Nunca foi consensual, mas também não pretende sê-lo. O Honda Civic Type R foi ligeiramente atualizado para o ano de 2021, mantendo a aparência robusta e extremada que para alguns é amada, mas que é odiada por outros. Aquilo que nunca ninguém conseguiu negar foi que o seu comportamento e o seu compromisso com as prestações desportivas são praticamente impares no segmento. Ainda assim, os engenheiros da Honda procuraram mesmo muito e encontraram pontos para melhorar de maneira a tornar este Civic ainda mais entusiasmante.

Lançado em 2017, o Civic Type R assumiu-se desde logo como uma proposta desportiva de topo, aliando um motor 2.0 i-VTEC turbo de elevadas prestações a um chassis facilmente reconhecível como fantástico. Preciso, ágil, sólido e composto sem rejeitar o conforto. O Civic Type R foi resistindo a todos os seus novos rivais, ‘dando o peito’ a novos modelos como os Volkswagen Golf GTI, Renault Mégane R.S. ou Hyundai i30 N. Agora, surge ligeiramente reformulado.

Se não descobre as diferenças é porque… são poucas por fora. Com efeito, olhando para o ‘quimono’ deste atleta, apenas a grelha dianteira surge ligeiramente diferente, enquanto no para-choques as aberturas laterais passam a estar tapadas de forma mais evidente com uma pequena ‘aleta’ interior na cor da carroçaria. Ou seja, o foco da marca esteve na melhoria de elementos mecânicos.

O segredo está nos detalhes

Na parte mecânica, a suspensão passa a dispor de uma nova gestão eletrónica (capaz de avaliar as condições da estrada dez vezes mais depressa) para o sistema de amortecimento variável, que se mantém e que permite ao Civic Type R variar de uma firmeza mais intensa para circuito para uma maior subtileza do modo ‘Confort’ em estradas do quotidiano.

A configuração da suspensão mantém-se igualmente (MacPherson de pivot duplo à frente e multilink atrás), embora com alguns acertos tanto na dianteira (novos casquilhos, por exemplo), como na traseira, aqui com novas buchas para garantir maior precisão daquele eixo em seguimento com o da frente.

No sistema de travagem também há novidades, com discos dianteiros de duas peças e novas pastilhas associadas, com a Honda a explicar que apresentam maior resistência à fadiga e baixam o peso em 2,5 kg no total. Efeito direto desta mudança – o curso ‘morto’ do pedal do travão reduziu-se em 15 mm. Detalhes…

Por outro lado, num ponto discutível, passa a ter um sistema de modulação de som pelos altifalantes no interior, fazendo com que o motor soe mais alto a bordo, consoante o modo de condução selecionado. Não nos pareceu, verdadeiramente, um ponto evidente ao longo da condução, sendo preciso, basicamente, sair de um Civic Type R sem esse sistema para um equipado com esse para perceber reais diferenças.

No interior, também é preciso olho de lince para encontrar as diferenças. Mas há uma excelente novidade: o novo punho da alavanca da caixa manual não é apenas uma mudança estética. Ajuda verdadeiramente no manuseamento e na utilização em condução desportiva.

Além disso, olhe para o sistema de inforentretenimento e encontrará alguns botões físicos para atalhos de funções, incluindo uma rodinha para o controlo do volume. Em termos de equipamento, destaque ainda para a função Honda LogR, que apresenta diversas informações relativas à condução em modo ‘+R’, que é o mais extremo, mostrando valores de temperatura de óleo, líquido de refrigeração, mudança e, noutra funcionalidade, a possibilidade de gravar dados para ajudar os condutores a melhorarem os seus tempos em determinados circuitos com recurso a dados de GPS e sensores internos do veículo para comparação direta.

Seja, como for, um habitáculo bem construído, vincadamente desportivo, pautado pelas bacquets dianteiras de sublime apoio de corpo, elementos em carbono e combinação entre preto e vermelho. O volante revestido em Alcantara, no entanto, tem apreciação dupla – por um lado, excelente tamanho e pega, por outro, o revestimento tenderá a ficar gasto e sujo com o passar do tempo.

O Civic está como sempre esteve. Excelente.

O motor 2.0 i-VTEC Turbo não se alterou. Mantém os 320 CV de potência e os 400 Nm de binário máximo, disponível entre as 2500 e as 4500 rpm, mas não se contente com esse valor máximo. Leve o ponteiro das rotações para um patamar em redor das 6500 rpm e poderá extrair todo o potencial de um bloco a gasolina que é verdadeiramente incansável nas prestações.

