Nunca a fórmula SUV entre os automóveis esteve tão em voga como agora. As marcas multiplicam os seus esforços e produzem combinações de diferentes feitios, com a Renault a ser uma das primeiras a apostar no nicho dos SUV coupé, com o Arkana a chegar ao mercado em versão híbrida que propõe economia e eficiência em doses idênticas. Mas será que é só estilo ou também há substância?

Com 4,57 metros de comprimento, o seu posicionamento na gama da Renault não deixa dúvidas, ficando entre o Kadjar e o Koleos, mas a sua base é a plataforma CMF-B, a mesma do Captur. O crescimento nas dimensões face a esse privilegia a habitabilidade traseira e o visual mais desportivo, nomeadamente na secção traseira, com a sua linha de tejadilho de inclinação mais suave a partir do pilar B.

A sua pose musculada sugere então um maior estatuto que é bem-vindo para a Renault, sobretudo porque a marca gaulesa consegue munir-se de uma ‘arma’ que apenas as marcas ‘premium’ podem ‘disparar’ – os SUV de visual mais desportivo. Neste caso, o conjunto é sublinhado pela linha de equipamento R.S. Line, que lhe atribui dotes estéticos mais emotivos, com para-choques e jantes especiais, a par das insígnias na carroçaria e habitáculo.

Por dentro, segue-se também a mesma configuração dos demais Renault de recente geração, com aparência moderna e robusta, sobressaindo a vertente tecnológica concedida pela instrumentação totalmente digital (de 10 polegadas neste caso) e pelo sistema de infoentretenimento Easy Link com navegação online e ecrã de 9.3 polegadas disposto na vertical, de ótimo acesso e bem legível.

A boa construção geral valoriza a experiência a bordo, sendo também competente na insonorização – particularmente importante na versão híbrida – e no espaço oferecido aos ocupantes, que atrás beneficiam de excelentes cotas em altura e no espaço para as pernas (para adultos com altura superior a 1,80 m). Já a bagageira sai um pouco penalizada na variante E-Tech, com 480 litros disponíveis contra os 513 da versão puramente térmica, ainda que a diferença não seja substancial. Destaque ainda para a amplitude do bocal de carga, ideal para objetos mais volumosos.

E-Tech é sinónimo de poupança

Embora firmemente apostada nos motores elétricos, a Renault tem na versão híbrida E-Tech a solução para quem procura eficiência e baixos consumos com a garantia de cumprir grandes trajetos caso seja necessário. O conjunto tecnológico foi desenvolvido com recurso a muitos dos ensinamentos da Fórmula 1 – na qual o Grupo Renault está agora representado pela Alpine -, os quais foram aplicados nesta motorização para assegurar uma elevada eficiência.

Consiste na combinação de um motor 1.6 a gasolina com dois motores elétricos para uma potência combinada de 145 CV. O motor a gasolina foi especialmente afinado para esta utilização, tratando-se de uma unidade com 94 CV de potência e 148 Nm de binário, a que se juntam depois duas máquinas elétricas de diferentes potências. O motor elétrico principal (e-motor) debita 36 kW (49 CV) e o alternador/gerador elétrico oferece 15 kW (20 CV) adicionais, gerando assim o total de 145 CV.

A potência é transmitida ao eixo dianteiro por uma caixa automática multimodo, que foi o ponto no qual a Renault conseguiu concretizar a grande maioria das 150 patentes registadas com este sistema. Esta caixa de velocidades permite variar o funcionamento do motor de combustão consoante a utilização com recurso ao alternador/gerador elétrico que adequa as rotações de forma automática. Por fim, o conjunto é ainda complementado por uma bateria compacta de 1.2 kWh. No total, é também 99 kg mais pesado do que o modelo ‘mild-hybrid’.

Porém, se a parte técnica traz consigo uma impressionante complexidade, importa então, desde já, considerar um ponto – o Arkana E-Tech é sobremaneira eficiente. A gestão avançada do conjunto motriz é concretizada de forma competente, o que faz com que os consumos sejam contidos na grande maioria dos padrões de utilização, sobretudo em terreno urbano, no qual a Renault aponta para cerca de 80% de tempo de condução em modo elétrico.

O arranque é feito de maneira elétrica, embora o motor térmico entre em ação com frequência pouco depois, assim que o acelerador é pressionado de forma mais forte. Ainda assim, a regeneração da energia de travagem permite que a bateria de 1.2 kWh esteja constantemente no seu nível médio, permitindo dessa forma percorrer algumas largas centenas de metros de forma puramente elétrica, por vezes, até em subida (desde que o desnível seja modesto). Há ainda um modo ‘B’ no seletor da caixa que permite acentuar o nível de regeneração, incrementando paralelamente a desaceleração.

