A Fiat também enveredou pelos modelos compactos de estilo crossover com a criação do Tipo Cross, uma versão ligeiramente mais versátil que apela pelo lado estético e que dá ao modelo italiano um outro argumento de combate num segmento que é bastante concorrido. Acima de tudo, o Tipo Cross mostra como os pequenos detalhes são importantes para fazer uma grande diferença.

Aproveitando a atualização de meio de gama que a Fiat levou a cabo no Tipo, modelo bem-nascido que foi lançado em 2017 com justas ambições ao segmento C, apoiando-se numa denominação com peso histórico para a marca italiana. No final de 2021, o Tipo foi ligeiramente atualizado, ganhando novos argumentos em termos tecnológicos, estéticos e com uma nova variante Cross que visa conceder-lhe uma identidade mais robusta e em linha com os apetites do mercado automóvel, no qual o estilo SUV segue ‘rei e senhor’.

Esteticamente, o Tipo ganha aparência mais moderna e, vale a pena apontar, moderna e apelativa. A frente é marcada pela combinação de nova grelha com o nome da marca por extenso, com os faróis redesenhados com tecnologia Full LED e nova assinatura luminosa.

Atrás, onde as novidades são bem mais ténues, destaque para os farolins com grafismo retocado e tecnologia LED também. Especificamente ligado à variante Cross está o aumento da distância ao solo em quatro centímetros, o que foi conseguido com mexidas na suspensão e introdução de pneus 215/55 R17 (com jantes de efeito mais desportivo). No total, porém, a sua altura aumenta em sete centímetros, contribuindo para tal as novas barras de tejadilho que passam a estar disponíveis na variante ‘hatchback’ de cinco portas, anteriormente apenas aplicadas na versão carrinha.

Além da maior altura ao solo, o Tipo Cross destaca-se ainda pela série de proteções inferiores da carroçaria que lhe dão o tal visual mais robusto, apontando para saídas de estrada em aventuras que, no entanto, serão mais do foro imaginário do que real (o mesmo se pode dizer de grande parte dos SUV atualmente à venda).

Ainda assim, de aspeto, este Fiat não está nada mal apetrechado: proteções dianteira e traseira e aros envolventes das cavas das rodas, combinando as cores negra e cinzenta (gelo mate, no léxico da marca) para uma aparência mais diferenciada e bem conseguida.

No interior, a sobriedade de construção e de aparência é conjugada pela funcionalidade e pela correta disposição de comandos, com domínio dos plásticos mais duros (de boa aparência, note-se), ainda que com algumas benesses como os revestimentos macios ao toque no tablier, por exemplo. Os bancos contam com padrão específico com inscrições ‘Cross’ nas costas dos bancos, enquanto o volante é igualmente novo, sendo agora mais compacto para aquilo que a Fiat apelida de mais desportivo.

A vertente tecnológica também foi guarnecida com elementos como o painel de instrumentos parcialmente digital com ecrã TFT de 7.0”, embora o maior destaque seja o ecrã tátil de 10.25” para o renovado sistema de infoentretenimento Uconnect 5, que é mais funcional e intuitivo na utilização por parte do condutor. Pouco conveniente, também, o comando do volume no túnel central entre os dois bancos, junto ao travão de mão (ainda manual).

Enfim, o Tipo Cross é um automóvel de construção muito correta e sólida, dando aos passageiros uma boa impressão de conforto em viagem, sendo apto para quatro adultos sem grandes problemas, até porque o espaço atrás é generoso (ainda que a acessibilidade aos lugares traseiros pudesse ser melhor), tanto para as pernas como para a cabeça. Boa nota para a bagageira, com 440 litros de capacidade e formato bastante regular.

Mecânica a valorizar

Embora a filosofia Cross seja apenas mais de aparência do que de técnica, a Fiat escolheu para esta versão uma opção 1.0 GSE turbo de três cilindros a gasolina com 100 CV de potência e 190 Nm de binário, um bloco que pertence à família FireFly Turbo da marca italiana e que toma o lugar do anterior 1.4 a gasolina de 95 CV.

O ganho é notório, tendo este motor a gasolina uma outra desenvoltura, sobretudo a baixos regimes, fruto da entrega do binário máximo logo às 1500 rpm, pelo que as prestações são convincentes e não desapontam quem espera um automóvel despachado q.b. e cumpridor de expectativas. Não terá uma alma desportiva, naturalmente, mas o Tipo Cross transmite uma boa impressão na condução até pela progressividade da resposta, com a única condicionante a ser a caixa de velocidades manual de apenas cinco relações, dispondo de escalonamento algo mais alargado que obriga a que se recorra à mesma para reações mais prontas, por exemplo, em subidas ou em ultrapassagens.

O manuseamento poderia também ser ligeiramente melhor, com um seletor volumoso, mas não deixa de cumprir as suas aspirações.

Realmente interessante, a parte dos consumos destaca-se neste motor. Capaz de se manter na fronteira entre os cinco e os seis litros por cada 100 quilómetros, a mecânica tricilíndrica não é exacerbada nos consumos, estabelecendo-se uma média de 6,3 l/100 km no nosso ensaio. Com um depósito de combustível de 50 litros, a autonomia ronda os 800 litros de forma fácil.

Seguro e confortável

A condução do Tipo Cross é simples e descontraída, valendo-se de um amortecimento brando que favorece o conforto dos ocupantes, sem transmitir em demasia as irregularidades do piso. Ao fazê-lo, não desvaloriza a segurança de reações, com equilíbrio neutro e postura confiante, não transmitindo uma sensação de rolamento muito pronunciado da carroçaria. A direção é comunicativa, sendo leve, atributo para o qual contribui ainda o modo ‘City’ para uma assistência mais pronunciada em cidade, o que ajuda nas manobras urbanas.

Bem equipado, oferece de série uma reforçada panóplia de sistemas de segurança, como o cruise control adaptativo ou o assistente de faixa de rodagem e de ângulo morto, a que se junta a já mencionada vertente tecnológica da instrumentação e do sistema multimédia, o que torna a relação preço/equipamento muito valiosa, com um preço de base de 24.575€.

VEREDICTO

Com poucas modificações, o Tipo Cross torna-se numa opção muito forte na relação custo-benefício. Sem ser um autêntico crossover, uma vez que o Tipo Cross dispõe apenas de tração dianteira e sem modos específicos dedicados ao ‘off-road’, este modelo ganha uma nova aura estética capaz de atrair mais clientes que apreciam uma tónica mais aventureira.

Correto na construção, competente nas prestações e com interior acolhedor, o Tipo Cross tem no preço um outro trunfo face a outras propostas do mercado, valorizando-se também pela economia e pelos equipamentos disponíveis. Uma proposta que merece atenção pelo conjunto.

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