A história do Qashqai é impossível de dissociar da ascensão dos SUV na Europa e uma das suas chaves para o sucesso foi o desenho. A ideia de um automóvel compacto de cinco portas com maior altura ao solo, em comparação com o que era feito naquela época, traduziu-se num imenso sucesso. Matthew Weaver, Vice-Presidente na Nissan Design Europe, está intimamente ligado àquele projeto a todos os outros Qashqai que se seguiram. Explica, por isso, que o segredo da nova geração é não mudar profundamente a sua identidade e proporcionalidade.

Apresentada a nova geração do Qashqai, aquele que é um dos modelos mais importantes na Europa, a Nissan pretende manter os elevados níveis de êxito no Velho Continente, com o estilo e o formato compacto a serem apontados como trunfos – uma evolução clara face ao modelo anterior, mas sem haver uma rutura com as ideias que foram inculcadas no Qashqai desde a chegada do primeiro modelo, em 2007.

“A história do primeiro Qashqai nasceu no Centro Europeu de Design, em Londres. O primeiro modelo que fizemos foi aqui. Antes disso, em 2003, fizemos um concept para o Salão de Genebra que foi o primeiro projeto deste edifício, por isso o Qashqai está no ADN da nossa equipa e no das equipas da Europa. A primeira geração inventou o segmento, a segunda é a pioneira como grande sucesso de vendas e tornou-se no molde a seguir pelos outros”, começa por dizer numa conferência virtual entre o designer, em Londres, e os jornalistas, espalhados pela Europa. “Estamos muito orgulhosos, está no ADN de todos nós na Nissan. Sentimos que tem uma grande postura, com as jantes de 20”, com uma identidade muito própria do Qashqai, o que é muito importante. Além disso, dedicámos muita atenção ao cuidado do interior”.

Matthew Weaver, Vice-Presidente do Centro de Design da Nissan na Europa.

O molde para o sucesso, como lhe chama Weaver, foi explicado pelo próprio, admitindo que “o objetivo foi fazer um modelo que fosse tipicamente Qashqai, inconfundível ao longe, mas totalmente novo, com base na nova plataforma CMF-C da Aliança. Em termos de dimensões, face ao modelo anterior, a distância entre eixos é 20 mm mais longa e é mais comprido em cerca de 35 mm. Ou seja, tem proporções mito semelhantes, sentimos que o Qashqai está numa ‘área dourada’. Não é muito grande, mas o suficiente para ser espaçoso e robusto. Dizemos que está no tamanho certo, ainda sentimos que está no tamanho certo”.

“Quando se inventa o segmento e se está na liderança, é preciso fazer a diferença?”

“Eu e muita desta equipa estivemos envolvidos no primeiro Qashqai e penso que o design é chave, mas isso também sou a dizer, que sou designer [risos]. Claro que a compactação também é fundamental para o cliente. O que foi interessante com o primeiro modelo e ainda me lembro quando o estávamos a desenvolver é que, quando não há nada antes, não conseguimos perceber o que será [o sucesso ou não]. O Qashqai é um carro compacto elevado, esse é o segredo. O cliente conta com uma posição de condução mais elevada e mais segurança, mas o carro não se torna demasiado grande para os variados condutores o utilizarem de forma prática. Se fosse um verdadeiro todo-o-terreno poderia não ser fácil de desenhar. Assim, para um designer, como é que se imagina um carro levantado e bem proporcionado para as funções? Creio que um elemento chave é atingir as proporções e dimensões certas e o nível certo de estilo, robusto mas ‘estiloso’ e inteligente. Penso que isso foi chave”, assevera, respondendo ainda a uma provocação sobre o que é que diferencia o novo modelo das demais propostas no mercado.

“Quando se inventa o segmento e se está na liderança, é preciso fazer a diferença? Claro que não quero parecer arrogante, mas o Qashqai é claramente uma das referências do segmento. Penso que, se ouvirmos os clientes, eles gostam bastante do tamanho. Creio que o tamanho e a silhueta do Qashqai é bastante única – os outros construtores fizeram a sua própria versão”, acrescenta o britânico, que também tem a seu cargo o desenho de outros modelos como o Juke. “Neste momento, é verdade que há mais de 20 concorrentes, por isso, às vezes, o que mais se destaca e o que é mais ouvido é aquele que fala de forma mais tranquila e com confiança. Quando virem o design do novo Qashqai verão que é muito limpo e tem muito mais qualidade. Essa é outra coisa que irão ver – o aumento da qualidade”.

O tema da qualidade foi, aliás, recorrente nas declarações de Matthew Weaver, admitindo que o progresso nessa área foi uma resposta clara às recomendações e conselhos dos clientes dos atuais modelos.

