A melhor estrada do mundo foi feita ‘à medida’ do Mazda MX-5

04/12/2017

Na receita ideal para qualquer amante da condução têm de estar reunidos três ingredientes: uma estrada cénica fabulosa, um carro que responda obedientemente à mais ligeira das ordens efetuadas ao volante e, claro, tempo soalheiro.

Para a estrada, nada melhor do que partir à (re)descoberta da Nacional N222, considerada recentemente por um estudo como a via mundial mais empolgante para se estar ao volante (porventura menos interessante para quem vai ao lado, mas já lá iremos…) e para o carro temos ‘apenas’ aquele que é o roadster mais vendido do mundo, o Mazda MX-5, aqui na variante ‘coupé’ RF (Retractable Fastback). Essa foi apenas uma das estradas que tivemos a possibilidade de calcorrear a convite da Mazda, juntando-se-lhe outros percursos pelas zonas de Salamanca, Ciudad Rodrigo e Termas de Monfortinho.

Quanto à meteorologia, São Pedro ajudou – embora, sendo sinceros, já não devesse… – e deixou a estrada sequíssima, mesmo que o frio fizesse ‘bater o dente’.

Tudo certo, portanto.

No mais recente evento do Clube Mazda MX-5, organizado pela Mazda Motor Portugal, foi-nos entregue um dos novos roadsters com capota rígida, naquele que é, para nós, um dos modelos mais interessantes e divertidos de explorar de todo o mercado nacional com um preço tremendamente acessível. Poderá soar a exagero, mas qualquer pessoa que tenha levado um destes pequenos ‘samurais’ para uma estrada sinuosa certamente estará a acenar com a cabeça em jeito de confirmação.

O Mazda MX-5 com o seu motor 1.5 de 131 CV, atmosférico a gasolina, nunca nos pareceu o mais afincado dos ‘sprinters’. Porque, em boa verdade, não o é. Por vezes, é preciso esticar o motor para rotações bem mais elevadas para extrair o máximo do potencial deste motor, mas a potência que tem chega e sobra para tornar a condução numa obra de precisão de trajetórias e ‘escapadelas’ controladas de traseira.

Enfim, um carro para puristas da condução, para todos aqueles que gostam de conduzir com a perfeita noção do que cada roda está a fazer, porque a direção tem a precisão e acutilância que se adapta a esse registo. Mas, sobretudo, porque o chassis tem um equilíbrio fantástico, habilmente concebido pelos engenheiros da Mazda em Hiroxima. Dito isto, importa referir que conceder adjetivos como ‘fantástico’ deve ser algo que se deve aplicar com alguma contenção, porque, consoante o caso, pode ser fácil encontrar falhas ou lacunas posteriores.

Porém, no final de um evento que teve mais de 1300 quilómetros de viagem com troços de autoestrada, nacional, cidade e muita montanha, chegar ao seu final com a sensação de não se ter encontrado nenhuma dessas lacunas é ‘obra’.

Pelo menos, daquelas relacionadas com a condução numa estrada como a que foi considerada a melhor do mundo, de acordo com um estudo da Avis Rent-a-Car que considerou esta via como a perfeita para a condução (que liga Peso da Régua a Vila Nova de Foz Coa). Encare-se o MX-5 como um companheiro fiel e extremamente realista na forma como transmite as sensações da estrada ao condutor e é difícil não sair dele com um sorriso na cara. Além da direção, cujo tato é quase sobrenatural, tal a eficácia e ‘feeling’ concedido, a caixa manual de seis velocidades está eximiamente calibrada (e posicionada), permitindo dessa forma uma condução rápida e mais sensorial, com troca de mudanças rápida e sem mácula.

Pureza de sensações

Nesta versão RF, a Mazda concebeu um desportivo simples e puro de estilo targa possibilitado pela remoção elétrica do tejadilho rígido, que é no seu princípio geral, muito fiel ao modelo original, o NA, lançado na Europa em 1990. O processo de transformação demora apenas 13 segundos e pode ser efetuado em andamento, embora apenas até aos 10 km/h. Ou seja, mais vale estar parado para observar toda a mecânica do processo. E, para os que temiam a perda de estabilidade ou mexidas na relação peso/potência, fica a surpresa de que todo o mecanismo acrescenta apenas 45 kg face ao descapotável lançado há dois anos.

Face a isso, o MX-5 RF continua a deixar-se ‘atirar’ para dentro de uma curva, saindo dela com uma resposta fidedigna, necessitando de pouquíssimas correções de volante. Por outro lado, toda aquela eficácia surge sem perder o conforto, permitindo efetuar longas tiradas sem que seja cansativo para o corpo (o amortecimento está ligeiramente mais suave em comparação com o MX-5 de teto em lona). A suspensão tem o condão ‘misterioso’ de ser afável no asfalto rugoso ou empedrado e deveras competente nas curvas feitas com algum otimismo em excesso. Nota para o consumo médio surpreendente deste motor 1.5 Skyactiv-G de 131 CV, fixando-se em meros 6,2 l/100 km.

