Chika Kako: A ‘arte’ e sabedoria de desenvolver o Lexus UX no feminino

08/03/2018

Assumindo um papel pouco comum na indústria automóvel, a japonesa Chika Kako sobe ao palco uma vez terminada a apresentação do Lexus UX, aquele que será um dos produtos mais importantes desta marca Premium a nível mundial. Abeirando-se do novo crossover nipónico, que estará à venda apenas no primeiro trimestre de 2019, acede aos pedidos das dezenas de fotógrafos para posar junto ao UX. Afinal de contas, este modelo é a sua mais recente criação.

Com efeito, Chika Kako teve sob a sua alçada o processo de desenvolvimento do novo Lexus UX, sendo a engenheira-chefe deste modelo, num papel que não lhe é inteiramente novo, uma vez que desempenhou papel semelhante na evolução do compacto CT 200h.

Na execução das suas funções dentro da marca, Chika Kako acaba por ter, também, a tarefa árdua de conjugar as raízes da cultura japonesa que estão ‘enterradas’ bem fundo na marca e, ao mesmo tempo, procurar agradar aos clientes de outros pontos do globo, sendo que os europeus têm, tendencialmente, uma postura de exigência elevada para com os automóveis novos.

Assim, em 2001, esta responsável (cujo ingresso na Toyota Motor Corporation data de 1989, então para a Divisão de Engenharia de Materiais), deslocou-se para a Europa, mais concretamente para o departamento de Pesquisa e Desenvolvimento da atual Toyota Motor Europe, um evento significativo por ter sido a primeira vez que isso sucedeu com uma engenheira.

No Velho Continente, esta japonesa esteve envolvida na pesquisa de tendências tecnológicas locais e pelo desenvolvimento e avaliação de peças para carros produzidos na Europa. A sua missão traduzia-se em melhorar o apelo dos interiores dos automóveis e de analisar as diferenças entre os valores europeus e japoneses sob uma perspetiva de engenharia emocional. Dessa tarefa resultou um protótipo original LS focado em valores europeus.

Agora, depois do CT, chega a vez do UX ver os ‘holofotes’ e ‘flashes’ dos entusiastas dos automóveis, uma vez mais envolto no irreverente design da Lexus e com uma elevada perceção de qualidade interior. Uma fusão entre os princípios nipónicos e a filosofia europeia. Em Genebra, o Motor24 conseguiu falar com esta responsável e ficou a conhecer todos os segredos do novo crossover e o quão especial foi produzir um modelo que representa a entrada da marca num novo segmento, de fundamental importância em termos comerciais.

M24: Quais foram os principais objetivos para o desenvolvimento deste novo carro?

Chika Kako: Dentro do segmento dos carros compactos C, quisemos ter um modelo que tivesse a identidade original dos modelos da Lexus.

M24: Foi difícil aplicar a linguagem de estilo da Lexus num modelo mais compacto?

CK: Na verdade, no geral, a missão foi um pouco difícil ao ter de manter as dimensões compactas e, ao mesmo tempo, ter a força de perceção de um modelo de estilo crossover ou SUV. Mas, uma vez mais, tinha também de ter uma condução ágil com posição de condução mais baixa para que o condutor esteja sempre no controlo da situação e possa divertir-se ao volante.

M24: Tendo estado também a cargo do desenvolvimento do CT200h, que ensinamentos é que conseguiu retirar desse modelo para aplicar no mais recente UX?

CK: Claro que existem algumas semelhanças entre esses dois modelos compactos, mas com este crossover pusemos muita ênfase na ergonomia e funcionalidade, até mesmo para as compradoras, para as mulheres, que poderão olhar para este veículo com mais atenção.

M24: Poderá ser também, assim ser um carro mais direcionado para uma clientela feminina, alargando o apelo do veículo a outra faixa de condutores?

CK: Não apenas para mulheres, mas para todos os tipos de cliente, independentemente da idade ou do género.

M24: Está agora sedeada na Europa, certo?

CK: Sim, estou em Bruxelas desde 2001.

M24: É fácil trabalhar na Europa com toda a tradição de uma marca que é japonesa e que tem uma cultura forte?

CK: Na verdade, tive uma boa experiência e aprendi imenso com os colegas europeus. Gostei muito deste momento. O que é o luxo para os europeus. Aprendi imenso. [Por exemplo] com uma pessoa com que falei e graças à sua experiência na área de NRH [NDR: redução de ruído, vibrações e aspereza] ele consegue distinguir a caxemira de boa qualidade da de má qualidade. Como disse um colega francês, luxo é ‘art de vivre‘… melhorar o estilo de vida e aproveitar o tempo. Tudo isso é luxo.

M24: O interior do carro tem um estilo japonês muito próprio. Foi um objetivo colocar toda essa noção de qualidade e de materiais neste carro?

CK: Em termos de construção, a que chamamos arquitetura, mesmo que seja um conjunto mais pequeno, quis expressar uma sensação de abertura e uma visão muito clara inspirada pela arquitetura tradicional japonesa. Tentámos criar uma ligação entre o interior e o exterior. Se repararem dentro do carro, há uma linha no tablier que liga ao capot. Esse tipo de conexão assegura uma ligação à natureza.

M24: Assistindo a que existem cada vez mais dispositivos de segurança integrados no carro, é difícil incluir as novas tecnologias em termos de sensores e de sistemas de segurança nas linhas da Lexus?

CK: O objetivo é termos o máximo de compactar ao máximo todas as unidades de forma a integrarem-se com o design.

M24: Este novo modelo apenas conta com uma versão híbrida, na forma do 2.0. Porque é que não se incluiu a versão mais acessível do híbrido, fazendo duas variantes?

CK: Desde o início, o objetivo era ter uma motorização híbrida e em adição, desta vez, temos uma motorização 2.0 a gasolina.

M24: Provavelmente, sabendo que não poderá responder a esta pergunta, mas ainda assim, está programada a chegada de mais alguma versão híbrida, quiçá de maior potência?

CK: Infelizmente, não posso responder… [risos]

 

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