Voltemos a um velho dilema. Alguns dirão ‘cobras e lagartos’ da falta de inovação criativa do Golf, mas qualquer pessoa que conduza este compacto percebe que o formato resulta. E que este conjunto é um dos mais completos, mesmo quando surgem novos e interessantes concorrentes. Mas a Volkswagen não descansou sobre o sucesso alcançado até aqui e preparou uma atualização de meio de ciclo para a sua coqueluche. Uma espécie de versão 2.0, muito ao jeito da era atual dos smartphones e das aplicações que dão para tudo.
No caso do Golf, importa começar pelo aspeto da renovação tecnológica que foi operada neste modelo, sendo a novidade mais importante a chegada de um sistema de infoentretenimento ‘Discover Pro’ que, além de dispor de ecrã tátil de 9.2″, é ainda possível de controlar por gestos. Certo, não é uma solução isenta de falhas e é ainda algo limitada, mas é um passo importante para a democratização da tecnologia de ponta, algo que surge aqui neste modelo com um ecrã de grandes dimensões que acentua, então, o visual ‘hi-tech’ do interior. É a partir do ecrã tátil que se pode controlar a grande maioria dos sistemas do veículo, desde a navegação ao áudio, passando pelas aplicações relacionadas com o veículo e pela conectividade à Internet. Num exemplo maior de capacidade tecnológica, a Volkswagen disponibiliza mesmo um sistema (ainda em trabalho de implementação no nosso país) que permite até abrir a porta da rua da sua casa para deixar entrar alguém, denominado DoorBird, bastando utilizar o ecrã do Golf como se de um ecrã de campainha remota de um prédio se tratasse para ver quem é que nos está a tocar à porta.
Voltando ao sistema de infoentretenimento com controlo por gestos, é um opcional de relevo (748€) que dota o Golf de um maior valor tecnológico, ao mesmo tempo aplicando ao interior um visual muito mais renovado. Para o condutor, está também disponível o sistema de instrumentação digital Active Info Display com ecrã de 12.3 polegadas com cinco perfis diferentes para a apresentação das informações ao condutor.
Por outro lado, tudo no habitáculo tem um visual muito cuidado, posicionando, uma vez mais, o Golf como um dos modelos a bater no que à robustez, solidez e qualidade dos materiais diz respeito. Os diversos painéis encaixam sem falhas e, pese embora alguns componentes em plástico em locais mais escondidos, o Golf merece elogios pela ergonomia e qualidade funcional.
O interior do GOlf continua a ser referencial no segmento, tanto pela qualidade dos seus componentes, como pela construção
Quanto a espaço, nada muda, a habitabilidade atrás é adequada para dois adultos, tanto naquilo que disponibiliza para as pernas, como em altura, mas não é referencial. Além disso, o túnel central obriga a viajar com as pernas espaçadas e a passar o pé de um lado para o outro com algum contorcionismo no caso de albergar um terceiro elemento atrás. A bagageira, com os seus 380 litros, é interessante, mas está também na média do segmento.
Eficaz como um… Golf
No lançamento, o Golf de sétima geração e meia recorre às suas cartas mais conhecidas para esta ‘rodada’: motores eficientes e económicos em que o Diesel continua a ter um papel de destaque comercial. Porventura, não com este 2.0 TDI de 150 CV de potência, mas sim com o seu 1.6 TDI que até ganhou mais cinco cavalos para um total de 115 CV. Contudo, no Motor24, tivemos a oportunidade de ensaiar a unidade de 150 CV associada à caixa DSG de 7 velocidades e, desde os primeiros metros que se percebe que tudo permanece com um elogioso sentido de eficácia.
As respostas deste motor de dois litros com injeção direta e turbo pautam-se pela elevada força desde baixos regimes, tanto mais que a caixa de dupla embraiagem, conhecida pela sua tremenda competência, empresta ao Golf uma facilidade de utilização digna de registo, ao aproveitar sempre a faixa de rotações mais adequada a cada momento. Dessa forma, as prestações saem valorizadas, sobretudo nas recuperações, nas quais o motor de 150 CV demonstra o seu maior potencial fruto do binário de 340 Nm.
Os modos de condução Drive Profile Eco são uma tecnologia presente neste modelo, em versão Highline, possibilitando assim ao condutor escolher entre modos Eco, Normal, Sport e Individual. As denominações são auto-explicativas, mas cada um deles influencia parâmetros do funcionamento da caixa, da resposta do acelerador e da direção. No modo Eco, é frequente, por exemplo, colocar o Golf em ‘roda livre’, desacoplando a caixa do motor, fazendo com que seja a inércia a movimentar o veículo se o acelerador não estiver a ser pressionado, naturalmente.
Em virtude disso, o Golf 2.0 TDI apontou um consumo médio de 5,4 l/100 km no nosso ensaio, com um trajeto composto, como usualmente, por cerca de 60% em terreno urbano e os restantes 40% em via rápida e nacional, sempre a velocidades legais.
