Entrevista aos ‘pais’ do Corolla: “A filosofia TNGA Toyota permite-nos fazer carros melhores”

24/10/2018

Um dos modelos mais importantes no plano de produto da Toyota para os próximos meses será o Corolla, que chegará ao mercado europeu no início de 2019 com duas carroçarias – compacto de cinco portas e carrinha. Além disso, traz de volta o nome Corolla para o segmento C dos compactos, assumindo o lugar até aqui ocupado pelo Auris.

Mas, há muito mais do que uma simples troca de nomes, com o Corolla a ser denominação saudosa no léxico da Toyota. Com efeito, existem muitas expectativas em redor deste novo modelo, com um dos processos de desenvolvimento mais aprofundados da Toyota a nível global. Na Europa, dois pontos que serão fundamentais: a estratégia de dois motores híbridos disponíveis e a carrinha Touring Sports. Razão, por isso, para o Motor24 falar com os responsáveis de desenvolvimento de ambos os modelos: Yasushi Ueda, engenheiro-chefe do Corolla Hatchback, e Toshio Kanei, engenheiro-chefe do Corolla Touring Sports, desenvolvido a pensar nos clientes europeus.

Yasushi Ueda, engenheiro-chefe do Corolla Hatchback, explicou ao Motor24 como é que se desenvolve um dos modelos mais importantes para a marca a nível global.

Representando essa confiança na nova geração do Corolla, os dois revelaram os desafios e os princípios que estiveram por detrás deste novos modelos durante uma conversa no passado Salão de Paris, salientando o contributo da plataforma TNGA (Toyota New Global Architecture).

Motor24: Como é que chegaram à decisão de mudar tudo por completo em relação à geração anterior?

Yasushi Ueda: Em especial, com a chegada da nova filosofia TNGA para a Toyota, estamos a utilizar este tipo de filosofia para fazer carro melhores. Estamos a introduzir a nova plataforma que também é a do Prius e do C-HR e é um passo seguro para nós, ao usarmos esta plataforma global, para melhorarmos o estilo e também a performance em relação à geração atual.

M24: Acham que a geração anterior tinha uma perceção talvez não inteiramente emocional, como a Toyota atualmente concretiza para os seus modelos?

YU: Naquela época é claro que também tentávamos fazer veículos emocionais, mas tínhamos algumas limitações em especial no estilo por causa da utilização da plataforma anterior. Mas esta plataforma e esta filosofia permitem fazer melhores carros.

M24: Considerando que o novo Corolla é um carro global, é fácil desenvolver um carro para vender globalmente e para diferentes tipos de condutores?

YU: Atualmente, com a nova plataforma global TNGA para o novo Corolla é praticamente igual [nos vários mercados], embora alguns detalhes de especificações mudem ligeiramente nalguns países. Basicamente, a estrutura é a mesma. Além disso, temos uma variedade de motorizações para cada mercado – escolhemos de forma diferente para cada mercado. Por isso, para a Europa, o híbrido é uma motorização chave para a Toyota Europe. E é por essa mesma razão que introduzimos os dois híbridos, mas para outros mercados, por exemplo, o americano, apostamos nos dois litros gasolina convencionais que introduzimos de acordo com a procura do mercado.

M24: Virando-nos agora um pouco para o Corolla mais longo, a carrinha Touring Sports, quanto é que este modelo se diferencia do compacto?

Toshio Kanei: Aumentámos a distância entre eixos em 16 mm em relação ao compacto, o que significa mais espaço. Em relação ao anterior [Auris] aumentámos 100 mm [na distância entre eixos] para oferecer mais espaço aos ocupantes dos bancos traseiros, o que é um ponto muito importante para os utilizadores europeus. Parámos de vender o Avensis no segmento D e queremos captar alguns clientes desse segmento que façam downsizing, pelo que demos prioridade ao espaço nos bancos traseiros.

M24: Foi esse então um dos objetivos no desenvolvimento do Corolla Touring Sports, o de captar alguns clientes do segmento D?

TK: Sim, exato.

M24: E o que é que levaram em conta para as necessidades dos clientes europeus no desenvolvimento da carrinha?

TK: Em primeiro lugar, para uma carrinha, o espaço da bagageira é muito importante. Por isso, desde o início do projeto que investigámos como é que o cliente europeu de uma carrinha utiliza o espaço da bagageira. Especificámos coisas, como por exemplo uma caixa do IKEA ou uma bicicleta de montanha e com isso definimos tamanhos para a abertura da bagageira e até para a sua capacidade. E, fruto disso, achamos que a Corolla Touring Sports consegue satisfazer os clientes europeus.

Posando ao lado da sua nova criação, Toshio Kanei não esconde o orgulho e confia que a nova carrinha da Toyota tem todos os condimentos necessários para apelar aos clientes europeus.

M24: Voltando a uma escala mais geral de desenvolvimento, Ueda-san, o novo Corolla está agora muito mais tecnológico, como é que foi compactar tudo isso em dimensões muito compactas?

