A Peugeot é adepta da ideia de ‘poder de escolha’, dando aos seus modelos uma gama completa de motorizações para que cada condutor possa optar pela solução que melhor se adapta a si. O primeiro a fazê-lo na marca francesa foi o 208, que beneficia de uma variante 100% elétrica, a e-208, que se afirma como uma solução muito sensata, apelativa e divertida de conduzir.

A receita para este arranque na era da eletrificação é dada com recurso às ‘ferramentas’ do Grupo PSA, sobre as quais foi edificada esta nova geração do utilitário, a começar pela plataforma CMP, partilhada com modelos com outros modelos do grupo liderado por Carlos Tavares, montando unidade motriz elétrica de 100 kW, ou seja, mais familiares 136 CV de potência.

Antes, no lado estético, não existem grandes mudanças face a um 208 com motor de combustão interna. O design está normalizado entre os elétricos. Por dentro, a evolução do sistema i-Cockpit, aqui com um painel de instrumentos tridimensional, que resulta espetacular e personalizável pelo condutor com diferentes configurações. O posicionamento do volante é ainda um elemento conflituoso em termos de visibilidade da instrumentação e ergonomia de condução, mas algum tempo em torno do banco e do ajuste do volante pode tornar a questão redundante.

Por dentro, há uma maior colagem a outros modelos da PSA, patente nos diversos comandos e botões como o dos modos de condução ou o próprio sistema de infoentretenimento, assente em ecrã tátil de 10 polegadas (embora as molduras negras lhe retirem espaço de visionamento). A boa qualidade dos materiais e a construção bem conseguida colocam o e-208 em muito boa forma, mesmo que fique ligeiramente aquém do interior do Renault Clio (que não tem versão elétrica, note-se). Entre os detalhes muito interessantes, destaque ainda para o suporte para o smartphone na consola central.

O espaço atrás é adequado para dois adultos (atenção ao rebordo lateral da carroçaria ao entrar e sair), assim como a bagageira, que não é afetada pela transição elétrica (apenas perde espaço para uma roda suplente), mas fica-se pelos 265 litros.

Vivacidade

A vertente técnica deste e-208 assenta num motor elétrico de 100 kW/136 CV de potência (260 Nm de binário máximo), alimentado por uma bateria de iões de lítio de 50 kWh, com refrigeração líquida, o que lhe garante maior eficiência na gestão térmica, sobretudo na admissão de carregamentos rápidos. Colocada entre os dois eixos, a bateria permite um baixo centro de gravidade, na ordem dos 57 mm, o que permite que o e-208 seja um automóvel divertido de conduzir, parecendo ‘plantado’ no chão quando em curva.

As oscilações laterais da carroçaria são contidas, mesmo em passagens de curva mais rápidas, e a direção é precisa num conjunto que se mostra muito satisfatório. É ágil, responde bem e parece obedecer sempre com afinco às ordens do condutor. O aumento do peso face aos 208 de combustão retira-lhe alguma ligeireza de movimentos e no pisar, mas tem ainda a seu favor a imediatez da resposta do motor elétrico, com os seus 260 Nm de binário a permitirem retomas rápidas e acelerações muito fortes. O seu amortecimento é ligeiramente mais firme sem chegar a ser desconfortável.

As prestações são muito boas, surpreendendo até mais fora da cidade do que nessa, onde, como é habitual, os elétricos partem com ímpeto e intensidade. Em vias rápidas ou até em autoestrada, o e-208 mexe-se com energia e competência, chegando aos 120 km/h com destreza e mantendo essa velocidade sem grande esforço graças a um binário generoso de 260 Nm. A aceleração dos zero aos 100 km/h cumpre-se em 8,1 segundos.

