Preparada para abraçar a era da eletrificação, a Alpine promete que o sucessor do A110, conhecido pelo seu foco no baixo peso, será tão entusiasmante de conduzir como o modelo atualmente à venda e que relançou a companhia gaulesa em 2016.
Em conversa com os jornalistas durante o Salão de Paris, Antony Villain, que é o principal responsável pelo design dos automóveis da Alpine, reconhece a importância de manter os novos modelos perto dos códigos genéticos e linguísticos da marca, mesmo que seja necessário enveredar pelo novo caminho da eletrificação, sobretudo no caso do sucessor do A110.
“Vamos ser um pouco mais arrojados, mas vamos manter o elo de ligação, especialmente no caso do A110, que é um ícone. Não podemos simplesmente mudar, temos de manter o legado. Como sempre disse, desenhámos o atual A110 como um elo de ligação e a mensagem inicial era clara: imaginar que o A110 da década de 1960 ainda estiva vivo. Esse era o pensamento do nosso trabalho e claro que no próximo A110 não vamos fazer o oposto”, refere Villain, lembrando que terá de existir um fio condutor no caso deste coupé, mas que o mesmo poderá ser menos evidente na gama de novos modelos que se apresta a ser lançada, incluindo um SUV.
“Partimos com este pensamento de legado, mas vamos para os veículos elétricos e em busca de novos clientes, pelo que vamos adotar um desenho mais ousado e futurista nalguns pontos, mas vamos manter esta sensação de legado de que não nos queremos afastar. Para o A110 é especialmente importante. Para os outros ‘bebés’, poderemos desviar-nos um pouco, já que não estão na gama atual e, por isso, teremos mais liberdade para explorar. Porém, haverá sempre uma ligação [visual] entre todos estes carros”, assevera, abordando que o essencial é dar continuidade à expressão máxima de emoção de condução que foi a génese do Alpine A110 em 2016, aquando do relançamento da marca.“O A110 é súper-leve mas a leveza é apenas uma ferramenta para a agilidade. Todos os marcadores respondem à experiência de condução, à agilidade e à ideia de tornarmo-nos num só com o carro. A ligeireza é uma forma de o alcançarmos e penso que é muito consistente com a filosofia dos carros desportivos. Com o futuro A110 elétrico estamos muito focados na massa. Claro que será mais pesado do que o A110 hoje, mas será o melhor da classe no mercado em termos de ligeireza. Terão essa experiência de condução, essa sensação de unidade com o carro e essa mesma diversão ao volante. Depois, quando forem para os nossos carros maiores, vamos usar outros truques para juntar esta experiência de condução. Claro que temos o pack de baterias muito pesado, mas temos muitas tecnologias ativas e tecnologias para apagar isso e ter essa sensação de ligeireza. Já testámos algumas coisas e temos algumas soluções de engenharia interessantes escondidas que o tornam divertido e não deixam sentir o peso do carro”, acrescenta Villain, reforçando que a fórmula elétrica não será entrave para o divertimento.
“Com o elétrico temos a potência e o binário disponíveis imediatamente. Teremos isso, mas teremos a agilidade. O que é importante é sorrir e ter uma experiência de condução divertida. A aceleração é um dado adquirido com a tecnologia, mas o nosso conhecimento está na experiência de condução. No passado, a Alpine não era conhecida pelos seus motores – tínhamos motores pequenos. Mas, a nossa assinatura eram o conjunto, a leveza e experiência de condução. O mesmo se passa hoje: podemos ter motores elétricos, baterias, mas o conhecimento e a engenharia para a experiência de condução e agilidade são muito bons e é isso que oferecemos com estes projetos”.
Outra área de design que é agora muito mais importante para uma marca desportiva é a do som, que na época dos elétricos tende a ser praticamente nulo. Antony Villain está consciente de que este é também um desafio e promete “algo natural que dê uma experiência real. Temos de criar um novo som e uma nova experiência. É uma nova sensação. Acho que todos os construtores o procuram. Temos muito trabalho para fazer, não é fácil. Mas é um tema-chave no desenvolvimento dos novos carros”. De fora da equação está já a replicação da sonoridade dos ‘velhos’ motores de combustão: “seria um disparate”, atira o designer da Alpine.
Um SUV que será tipicamente Alpine
“No caso do SUV, vão ver muita ligação com o A110 e que tem um ótimo desenho. É realmente um Alpine. Penso que não existe problema em explorar estes caminhos, se mantivermos a experiência de condução, a elegância, a desportividade e a postura. Penso que não é problema. Há muitos outros fabricantes que exploram estes caminhos mantendo-se fiéis ao seu ADN e há muitos clientes que querem estes carros. E precisamos de ambos: de ampliar a nossa pegada e a nossa base de clientes…”, assegura Villain, ao mesmo tempo que confessa que “este projeto é bastante divertido para nós. Estamos confiantes de que será um sucesso, uma vez mais, se o fizermos bem e de forma fiel”.
Aquilo que também garante é que o trabalho que está ser feito com a Lotus, marca com a qual existe um acordo de parceria, será específico para cada marca tanto em termos de desenho, como de afinação de condução. “Estamos a trabalhar com a equipa da Lotus, o que é bom, porque temos uma mentalidade comum, mais ou menos a mesma filosofia de experiência de condução. [Mas], nós não estamos a fazer o mesmo carro. Cada marca tem o seu próprio carro. Talvez eles sejam um pouco mais radicais do que nós, mas temos a mesma filosofia. A equipa de design está no mesmo comprimento de onda pelo que é um prazer trabalhar com eles, mas estamos a fazer carros diferentes, sem sobreposição e sem problemas. Temos os nossos próprios territórios em termos de design, partilhamos alguns dados comuns, mas depois cada companhia faz o seu próprio carro”.
O futuro da competição ‘limpa’
O stand da Alpine no Salão de Paris estava composto por três novidades absolutas, uma delas para a estrada, o A110 R, e duas para o campo das hipóteses, o A110 Eternité totalmente elétrico e o Alpenglow, um desportivo extremo com motor de combustão alimentado a hidrogénio. Antony Villain explica que estes dois últimos modelos revelam a linha de pensamento e de desenvolvimento a seguir por uma marca como a Alpine.
“É por isso que vamos explorar esta direção. Claro que a regulamentação e a infraestrutura do hidrogénio terão de avançar mas creio que o papel de uma marca é explorar e, sobretudo no desporto, estar sempre à frente do seu tempo a desenvolver novas tecnologias e novas ideias que depois acabam nos carros de produção. Achamos que o hidrogénio pode ser um ótimo caminho para o desporto automóvel e para condução apaixonada, mas não é o único caminho, mantemos um olho em todas as outras tecnologias”.
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