Mais do que separar as prestações do motor com o comportamento do chassis, o Civic Type R tem ser avaliado como um conjunto – porque é assim que resulta fantástico, uma experiência envolvente que congrega a direção – precisa e informativa -, a suspensão variável e o ímpeto do motor sobrealimentado, cuja atuação recorda, por vezes, a dos motores atmosféricos que se puxavam ao ‘redline’.

A mecânica pode ser mais comedida no modo ‘Comfort’, mas ganha todo o seu fôlego e ímpeto nos modos ‘Sport’ (que se ativa por defeito na ignição) e ‘+R’. Este último torna a experiência ainda mais empenhativa, com direção mais ‘pesada’ e acelerador mais reativo, transpondo para a estrada uma eficácia total. Aliado a isso, a caixa manual tem uma atuação única – muito provavelmente, esta é a melhor caixa de velocidades manual disponível no mercado. Leve, precisa e direta na engrenagem, é um deleite de utilizar em consonância com o motor enquanto este sobe de regime com voracidade.

Muitos olharão para os dados das prestações, como os 5,8 segundos dos zero aos 100 km/h, e dirão que há outros que até já fazem melhor (um Hyundai i30 N com caixa DCT, por exemplo, é mais rápido nesse exercício), mas estão a passar ao lado do essencial: o modelo da Honda não tem par no nível de envolvência que oferece ao volante, na forma como torna o condutor numa ‘peça’ do carro, sobretudo quando conduzido num percurso sinuoso, oferecendo confiança impressionante nas suas reações.

É agressivo e bruto, por vezes, tanto na entrega da potência, como no amortecimento, mas ao mesmo tempo previsível na forma como entra em curva, como a dianteira e traseira a descrevem de maneira linear, sem inclinação da carroçaria e sem qualquer tendência fugitiva da traseira, numa prestação sólida e eficaz, que é a epítome da condução desportiva nos tempos modernos. À saída da curva, em aceleração, o diferencial dianteiro encarrega-se de manter a potência sob controlo, enquanto qualquer efeito de ‘torque steer’ é praticamente nulo.

Aposte-se numa toada mais pacata e este Civic também não desaponta, mesmo que o conforto seja relativo. Poderá levar a família com espaço e sobriedade em passeio sem que a viagem se torne num suplício ao passar por cada buraco ou lomba da estrada. E os consumos, que em condução desportiva, superam facilmente os 10 l/100 km, podem descer para bem mais toleráveis 8 l/100 km.

Esta versão GT tem um preço de 52.190€ (com campanha de financiamento), trazendo consigo uma série de equipamento de série que é também importante, como o compêndio de segurança Honda Sensing com diversas tecnologias de assistência à condução.

VEREDICTO

Otimizar o que já estava num nível tão avançado não é fácil, mas a Honda conseguiu reforçar as credenciais do Civic Type R com esta atualização de meio de ciclo. Muitos irão ficar-se apenas pelo aspeto exterior, esquecendo aquela que é a mais nobre dos ensinamentos que se passam de geração em geração – ‘nunca julgues um livro pela capa’.

A experiência de condução é sublime e o desportivo da Honda mantém-se num patamar único, valendo-se de uma conjunção de fatores – do motor progressivo e intenso à incrível caixa manual de seis velocidades, passando pela direção informativa e pela suspensão retocada com ‘bisturi’ – para se manter como o melhor dos compactos desportivos de tração dianteira.


MAIS
Visual agressivo (para apreciadores)
Condução impressionante
Intensidade em modo ‘+R’
Conforto geral
Manuseamento da caixa de velocidades
Equipamento de série
Um clássico para o futuro

MENOS
Visual agressivo (para quem não gosta)
Infoentretenimento datado
Alguns plásticos do interior

FICHA TÉCNICA
Honda Civic Type R GT
Motor: Gasolina, quatro cilindros em linha, injeção direta, turbo, intercooler
Cilindrada: 1996 cc
Potência: 320 CV às 6500 rpm
Binário máximo: 400 Nm entre as 2500 e as 4500 rpm
Tração: Dianteira, diferencial autoblocante
Caixa: Manual de seis velocidades
Aceleração (0-100 km/h): 5,8 segundos
Velocidade máxima: 270 km/h
Consumo médio: 8,5 l/100 km
Emissões de CO2: 193 g/km
Peso: 1405 kg
Bagageira: 420-1209 litros
Comprimento/Largura/Altura (mm): 4577/1877/1434
Distância entre eixos (mm): 2699
Pneus: 245/30 R20
Preço base: 52.190€ (com campanha)

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