Volvo XC40 T3 FWD R-Design: Tão irreverente que nem parece sueco

15/10/2018

Segue de ‘vento em popa’ a estratégia comercial da Volvo. Com uma política de lançamentos bastante agressiva, a aposta nos SUV foi reforçada com a chegada do XC40, um modelo mais compacto mas que não deixa os seus bons ‘genes’ suecos cair na ‘lama’. Aquele que foi o Carro do Ano na Europa em 2018 mostra que a qualidade não se mede aos palmos.

Poderia a Volvo fazer apenas um mini-XC60? Poderia. Afinal, este último tem uma carreira particularmente bem-sucedida a nível mundial e qualquer veículo que derivasse desse teria vida simplificada. Tão simples como montar um móvel entregue dentro de uma caixa de cartão. Mas a Volvo quis colocar a fasquia um pouco mais acima e tratou de fazer um modelo de raiz, estreando a plataforma CMA (Compact Modular Architecture).

O XC40 é, pois, uma novidade muito relevante no segmento dos SUV compactos Premium, podendo em última instância ‘roubar’ alguns clientes ao ‘primo’ XC60, mesmo que, tendencialmente, o posicionamento distinto de cada um possa impedir isso.

Irreverente

Contrariando a ideia de que os suecos são uns sisudos, o Volvo XC40 é irreverente e, em boa verdade, até surpreende. O ponto mais marcante deste modelo em termos estéticos está na conceção do pilar C, numa solução que é discutível do ponto de vista funcional: a abertura da porta traseira obriga a alguma cautela para não haver uma ‘agressão’ do extremo da porta e, uma vez a bordo do habitáculo muito refinado, perde-se alguma da luminosidade devido à superfície vidrada recortada.

A visão para o que está atrás a três quartos também não é a melhor, mas a câmara ajuda nas manobras de saída de lugares de estacionamento. Concessões ao design. Na dianteira, o mesmo ‘tema’ na assinatura luminosa, com o ‘T’ do Thor a figurar nos faróis.

Um Volvo, com certeza…

Por dentro, materiais de primeira linha ajudam a uma sensação Premium que impele em muito a causa deste XC40, a par de montagem irrepreensível e de habitabilidade apreciável para adultos até uma estatura com 1,90 m de altura dispondo ainda de espaço mais do que suficiente para as pernas e largura que acolhe três adultos de forma apertada para viagens mais curtas. A funcionalidade permitida pelos diversos espaços de arrumação também merece destaque, o mesmo se aplicando à bagageira – com 460 litros -, ainda que esta tenha um patamar de carga algo distante do chão.

A posição de condução é mais elevada do que nalguns concorrentes e, para o condutor (que tem à sua frente um painel de instrumentos digital de 12.3″), a grande maioria das funções é controlada a partir do ecrã tátil de 9.0 polegadas na consola central. O funcionamento replica, em grande medida, o dos smartphones, com ecrãs que deslizam de um lado para o outro e teclas de atalho. Tal como sucede em praticamente todos os carros que optam por esta solução, acarreta alguma distração do condutor, mas é simples de olhar e de manusear. O sistema de navegação permite inclusive a escrita no ecrã (com bom funcionamento) e comandos por voz, o que se revela útil quando se quer pedir direções.

Melhorável é o modo de apresentação das informações do computador de bordo, num pequeno quadrado do lado direito, embora seja uma solução usual na Volvo.

Três cilindros em estreia

A grande novidade deste modelo é, porém, o motor a gasolina T3 de 156 CV de potência, associado unicamente a caixa manual de seis velocidades e a tração dianteira. Pela primeira vez na sua história, a Volvo conta com um motor de três cilindros, sendo esta também uma unidade que dará ‘corpo’ ao futuro híbrido XC40.

Unidade de nova geração da família Drive-E da Volvo, com turbo e injeção direta, a motorização de 1477 cc revela-se bastante enérgica na grande maioria das ocasiões numa faixa que se inicia nas 1500 rpm e que se prolonga até uma fasquia em redor das 4000 rpm, sendo neste intervalo que é mais interessante de explorar. Peca algo na suavidade, adotando uma resposta um pouco impetuosa, mas a entrega é ótima para conceder a este Volvo uma desenvoltura que fica perto de uma ‘aura’ mais dinâmica (os 265 Nm de binário contribuem para essa experiência). Apenas nas recuperações em quinta ou sexta velocidade vale a pena recorrer à caixa, sobretudo nos momentos de ultrapassagem.