YU: Claro que, desde o inicio do desenvolvimento da plataforma, que a estrutura básica do veículo ficou definida. É difícil explicar… Para nós, ficou definido desde o início. Claro que temos alguns elementos do veículo que tivemos de manter e desde esse ponto de vista, estabelecemos uma espécie de condições de ligação entre as áreas do motor, da carroçaria e da plataforma, pelo que fizemos uma espécie de equipa única. Criámos uma equipa conjunta de desenvolvimento, não separada. Foi um desenvolvimento de uma equipa envolvendo o pessoal dos motores, da transmissão, das baterias… Foi o que chamámos uma equipa de plataforma.

TK: Claro que no início do desenvolvimento da plataforma, não tínhamos uma direção de estilo, mas para minimizar as restrições para a áreas do estilo, criou-se uma divisão única. Tentámos manter as dimensões muito compactas.

M24: E como é que se consegue manter essas dimensões com o aumento do número de sensores e tecnologias a bordo?

YU: Claro que no início de desenvolvimento o estilo não tinha sido ainda determinado, mas a altura do capot tinha sido determinada de forma a ter um estilo mais dinâmico e largo. De forma a manter essa área, muitos engenheiros tiveram um grande contributo para manter isso e por vezes houve uma grande luta entre as equipas de motor, transmissão e até das partes mais pequenas. Tivemos de evitar as interferências ao fazê-lo.

M24: Em relação à dinâmica do Corolla, sabe-se que foi um capítulo no qual dedicaram muito esforço. Como é que equilibraram o conforto com a dinâmica?

YU: Utilizamos a suspensão multi-link neste carro e a plataforma TNGA dá um grande contributo para o comportamento na condução. Temos também um conjunto de amortecedores de novo desenvolvimento, com aquilo que podemos chamar tecnologia de controlo de baixa fricção, em que temos algum tipo de força de amortecimento, mas também força horizontal que o veículo pode fazer para manter a estabilidade. Por vezes, sentimos que a frequência do amortecimento é baixa, ou que as forças horizontais não podem ser absorvidas, mas com este novo amortecedor conseguimos controlar ambos os pontos, o conforto e a dinâmica com um carácter muito especifico. Se tivermos uma grande força de fricção para que o veículo seja estável, depois deve fornecer força de amortecimento suficiente para ser confortável. Este tipo de combinação com a suspensão multi-link e os novos amortecedores pode desempenhar esses dois pontos para termos uma dinâmica melhor.

TK: A rigidez da carroçaria é muito importante, não só para a carrinha. Sobretudo a rigidez torsional e muito importante. Tanto no compacto como na carrinha temos de ter uma abertura da bagageira bastante grande para a utilização do condutor e isso torna muito difícil manter a rigidez da carroçaria. É um grande desafio para nós, mas conseguimos fazê-lo.

M24: Atendendo à evolução do mercado europeu com uma maior viragem para os SUV, qual é a carroçaria que julgam que terá mais impacto na Europa?

YU: Creio que será uma percentagem de vendas de cerca de 50/50 entre as duas carroçarias.

TK: Observando a tendência de mercado da Europa, o volume de mercado do segmento C está a encolher, mas o mercado das carrinhas como a Touring Sports continua muito estável.

M24: Nas gerações anteriores, tivemos os Auris Diesel, agora nos novos Corolla, não havendo Diesel, acham que poderá ser um ponto prejudicial por exemplo nas frotas em relação à Touring Sports?

TK: Em relação aos Diesel… Apostámos na estratégia dupla híbrida, com duas unidades híbridas – uma 1.8 e outra 2.0 – e um motor a gasolina e achamos que essa solução é suficiente para apelar aos clientes europeus.

M24: Havendo também agora um maior empenho na vertente desportiva, com o surgimento da faceta Gazoo, será que podemos pensar numa variante do Toyota Corolla com alguma espécie de trabalho nesse sentido?

YU: Logicamente, considerando que até mesmo o modelo de base tem um estilo muito dinâmico, estamos a investigar a próxima oportunidade para ter um mais dinâmico, seja um GR [NDR: gama de equipamento mais desportiva em alternativa à versão mais extrema Gazoo Racing] ou qualquer outra coisa. Estamos investigar, mas não posso dizer uma data em concreto para tal ou o que será, mas é claro que estamos a investigar.

M24: Também aplicável à carrinha?

TK: Penso que será possível…


O que é a Toyota New Global Architecture?

Base dos novos Prius e C-HR, a plataforma Toyota New Global Architecture, ou TNGA na sua abreviatura, foi descrita em Paris como um dos pilares centrais para o crescimento da Toyota a nível global, reduzindo custos de desenvolvimento e de produção, mas oferecendo a possibilidade de produtos mais emocionais. Aliás, a TNGA vai além de uma plataforma, conforme nos referiram em Paris alguns dos principais responsáveis da marca nipónica, como Johan van Zyl, presidente da Toyota Motor Europe. Atualmente, assume os contornos de uma filosofia que representa uma melhor dinâmica, maior eficiência e um desenho mais emocional.

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