Volkswagen up! GTI: Pequeno diabrete

24/03/2019

É impressionante que um pequeno carro como o up! seja tão competente a oferecer adrenalina, mas entre as coisas que não se medem aos palmos, a emoção é uma delas. Tudo porque a Volkswagen quis fazer uma ‘brincadeira’ com o seu modelo mais compacto, aplicando-lhe uma sigla muito especial na carroçaria – GTI. E a brincadeira acabou por ficar bastante séria. Porque este atleta tem muito para dar…

Os puristas da sigla GTI poderão ter ficado algo escandalizados quando a Volkswagen anunciou a preparação de um up! GTI, mas ter-se-ão esquecido de que a filosofia GTI deriva daquela empregue no Golf de primeira geração, concebido por uma ‘sociedade secreta’ no interior da Volkswagen numa época em que os carros desportivos eram ‘alvos a abater’ por se estar na época da crise do petróleo. Pois, então, o Golf GTI MK1 de 1976 debitava 110 CV e o peso partia nos 790 kg, permitindo-lhe chegar dos zero aos 100 km/h em 9,1 segundos. Números não muito diferentes dos deste GTIzinho das imagens.

É verdade. Existem modelos mais potentes, maiores e mais rápidos, mas a sensação de se estar aos comandos de um carro com aptidões desportivas e tão poucos filtros é hoje pouco comum. Com uma carroçaria de três portas – tal como no GTI original de 1976 -, este up! GTI emprega uma estética mais arrojada, mas longe de ser espampanante. Quase como que uma tradição na marca germânica: é equilibrado e elegante em igual medida.

Na dianteira, a grelha superior tem uma faixa encarnada típica e a inferior apresenta desenho de ‘colmeia’, a que se juntam jantes de 17 polegadas com desenho específico, spoiler traseiro na tampa da bagageira e uma discretíssima saída de escape redonda. Nota, ainda, para as capas dos espelhos em preto brilhante (a mesma cor do spoiler traseiro) e para as faixas laterais em preto na secção inferior. A sigla GTI também prolifera: na dianteira, nas laterais, na bagageira e até nas soleiras das portas.

Com estas abertas e acedendo ao habitáculo, os bancos dianteiros têm os encostos de cabeça integrados, mas o que sobressai é o revestimento em padrão axadrezado ‘Clark’, além do volante exclusivo em pele com pespontos a vermelho e alavanca da caixa também com recurso a pele. O tablier tem ainda um revestimento plástico específico, mas o resto é muito semelhante ao up! comum, ou seja, predominam os plásticos duros, mesmo que a aparência global seja de robustez e durabilidade. Tudo muito simples neste aspeto. Mordomias também não existem por aí além no sistema de infoentretenimento, já que apenas temos direito a um rádio simples do sistema ‘Composition Phone’, que pode ser conectado a um smartphone (com suporte na parte superior), mas que no formato base é simples. Numa época em que tanto se critica o excesso de distrações dos ecrãs táteis, talvez este excesso simplista também não fosse necessário. Mas, há espaço para um pequeno ecrã no mostrador do rádio que transmite as imagens de pequena câmara traseira.

O ambiente a bordo é, por isso, espartano, mas também agradável, coincidentemente. O espaço para quatro adultos é mais do que suficiente (tanto em altura, como em largura e espaço para as pernas) e o acesso aos lugares traseiros, não sendo excecional, está bem conseguido. Na bagageira, que parece pequena, há mais versatilidade do que se imagina. Com um fundo falso, os 251 litros são úteis para levar alguma bagagem de fim de semana, pelo que cumpre com este seu objetivo.

Rapidez comprovada

Mas, ao volante, o up! GTI com 115 CV de potência tem outra intensidade. É rápido nos arranques e, espevitado por um escalonamento de caixa muito curto que privilegia as prestações, o 1.0 TSI sobrealimentado de três cilindros ganha velocidade com interessante prontidão num regime logo em redor das 1700 rpm.

A aceleração dos zero aos 100 km/h cumpre-se em 8,8 segundos (dos zero aos 80 km/h leva apenas 5,8 segundos) e raramente o bloco a gasolina denota apatia, reagindo, pelo contrário, com ímpeto à carga no acelerador, com a exceção a ser em regimes excessivamente baixos (aqui, algo traído pelo atraso da resposta do turbo). Porém, é um cenário que não desvirtua a competência mecânica. O binário de 200 Nm traz consigo maior competência nas recuperações e o up! GTI está pronto para outros ritmos, acompanhado de uma sonoridade rouca que pretende ser desportiva, mas que – pequena desilusão – resulta de amplificação pelos altifalantes… Mas não desaponta.

O manuseamento da caixa de seis velocidades também encanta e é fácil assumir uma pose dinâmica para estradas sinuosas, surpreendendo até quem duvidasse da sua capacidade. Os cerca de 1070 kg que acusa na balança dão-lhe uma agilidade quase exclusiva para o segmento, respondendo com decisão e segurança aos comandos da direção por parte do condutor e com a disponibilidade do motor de três cilindros a permitir prestações vigorosas e uma condução divertida. Se pudesse ter uns 20 CV suplementares seria ‘ouro sobre azul’, mas percebe-se que a Volkswagen não tenha querido mexer por aí além num motor que tem provas dadas em diversos dos outros modelos (e marcas do Grupo Volkswagen). E, em autoestrada, até se destaca pelo refinamento e compostura.

Não deixa de ter um acerto firme, proporcionado pela redução da altura ao solo em 15 mm, pelo alargamento de vias em 8 mm e pela colocação dos dois eixos nos extremos da carroçaria. Precisão e diversão num pacote tão compacto é algo que não é muito comum. Mas este up! GTI é bem-sucedido. A economia também está num plano positivo. No nosso ensaio, conseguimos uma média de 5,6 l/100 km, precisamente a mesma que é adiantada nos valores oficiais e sem que tenhamos sido especialmente cautelosos. Até porque esticar uma segunda ou terceira velocidade é apelativo o suficiente para mostrar o que vale um GTI.

Pelo lado menos positivo, naturalmente, não deixa de ser um citadino (apenas quatro lugares) e o acerto mais firme dá-lhe alguma rigidez que retira conforto em mau piso, sendo ‘seco’ no asfalto degradado. Até porque as jantes de 17 polegadas também apontam para o dinamismo (preenchendo excecionalmente as cavas das rodas). A posição de condução é também algo estranha de encontrar e ao condutor falta algum apoio lateral para as curvas feitas mais depressa.

VEREDICTO

E quanto é que ‘vale’ este GTI tão pequeno? De acordo com a Volkswagen, 18.150€, o que alguns poderão considerar excessivo para um citadino, mas que, atendendo ao conjunto e a toda a sua especificidade, é justificado. Um ícone que recupera o espírito GTI de outros tempos e que, não sendo ‘bruto’, nem excessivo, faz a sua ‘arte’ de forma segura e composta. Que é ágil e bem construído. Divertido q.b. e económico. Um digno sucessor espiritual do Golf GTI de 1976, com rapidez nas prestações, motor ‘cheio’ com afinação para prestações melhoradas, manuseamento entusiasmante e equipamento que oferece o essencial (ar condicionado automático, câmara traseira, bancos aquecidos, etc…).

Há, efetivamente, modelos desportivos mais ágeis, mais intuitivos ou mais sensuais ao olhar, mas com este preço e com esta agradabilidade não há muitos. E, sendo um GTI, terá sempre o valor associado a uma edição que não será sinónimo de ‘paletes’ de vendas, mas que terá uma exclusividade assim adequada.

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