O manuseio da caixa é suave e o escalonamento está correto (embora o punho da alavanca da caixa seja ‘maciço’), curto nas primeiras quatro relações, sobretudo, para assim aproveitar melhor a força deste bloco de três cilindros.

Se o motor tem créditos muito positivos, o consumo é pouco simpático, rondando muito facilmente a casa dos oito litros por cada 100 km. Acabámos com 8,4 l/100 km, o que se pode assumir como um valor elevado para um SUV compacto (a média anunciada é de 6,4 l/100 km). Por outro lado, bom refinamento do motor, ouvindo-se sim, de forma frequente, o silvo do turbo.

As boas impressões ao volante estão relacionadas também com o comportamento, já que o XC40 com este motor retira dividendos do facto de ter um peso baixo para um bom compromisso entre agilidade e conforto. Ainda assim, é inegável que aponta para um maior pendor de suavidade, procurando dar aos ocupantes mais conforto em troca de algum dinamismo, um pouco à semelhança do que sucede com os XC60 e XC90. Mas, o XC40 é mais ágil e coloca-se mais à disposição do condutor para maior arrojo em curva (sobretudo, com a suspensão desportiva da versão R-Design), havendo um adornamento controlado da carroçaria que não ameaça, nem de perto, nem de longe, a sensação de segurança e de estabilidade geral ao volante. Se o requinte é ótimo para viagens tranquilas, para quem procura diversão de condução, outras opções podem ser mais recompensadoras.

Refletindo o seu patamar Premium, o XC40 tem um preço de acesso de 35.000€, o que atendendo ao estatuto e ao refinamento que oferece pelo ambiente a bordo, mas também pela qualidade geral, é ajustado. É, porém, um modelo que apela a um cliente mais jovem do que o tradicional condutor da Volvo e muitas das soluções tecnológicas e novidades de personalização vão nesse mesmo sentido. A versão ensaiada tinha um preço de 41.925€ por surgir na variante R-Design, com uma série de elementos mais desportivos como as jantes de 18 polegadas, e tecnologia adicional (Tech Edition). Ou seja, se na qualidade e na pose os genes suecos não são esquecidos, no preço também não (até nos opcionais)…

Mas, convém ainda não esquecer a imensa panóplia de sistemas e de qualidades técnicas na área da segurança que fazem do XC40 mais um modelo de enormes credenciais nessa área, dando mais um passo rumo à intenção da Volvo de atingir zero fatalidades na estrada a bordo de um dos seus modelos automóveis.

VEREDICTO

O XC40 procura trazer para a Volvo uma série de novos condutores, preferencialmente mais jovens, que ficarão encantados pela robustez das linhas deste SUV e pela sua qualidade geral. Razões que terão contribuído de maneira decisiva para a sua eleição como Carro do Ano na Europa, a par da condução requintada e segura e da tecnologia embarcada (tanto as de comodidades, como as de segurança), que merecem um forte elogio na análise geral ao SUV mais compacto da marca sueca. O motor a gasolina de três cilindros é também um símbolo da nova era na Volvo e responde a uma maior procura da gasolina como combustível para o mercado europeu.

Não sendo perfeito em todos os seus capítulos – a visibilidade a três quartos para trás, o consumo e o preço dos opcionais -, o XC40 é um dos melhores carros do segmento, extremamente capaz e completo. O motor de 156 CV agradará a quem faz poucos quilómetros por ano, mas poderá não ser o mais adequado para quem procura fazer viagens mais longas muitas vezes.

FICHA TÉCNICA
VOLVO XC40 T3 R-Design
Motor: Gasolina, 3 cilindros em linha, injeção direta, turbo+intercooler
Cilindrada: 1477 cm3
Potência: 156 CV às 5000 rpm
Binário máximo: 260 Nm às 1860-3840 rpm
Suspensão dianteira: MacPherson, independente, barra estabilizadora
Suspensão traseira: Independente, barra estabilizadora
Tração: Dianteira
Caixa: Manual de seis velocidades
Aceleração (0-100 km/h): 9,4 segundos
Velocidade máxima: 200 km/h
Consumo médio anunciado (medido): 6,3 l/100 km (8,4 l/100 km)
Emissões de CO2: 144 g/km
Peso: 1775 kg
Bagageira: 460-1336 litros
Comprimento/Largura/Altura (mm): 4425/1863/1652
Distância entre eixos (mm): 2702
Pneus: 235/55 R18
Preço base (ensaiado): Gama a partir de 35.000€ (41.925€)

Mais: Visual; conforto; qualidade geral; refinamento; prestações; segurança.

Menos: Preço dos opcionais; alguns detalhes de visibilidade; consumos.

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