No comportamento, o Golf beneficia de esquema de suspensão mais eficaz no eixo traseiro – multibraços – contra a barra de torção dos modelos de entrada abaixo dos 150 CV. No caso deste Golf, o trabalho das suspensões é muito competente, com amortecimento de bom nível e bom equilíbrio entre conforto e velocidade de passagem em curva (mesmo que não esconda alguma firmeza em piso com irregularidades de maior frequência, como por exemplo, nas bandas sonoras de pequenas dimensões que se encontram situadas antes de semáforos). Mas, é pela sua conjugação entre capacidades dinâmicas e conforto que o Golf sobressai, mostrando potencial para andar depressa e bem com segurança. Até porque a estabilidade direcional é uma das suas mais-valias. De forma muito simples, não é um daqueles modelos que apele a curvar no limite, mas se o quiser levar para uma estrada secundária não sairá desapontado porque cumprirá com tudo o que lhe for exigido.
Jogue às diferenças
Para o final, deixámos o capítulo da estética. Sempre subjetivo, é aquele que mais polarizador pode ser para o Golf, havendo quem aponte a falta de originalidade da marca de Wolfsburgo. Contudo, responda-se à pergunta para o ‘Quem Quer Ser Milionário‘ edição Motor24: tendo um modelo que continua ser o mais vendido no Velho Continente, porque é que a Volkswagen iria mudar radicalmente um conceito que tão bons frutos tem dado? A resposta, como se vê, não é fácil de encontrar…
Ainda assim, os grupos óticos à frente e atrás têm novos desenhos, os para-choques são diferentes, mais agressivos na dianteira, há novas cores e novas jantes, além de outros elementos únicos como a grelha dianteira com estilo diferenciado. Quanto ao equipamento, o Golf surge bem equipado de série, ajudando a explicar o custo de 40.240€ para o nível Highline, que traz muitos itens de conforto e de segurança que são importantes, como o sistema de travagem anti-colisões múltiplas, sensores de estacionamento dianteiros e traseiros, cruise control adaptativo com “Front Assist” e sistema de reconhecimento de peões, suspensão desportiva ou o Drive Select Mode. O motor 2.0 TDI de 150 CV está disponível em versão de entrada por um preço a partir dos 37.000€.
VEREDICTO
O Volkswagen Golf continua a luzir tudo aquilo que faz dele um best-seller na Europa, com as ligeiras atualizações estéticas e tecnológicas aplicadas agora a manterem a sétima geração com um elevado nível de atualidade. Mesmo que soe a cliché, o Golf é um poço de eficácia, mecânica e dinamicamente, ficando apenas aquém no capítulo da habitabilidade, que começa a ficar cada vez mais apenas na média do segmento. O Golf reúne mesmo muitos dos melhores argumentos do segmento e mantém-se, firmemente, na luta pelo lugar cimeiro do segmento, ombreando sem medos pelo lugar de referência. Mas a concorrência aperta…
‘Devo comprar?’ Esqueça-se a discussão estética e lembre-se apenas que o Golf vai ‘envelhecer’ bem na estrada. Por outro lado, o renovado Volkswagen Golf tem uma credibilidade enorme que as novidades de tecnologia e os ligeiros acertos nas motorizações acentuam. Quanto a nós, a escolha entre este Diesel de 150 CV e o 1.6 TDI de 115 CV não será fácil, até porque com caixa DSG este último tem um fôlego muito interessante (ensaio muito em breve). Mas se faz muitas viagens, anda com o carro muito carregado e pretende uma resposta sempre pronta sob o pé direito, a escolha é esta. Mas também é válido dizer que atravessamos uma era muito frutuosa em termos de escolha, havendo muitas opções neste segmento para quem prefere um estilo menos clássico, desde o Opel Astra ao Renault Mégane, passando por Ford Focus, Hyundai i30, SEAT Leon ou Honda Civic.
Características | Volkswagen Golf 2.0 TDI DSG7 |
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Motor | 4 cil. em linha, injeção direta, turbo+intercooler |
Cilindrada | 1.968 cc |
Potência | 150 CV/3.500-4.000 rpm |
Binário | 340 Nm/1.750-3.000 rpm |
Transmissão | Caixa automática de 7 velocidades, tração dianteira |
Vel. máxima | 216 km/h |
0-100 KM/H | 8,6 seg |
Consumo | 4,6 l/100 km |
Emissões CO2 | 120 g/km |
Comp/larg/alt. (mm) | 4.258/1.790/1.492 |
Distância entre eixos | 2.620 mm |
Peso | 1.413 kg |
Mala | 380-1.270 litros |
Depósito | 50 litros |
Suspensão dianteira/traseira | Suspensão multibraços/multibraços |
Travões dianteiros/traseiros | Discos ventilados/discos |
Pneus série (ensaiado) | 225/45 R17 (225/40 R18) |
Preço (ensaiado) | 40.240€ (43.400€) |
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