Parecido com este numa faixa de preço ligeiramente acima só o Toyota GT86, também ele um exercício molecular de prazer de condução. Nestas coisas dos desportivos de baixo peso e potência relativamente moderada, os japoneses ainda têm algo de especial.

No caso do MX-5, o capítulo da condução e do estilo é exímio, tanto mais que o formato RF permite um visual mais robusto com a sua capota rígida que se esconde na bagageira sem roubar muito espaço à bagageira, na qual se conseguem enfiar duas malas de viagem trólei, dois casacos, um computador portátil e mais alguns ‘tarecos’ (dos figurados…). Não é o mais versátil do mundo, mas ninguém estaria à espera de algo diferente.

Porém, viver com ele pode ser complicado no caso de ter muitos objetos consigo: o habitáculo – com qualidade de montagem a toda a prova – peca pela gritante falta de espaços de arrumação. Não o há nas portas, na consola central há um para o telemóvel, outro para as chaves e um ‘porta-luvas’ entre os dois bancos. Não muito amplo, serve para guardar as luvas.
Apenas alguns dos Mazda MX-5 que participaram no mais recente evento do Clube MX-5 Portugal.

Outro ponto menos interessante: a insonorização em velocidades de autoestrada. A sonoridade do motor é muito interessante em estradas de montanha quando estamos em fase de insanidade temporária, mas quando se vai a 120 km/h e ouvimos o motor e o vento a ladear a carroçaria na intensa batalha da resistência aerodinâmica acaba por aparecer algum incómodo.

Relatos de “bancos direitos com queixas”

A frase ouviu-se algumas vezes depois de terminada a viagem que ligou Peso da Régua à Guarda, passando por Foz Côa, Pinhão, São João da Pesqueira e Almendra, e não tem nada que ver com a qualidade do banco, muito menos com a montagem do mesmo. Tem que ver com a forma como no banco do lado direito tudo parece acontecer mais depressa e de forma assustadora. Porque se vai em posição muito baixa e porque até um Fiat Seicento parece grande em comparação lado-a-lado.

Mas, sobretudo, porque até uma curva modesta feita a 60 km/h ou 70 km/h empolga o condutor, mas menos o passageiro do lado direito, para quem o enjoo pode ser um ‘visitante indesejado’.

Longe de ser um ensaio como os demais, este foi um teste a duas vertentes: a visita a alguns percursos turísticos que também se adequam às qualidades deste MX-5 RF e à animação e afluência que os eventos do Clube MX-5 Portugal conseguem trazer. Pessoas de todas as idades e de todos os quadrantes sociais que têm como ponto comum a paixão pelo pequeno MX-5.

Miateiros, denominam-se alguns, em honra do ‘americano’ Miata, nome pelo qual é mais conhecido em solo norte-americano. Sem mácula e sem riscos, cada um traz para o evento a sua própria experiência, partilhando conselhos e ajudando-se entre si quando necessário. Embora tal nunca tenha sido muito preciso nestes eventos: entre os diversos que já se realizaram, nunca houve qualquer problema mecânico ou derivado de excessos. Uma prova de que, para se conviver e tirar partido destas máquinas, não há que se ser ‘acelera’.

Para muitas das povoações e localidades pelas quais passámos houve também um pouco mais de emoção, com muita gente a sair de suas casas para ver a comitiva de quase 30 MX-5, havendo quem quisesse filmar a passagem dos carros. Simplesmente, porque não é todos os dias que se vê um ‘comboio’ de MX-cincos a apreciar as vistas.

Em suma, se há motivos para inventar crises de meia-idade (mesmo que não existam), o MX-5 RF tem de ser um deles pela conjunção dinâmica e visual que este modelo permite (sejamos honestos e inclua-se o MX-5 roadster também na apreciação, já que é um pouquinho mais acutilante). Mas o realismo, esse teimoso comparsa do quotidiano, encarrega-se de mostrar que não pode ser. A crise de meia-idade ainda parece estar algo longe.

Enfim, este é um daqueles carros que devem ser guardados num museu para, no futuro, se dizer aos nossos descendentes, ‘desvirtuados’ nas suas emoções reais em prol da virtualização proporcionada pela tecnologia, como ‘antigamente’ estas máquinas ruidosas eram garantias de felicidade.

Se quer um para se juntar aos ‘Miateiros’…

Em Portugal, o novo Mazda MX-5 RF é proposto nas versões Evolve e Excellence na motorização 1.5 e apenas Excellence na mais equipada no 2.0 litros. Nas propostas de entrada, os preços vão dos 29.840 aos 33.085 euros. Já o motor de 2.0 litros varia entre os 41.590 e os 44.025 euros, este último para a versão com caixa automática.

Ficha técnica
Mazda MX-5 1.5 RF
Motor: 1496 cc, injeção direta
Potência: 131 cv/7000 rpm
Binário Máximo: 150 Nm/4800 rpm
Transmissão: tração traseira, caixa manual de seis velocidades
Aceleração 0-100 km/h: 8,6 s
Velocidade máxima: 203 km/h
Consumo médio: 6,1 l/100 km
Emissões CO2: 142 g/Km
Bagageira: 127 litros
Preço: desde 29.840 euros

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