição, o motor elétrico de 87 kW (118 CV) e 220 Nm de binário está montado na dianteira, sendo esta conjugação responsável por excelentes prestações: sempre pronto a acelerar e reativo nas recuperações, graças ao característico binário elétrico deste tipo de motores, o 500e nunca demonstra falta de ritmo.

Essa vivacidade permite-lhe não só viver a cidade alegremente, mas também rumar a outras paragens, valendo-se da bateria de 42 kWh (37.3 kWh ‘úteis’), que lhe vale uma autonomia oficial de 320 quilómetros (ou 460 quilómetros em ciclo urbano WLTP). Um dos pontos melhorados foi o da posição de condução, agora mais baixa em comparação com a do 500 anterior. Nos bancos falta algum suporte lateral, mas apenas se sente quando se aborda uma curva com mais velocidade. Fruto de uma boa direção, comunicativa e leve, o 500e está na cidade como um ‘peixe na água’, enquanto o amortecimento suave promove ótimos níveis de conforto para os ocupantes.

Por outro lado, fruto da nova plataforma e do baixo centro de gravidade proporcionado pela bateria, o 500e denota estabilidade e segurança em curva, mesmo que não seja propriamente dado a excessos. É sóbrio e robusto, com um bom pisar, a que se junta também uma boa insonorização – quando a capota em lona está fechada, obviamente.

Sobretudo, ao longo da viagem, este é um automóvel ‘feel good’, que retribui com uma sensação de positividade algo própria do seu carácter italiano – visível nos detalhes como os sons que acompanham a experiência de condução.

Tudo isto é ainda reforçado pela eficiência. Dois dos três modos de condução permitem maior regeneração de energia e consumos mais contidos, os ‘Range’ e ‘Sherpa’ – este último é capaz de limitar a entrega da potência em prol de um maior alcance. Mas se os modos de condução são hoje trivialidades do automóvel elétrico, já os consumos médios que obtivemos surpreendem: no nosso ensaio de 100 quilómetros, obtivemos uma média de 9.8 kWh/100 km, recorrendo na maioria aos modos ‘Normal’ e ‘Range’. Ou seja, nem precisámos do modo mais comedido de condução, o ‘Sherpa’ para prolongar a autonomia para lá dos 300 quilómetros entre cargas.

Para recarregar, admite ligações a tomadas AC (até 11 kW) e DC (até 85 kW), demorando cerca de 35 minutos neste caso para passar de zero a 80%.

Os preços começam nos 24.150€ para a versão de 24 kWh ‘fechada’, com esta variante Cabrio La Prima a ter um custo de 37.250€.

VEREDICTO

Já alguns tentaram, mas parece que a receita ideal é a da Fiat. Os citadinos de âmbito estritamente elétrico não são propriamente novos, tendo a smart e a Honda propostas de filosofia similar, mas o novo 500 preenche todos os requisitos com um retoque adicional de estilo e charme italiano. O novo 500e é um citadino extremamente elegante, funcional e repleto de carácter, capaz de prestações entusiasmantes e de consumos comedidos, ainda que o preço coloque esta versão mais ou menos a par com o também charmoso Honda e, este último com mais potência e melhor arrumação a bordo.

Porém, neste render de guarda entre motorizações, o 500e retém os pontos fortes de um modelo que vive muito da imagem e que agora tem mais argumentos, fazendo todo o sentido para o dia-a-dia. Excelente aposta da Fiat.


MAIS
Agilidade dentro e fora da cidade
Prestações
Eficiência
Equipamento
Estilo

MENOS
Lugares traseiros ainda ‘justos’
Bagageira limitada

Ficha Técnica
Fiat 500e Cabrio La Prima
Motor Elétrico, dianteiro
Potência 87 kW (118 CV)
Binário máximo 220 Nm
Bateria Iões de lítio, 37.3 kWh (úteis)
Transmissão Tração dianteira, 1 vel. para a frente
Acel. 0-100 km/h 9,0 segundos
Vel. máxima 150 km/h (limitada)
Consumo médio (WLTP) 14,9 kWh/100 km
Emissões CO2 (WLTP) 0 g/km
Autonomia (WLTP) 320 km
Tempo de carregamento DC (85 kW): 35 min. de 0-80%; AC (11 kW): 4h25 de 0-100%
Dimensões (C/L/A) 3632/1683/1527 mm
Peso 1480 kg
Bagageira 185 litros
Pneus 205/45 R17
Preço 37.250€
Gama desde 24.150€

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