“Podemos dizer ‘comprem o vosso Peugeot e escolham a motorização'”

02/02/2019

O Diesel volta a estar na ordem do dia e foi também tema de conversa numa entrevista conjunta do Motor24/Dinheiro Vivo com o CEO da Peugeot, Jean-Philippe Imparato, que deu a sua opinião sobre o que se está a passar na indústria automóvel, com a mudança de paradigma no âmbito das motorizações.

O responsável pelos destinos da Peugeot recorda que “vimos de um mundo onde o Diesel representava mais de 60% das vendas globais e a gasolina cerca de 40%, mas temos os números atuais do mercado europeu e temos 55% de motores a gasolina contra 45% de Diesel. A mudança está feita. Mas, a mudança não está a ser feita ao mesmo ritmo entre regiões, entre países, entre cidades e entre os canais”.

Dessa forma, Imparato salienta que, para uma marca como a Peugeot conseguir cobrir todo o mundo, “temos de ser muito simples”. E explica esta sua visão.

“Temos de ser simples com os clientes, simples com os países, simples com a rede. É por isso que estamos a apostar na nossa plataforma multienergia soberba e é por isso que estamos numa situação em que podemos dizer ‘comprem o vosso Peugeot e escolham a vossa motorização’. É essa a frase chave de 2019: comprem o vosso Peugeot e escolham a vossa motorização. Não vamos construir uma caixa com uma motorização elétrica. Esse não é o meu objetivo. Terão sempre o Peugeot com todas as características da marca: o design, o comportamento, o i-cockpit para todos”, salienta, lembrando que os carros vão depois estar no mercado de usados, pelo que o seu valor residual deve ser protegido.

“Se quero que os clientes continuem a confiar na marca, temos de fornecer, em primeiro lugar, um Peugeot. Sabe, temos 208 anos de existência enquanto marca, pelo que já enfrentámos tantas evoluções e revoluções, tantas mudanças técnicas. Esta será como as outras, iremos geri-la com serenidade, simplicidade e algo mais – prazer. É por isso que lançamos o e-LEGEND Concept, porque não queremos ter um futuro aborrecido e essa é a mensagem global da marca para o futuro: ‘Unboring the Future‘”, reforçou, reservando para o próximo Salão de Genebra mais uma etapa desta filosofia.

“O e-LEGEND Concept foi a forma que escolhemos para mandar a mensagem de como queremos a Peugeot no futuro e creio que irão ver em Genebra que aquilo que temos na gama de produto é soberbo. Gostaria de lançar este carro, mas teria de investir 250 milhões de euros e vendê-lo a 75 ou 80 mil por carro e isso é muito. Mas atendendo que queremos dar prazer ao cliente, eu posso apostar que quando forem a Genebra vão ver algo que será espantoso, que será em redor da mensagem que queremos passar para o mundo”.

Pressão europeia para reduzir emissões de CO2

Ainda sobre o tema das emissões, Imparato não acredita que exista um direcionamento da União Europeia (UE) para uma única solução técnica, mas vê, sim, “uma Comissão Europeia que está a trabalhar e a aplicar alguma pressão na meta de CO2 e nada mais. Como construtores, estamos a enfrentar uma dupla responsabilidade, que é corresponder às expectativas dos clientes e às da regulação. Isso é chave. Seremos cumpridores. Porque temos a tecnologia e não iremos desperdiçar o nosso tempo à espera do 1 de janeiro de 2020. Estaremos prontos porque não queremos ter qualquer problema nesse lado, obviamente. Como grupo decidimos ser cumpridores, porque não queremos fazer nenhuma cedência entre rentabilidade e poluição, para ser claro, e não queremos financiar os ‘bad boys’ com os ‘good boys’, situação com que poderíamos perder dinheiro por cada carro vendido e não queremos isso. Queremos fazer com que seja possível ter uma gama completa cumpridora. Mas como marca Peugeot quero algo mais, que é o prazer e iremos dar provas disso nas próximas semanas. Prazer com emissões de 49 g/km de CO2”, explicou.

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Inquirido sobre a rentabilidade de um carro elétrico para uma marca generalista como a Peugeot, o CEO da marca do Grupo PSA lembra que “a forma como estamos a assegurar este período não é a desperdiçar o nosso tempo e energia em algo que não é rentável. Estamos a trabalhar para termos o nível de custos operacionais que permita a todos estarem confortáveis com o custo do carro, mas ao mesmo tempo, poder fazer dinheiro. Nos próximos anos, da mesma forma que não fazemos trocas, alguns dos construtores estão prontos para fazer este tipo de equilíbrio entre CO2 e rentabilidade dos veículos elétricos. Não estamos nesse modo de pensamento. Queremos estar nos 95 g/km de CO2 [meta europeia em 2021] e esse é o valor com que temos de lidar, sem paragens nas nossas fábricas, sem dramas no stock da rede e sem questões no campo dos clientes. Queremos que seja simples”.