Os modos de condução ‘Eco’, ‘Normal’ e ‘Sport’ permitem variar alguns dos parâmetros de funcionamento do e-208, nomeadamente a forma como a potência é entregue. Regra geral, a ideia que fica é que este Peugeot elétrico é capaz de adotar ritmos elevados sem correspondente incremento de consumo energético, com o resultado do nosso ensaio a ser de 12.6 kWh/100 km, beneficiando também do modo de recuperação de energia de travagem mais intenso (‘B’), selecionável na alavanca da caixa de relação única. Esse registo fica até bem abaixo do valor oficial WLTP de 16.3 kWh/100 km.

Se o modo ‘Eco’ limita a performance e o sistema de climatização, o modo ‘Sport’ aumenta a intensidade da aceleração, sentindo-se quase de imediato um ligeiro impulso oferecido pelo motor elétrico, dando a entender que o sistema está agora muito mais ‘atento’ às necessidades do condutor. Em contraponto, aumenta o consumo energético, como seria de esperar.

A autonomia de 339 quilómetros apontada em ciclo WLTP não nos parece descabida, sobretudo quando se usa o e-208 de forma sensata (em modo ‘Eco’, modo ‘B’ e de forma tranquila), sem repentes dinâmicos, nem sendo muito penalizado em trajetos de autoestrada, mesmo que estes tenham impacto na autonomia.

No momento de carregar, a opção por tomadas domésticas de 230 V é último recurso, pois, como experimentámos, o e-208 carrega a 6 km/hora, sendo preciso cerca de 25 horas para se obter uma carga completa. Pouco prático, portanto. De série, conta com um carregador de bordo monofásico de 7.4 kW, dispondo opcionalmente de uma unidade com 11 kW (por 300€), que lhe permite, isso sim, tirar o máximo partido de uma ‘wallbox’. Melhor só o carregamento rápido em DC a 100 kW, que lhe permite carregar de zero a 80% em meia hora.

O preço a pagar pela versão ensaiada Allure é de 33.570€, que começa a trazer os elétricos funcionais para um patamar aceitável, sobretudo, num conjunto agressivo, bem desenhado e com bons dotes dinâmicos.

VEREDICTO

O Peugeot e-208 é uma prova real e concreta da evolução da mobilidade elétrica, assumindo-se como uma alternativa muito convincente às versões com motor de combustão interna. No processo de transição entre energias de motorização, a Peugeot está empenhada em figurar entre as marcas da linha da frente.

Um motor capaz de boas prestações e um conjunto que é eficiente nos consumos aliam-se a um chassis bem concebido para oferecer um conjunto geral bastante audaz e com dinâmica de condução para agradar a ‘Gregos e a Troianos’. Na mesma linha de sucesso dos anteriores 208, a versão e-208 pode-se assumir como uma alternativa credível para quem quer abraçar a mobilidade elétrica.

O preço do 208 elétrico, mesmo na versão mais acessível Active (32.420€), é mais elevado do que o de qualquer outro 208 com motor de combustão, mas a redução do preço a pagar nos custos de operação pode ser chamariz interessante.


MAIS
Boas prestações
Bom comportamento dinâmico
Insonorização
Eficiência de utilização
Desenho do interior
Equipamento e segurança

MENOS
Preço ainda acima do dos outros 208
Largura nos bancos traseiros
Acesso e saída nos lugares traseiros
Bagageira melhorável

FICHA TÉCNICA

Peugeot e-208 Allure
Motor Elétrico, síncrono permanente
Potência 100 kW/136 CV
Binário 260 Nm
Bateria Iões de lítio, 50 kWh
Autonomia elétrica 339 km (WLTP)
Transmissão Tração dianteira, caixa de relação única
Velocidade máxima 175 km/h
Aceleração 0-100 km/h 8,1s
Consumo médio WLTP 16,4 kWh/100 km
Emissões CO2 WLTP 0 g/km
Dimensões (C/L/A) 4055/1745/1430 mm
Distância entre eixos 2540 mm
Peso 1530 kg
Bagageira 265-1106 litros
Pneus 195/55 R16
Preço base 33.570€

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