Volkswagen Golf R: Devorador de estradas nacionais

26/10/2017

No campo dos desportivos, a Volkswagen não teme a chegada do Honda Civic Type R, nem a proximidade dos Renault Mégane R.S. ou Hyundai i30 N. Nem mesmo o Peugeot 308 GTi, também um utilizador desta sigla lendária, parece atormentar os responsáveis da marca germânica. Confiança a mais ou realismo de expectativas?

Indo por partes. A confiança assenta na sua pujança técnica em que a associação do motor 2.0 TSI à caixa DSG e à tração integral 4Motion trata de catapultar este Golf para prestações dignas de um superdesportivo de há não muitos anos – os 4,6 segundos dos 0 aos 100 km/h são elucidativos. Agora com 310 CV e 400 Nm (mais 10 CV e mais 20 Nm do que antes), o Golf R apresenta-se como um compacto mais extremo mas que esconde todo o seu potencial. Como um bom jogador de poker que faz a sua cara de passividade quando esconde os seus trunfos.

Entre-se, em primeiro lugar, pelo campo estético. O Golf R é discreto e isso é um daqueles elementos de apreciação que pode jogar a sua favor ou a seu desfavor. Para quem aprecia ter a potência sob o pé direito sem que todos fiquem a olhar, o Golf R é uma benesse. Para quem acha que o que é bom é para se ver, com requintes de exuberância à mistura, então este R é pacato em demasia. Mas não é caso para tanto. Com elementos distintivos como o para-choques dianteiro, spoilers inferiores a toda a volta, dupla saída de escape atrás, grelha específica, altura ao solo reduzida e jantes de dimensões impressionantes, o Golf R consegue chamar à atenção. Mais ou menos como um ‘body-builder’ de fato e gravata. O que está escondido é músculo, mas por fora há uma aparência senhorial. Seja como for, é um aspeto que nos agrada, por muito que seja um atributo subjetivo.

Poder para ‘voar baixo’

O que não engana é a força e intensidade da combinação oferecida pelo sistema motriz: o motor de dois litros com turbo é substancialmente vigoroso na forma como aumenta de velocidade, fazendo subir o ponteiro das rotações e do velocímetro de forma tão rápida quanto emocionante. Sobretudo, porque o mesmo é feito em companhia da eficiente caixa automática de dupla embraiagem DSG7 com patilhas atrás do volante para controlo sequencial e da tração integral 4Motion (de sistema Haldex). É por isso que efetuar arranques determinados com o Golf R se traduz num acréscimo de adrenalina e de vivacidade. Impelidos pelas quatro rodas motrizes, somos catapultados para a frente com uma intensidade que não é bruta, mas que nos ‘cola’ aos bancos com impacto – o sistema ‘Launch Control’ é uma mais-valia que serve para estes momentos de ‘insanidade’ temporária no arranque. É, pois, de eficácia pura que falamos. Os 0 aos 100 km/h cumprem-se em 4,6 segundos e a velocidade máxima está limitada aos 250 km/h.

Mas é nas estradas nacionais, aquelas que serpenteiam por montanhas rodeadas de verdejantes arbustos e em que o silêncio é apenas interrompido pelo chilrear dos pássaros e pela sonoridade da musculatura do motor quatro cilindros turbo, que o Golf R exibe atributos mais contundentes. A passagem em curva faz-se com velocidade altíssima e com uma neutralidade em termos de trajetória que prima pela eficácia. O nível de confiança aumenta e isso advém da precisão da direção aliada a uma suspensão de elevada competência e a uma configuração do chassis que é meritória de elogios. Não é, contudo, um modelo tão extremista no pisar como o Civic Type R ou até como o anterior Renault Mégane R.S., permitindo uma simpática convivência em termos de conforto para os ocupantes.

Com modos de condução distintos (DCC), de que se destaca o Race para os momentos de ‘time-attack’ (havendo ainda modos ECO, Comfort, Normal e Individual), os parâmetros de atuação da caixa de velocidades automática, o amortecimento variável e a assistência da direção mudam as suas configurações, havendo ainda no caso premente uma sonoridade mais ‘bruta’ do escape no modo Race. Já os consumos, é caso usual de desportivo, andando muito próximo dos 10 litros por cada 100 km. A nossa média do ensaio foi de 9,4 l/100 km, longe dos 7 l/100 km anunciados.

Interior atualizado

A reboque da atualização de gama do Golf, operada em meados deste ano, o R também dispõe de novidades tecnológicas importantes, como o painel de instrumentos Active Info Display (opcional por 461€) que permite personalização das informações a apresentar ao condutor, ou o ecrã central tátil com ecrã tátil de 9.2 polegadas (superfície em vidro) e atuação por gestos nalgumas funcionalidades (de espetro reduzido, no entanto…) na versão mais evoluída. Com navegação e sistemas de conectividade pensados para o smartphone, o módulo de infoentretenimento Discover Pro tem um custo de 748€, conferindo ao habitáculo um visual mais moderno, mesmo tratando-se de um modelo que tem origem em 2012.

Ainda acerca do interior, não se alterando as dimensões, os lugares traseiros estão apenas na média do que o segmento oferece agora e a bagageira não é predicado muito atrativo para um âmbito familiar com apenas 343 litros de capacidade. Noutro âmbito, os bancos dianteiros oferecem um bom suporte do corpo e a qualidade e requinte a bordo é de enaltecer, em virtude de muitos materiais de primeiro nível em pele e de construção exemplar.

Em matéria de segurança, o Golf traz sistema Front Assist dianteiro com alerta de colisão e travagem automática de emergência (também para peões), de série, ou o cruise control adaptativo com função de paragem e arranque automáticos e sensor de veículos no ângulo morto colocados na lista de opcionais. Dito isto, chegamos ao preço: 55.779€, o qual acaba por ser elevado, tanto mais que ainda há muitos opcionais que fazem elevar o montante final a pagar.

VEREDICTO

Não é um extremista como o Civic Type R nem exige uma mudança radical de abordagem ao volante, mas tem um conjunto muito convincente de atributos que o tornam num desportivo de elevada competência, sobretudo na maneira como entrega a potência ao asfalto por intermédio de um motor 2.0 TSI em associação à caixa DSG e tração integral 4Motion. Além disso, opta por uma toada de discrição e simplicidade visual (com as mesmas novidades da demais gama, como os faróis com LED e grelhas redesenhadas), num sintomático raciocínio alemão que contraria a exuberância doutros modelos do mesmo género. Certo é que os indefetíveis da marca alemã vão adorar, a reboque de valores de prestações que são de ‘encher o olho’.

Porém, o custo pode ser um entrave, situando-se acima da barreira dos 50 mil euros quando muitos concorrentes – se não a totalidade – se mantém abaixo desse patamar. Aliás, no campo dos desportivos compactos de tração integral, mesmo o Ford Focus RS com motor 2.3 EcoBoost de 350 CV fica nos 50.525€…

Mas percebe-se o posicionamento que a Volkswagen procura dar ao seu compacto mais potente. O Golf R tem um aura que é herdada do GTI e que é transmitida aqui num modelo de maior exclusividade, algo que o preço também procura refletir. Quanto mais não seja, o Golf R será um futuro clássico com capacidades dignas de um superdesportivo da década de 1980 e 1990.

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