“Para mim, o argumento de vendas deste novo Qashqai é que tudo foi evoluído. A qualidade, para começar, que se sente num segmento superior, além da tecnologia. Penso que temos mais de três milhões de unidades vendidas só na Europa e o feedback que os clientes nos dão é bastante sentido. Sabemos os pontos fortes e o que eles gostam, mas também ouvimos os pontos negativos, o que nos ajudou bastante a melhorar. Tudo subiu um patamar. E até mesmo nas rodas. Hoje temos jantes de 20 polegadas e se voltarmos ao concept de 2003 tínhamos jantes de 20” e pareciam ridiculamente grandes. Hoje estão no novo modelo, por isso podem ver como progredimos. (…) Para mim, o novo Qashqai será o padrão dos SUV de segmento C premium”.

Ouvindo as queixas e sugestões dos clientes, trabalharam-se algumas áreas importantes, como o espaço na segunda fila de bancos e a capacidade da bagageira, que tem mais 74 litros do que a anterior geração. “Apesar de não ter crescido em demasia, trabalhámos muito na acomodação [dos componentes] e na funcionalidade”, explica.

Eletrificação não obrigou a compromissos

Na nova geração do Qashqai, o SUV abraça por completo a tecnologia da eletrificação, recebendo apenas versões eletrificadas, seja por meio de uma variante mild hybrid, seja por uma versão e-Power híbrida de última geração, na qual o motor de combustão serve apenas para alimentar um motor elétrico de tração.

“A eletrificação influenciou [o design], de facto. Mas penso que o desenho não foi comprometido. A eletrificação está-se a tornar mainstream, mas vai dar-nos um novo tópico para trabalhar. Se olharem para o Ariya, que vai ser o nosso porta-estandarte totalmente eletrificado, fizemos um carro muito limpo e aerodinâmico. Com o Qashqai foi mais ou menos o mesmo. Sabíamos que iria ter o sistema e-Power, que tinha grande sucesso no Japão e que seria melhorado para a Europa. Assim, tivemos de pensar ‘ok, temos estas diferentes sensações de condução com o binário e a plataforma é mais ligeira e rígida. Como é que agrupamos tudo isto num design limpo e que seja facilmente reconhecível como um Qashqai?’. Sentimos que estas superfícies limpas mostram essa eletrificação. Em termos de acomodação, a plataforma CMF-C é bastante flexível em termos de arrumação de baterias, pelo que não houve compromissos. Alias, o espaço interior até é maior do que antes. Assim, não houve qualquer concessão, mas apenas inspiração”, refere.

A história do Centro Europeu de Design da Nissan começou com o Evalia Concept, de 2003. Pensado como um concorrente para o segmento C, acabou por nunca ver a luz do dia, ainda que os seus conceitos tenham servido para outros modelos da Nissan. O nome, curiosamente, foi aplicado noutro modelo da marca, mas sem qualquer ligação em termos estéticos – na Evalia NV200.

Tendo referido o novo SUV 100% elétrico que chegará ao mercado europeu na segunda metade de 2021, Weaver explica que existem algumas diferenças conceptuais na aplicação ergonómica de alguns comandos, sobretudo no que diz respeito aos elementos táteis, que no Qashqai ainda resistem.

“Temos o Ariya como modelo de bandeira em plataforma totalmente elétrica, temos os ecrãs hápticos e táteis, por isso não são comandos rotativos. Sentimos que os clientes são ‘early adopters‘ e antecipamos que vão querer esta tecnologia e que estão habituados a isso. Com o Qashqai, sabemos que temos uma base de clientes que tem estado habituado ao Qashqai e, bem… aos carros analógicos. Mas também sabemos que o Qashqai está a caminho da eletrificação, mesmo nesta geração, por isso é um esforço consciente: como é que usamos o melhor destes dois mundos? O carro é muito prático e foi construído em redor do feedback dos clientes. Temos tecnologia como os ecrãs TFT, o ‘head-up display‘, mas os clientes querem alguns pontos de referência tangíveis. O Qashqai está num bom ponto. Faz parte da experiência do cliente rumo à eletrificação e mesmo aí creio que existirão abordagens diferentes”.

As ferramentas digitais são cada vez mais indispensáveis ao trabalho de um designer e Matthew Weaver não desvaloriza as suas potencialidades, sobretudo com atributos como a realidade aumentada a permitirem novas abordagens no desenvolvimento.

Mas, sendo a Nissan uma marca japonesa e o Qashqai uma das referências europeias do segmento, há alguma mistura de conceitos orientais e europeus? Weaver explica.

“Algo que fazemos ativamente – e o Qashqai é um bom exemplo – é embeber muito do ADN japonês. Eu e o meu chefe, o Alfonso Albaisa, temos muitas conversas sobre o que podemos utilizar da cultura japonesa e misturá-la com os gostos europeus. Se olharmos para o Qashqai, creio que é um dos pontos fortes. A sua postura, as proporções têm muito de europeu. Depois, mais de perto, muitos dos elementos de conceção tem uma cultura mais japonesa”.

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