No modo ‘Eco’ do Multi-Sense, o Arkana retribui então o máximo de eficiência: no ensaio, ao cabo de 100 quilómetros de percurso, obtivemos uma média de 4,1 l/100 km, o que se revela um excelente valor para um híbrido não recarregável na tomada com 1533 kg no total.

Em sentido contrário, o modo ‘Sport’ dota este modelo de maior rapidez de resposta, mas a sua ‘urgência’ de funcionamento não o transforma num sucedâneo desportivo, mesmo que denote maior acutilância na resposta do acelerador, oferecendo um ‘salto’ mais imediato em aceleração. Ainda assim, os 10,8 segundos anunciados no exercício dos zero aos 100 km/h são demonstrativos de que não há uma transfiguração nas prestações apesar do bom impulso conferido pelos motores elétricos que contribuem com 205 Nm (e-motor) e 50 Nm (alternador/gerador) para um movimento progressivo deste Arkana.

A suavidade do sistema é característica de destaque, nomeadamente na insonorização e no refinamento, não se notando transições acentuadas de motores. Não obstante, não é perfeito: por vezes, a caixa multimodo (tem 15, no total) obriga o motor de combustão a centrar-se em rotações mais elevadas, o que resulta audível num cenário perante o qual o condutor nada pode fazer…

Face ao Captur, o Arkana obtém uma maior fidelidade na procura de reações desportivas, graças a uma direção calibrada especificamente e ao acerto diferenciado do chassis, pelo que há uma bem-vinda neutralidade de reações, com o benefício de contenção na transferência de massas, importante em curvas de maior velocidade, salvaguardando, no entanto, um bom equilíbrio com o conforto, que nunca é verdadeiramente descuidado, mesmo em pisos mais degradados.

Recheado tecnologicamente

Além do sistema Easy Link com ecrã de 9.3 polegadas oferecer conectividade com o Apple CarPlay e Android Auto, há ainda uma grande panóplia de elementos de segurança integrados, nomeadamente, os de assistência autónoma à travagem e manutenção na faixa de rodagem, leitor de sinais de trânsito, sistema de ângulo morto e assistente de travagem.

No caso da versão ensaiada, a R.S. Line, o recheio é ainda complementado com as jantes de 18 polegadas, interior com elementos específicos, como o volante e bancos, além do tal reforço desportivo do exterior, o que ajuda a explicar o preço final de 36.700€ desta versão, que é a de topo. A gama do Arkana conta ainda com versão 1.3 TCe ‘mild hybrid’ com preços a partir dos 31.605€ no nível Business.

VEREDICTO

O Arkana tem um visual bastante apelativo para os clientes que gostam de aparência mais atlética, valendo-se nesta versão E-Tech de uma maior tónica de eficiência. Com efeito, o consumo bastante contido sem cuidados suplementares na condução torna-o numa proposta em linha com uma certa filosofia de incentivo à redução dos gastos com o combustível e das emissões poluentes.

Com o seu sistema motriz E-Tech sem necessidade de carregamentos externos, este Arkana recompensará duplamente os condutores que procuram eficiência e funcionalidade, mas sem esquecer o importante lado visual porque um híbrido pode e deve agradar à vista.

MAIS
Qualidade geral
Equilíbrio dinâmico
Ótima habitabilidade
Excelentes consumos
Equipamento de série
Bagageira

MENOS
As performances não são excitantes
Alguns plásticos interiores poderiam ser evitados

Ficha Técnica
Renault Arkana E-TECH 145 R.S. Line
Motor térmico Gasolina, 1598 cc, 4 cilindros em linha, injeção multiponto
Potência: 94 CV às 5600 rpm
Binário: 144 Nm às 3200 rpm
Motor elétrico (1) 49 CV/36 kW
Binário 205 Nm
Motor elétrico (2) 20 CV/15 kW
Binário 50 Nm
Bateria Iões de lítio, 1.2 kWh
Potência combinada 145 CV
Binário combinado N.D.
Transmissão Dianteira, caixa automática multimodo
Aceleração 0-100 km/h 10,8 s
Velocidade máxima 172 km/h
Consumo de combustível 4,9 l/100 km
Emissões (CO2) 111 g/km
Dimensões (C/L/A) 4658/1821/1576 mm mm
Distância entre eixos 2720 mm
Pneus 215/55 R18
Peso 1533 kg
Bagageira 480-1263 litros
Preço 36.700€
Gama desde 31.605€

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