Uma das particularidades do atual panorama organizacional da Volvo é o seu multiculturalismo. O espanhol Javier Varela ocupa um dos principais cargos da marca sueca em termos de projetos futuros e desenvolvimento tecnológico, tendo a missão de conduzir a companhia para a era da eletrificação total até ao final desta década – recentemente, anunciou o final de todos os investimentos na área dos motores térmicos e, a partir de 2030, a marca de Gotemburgo não irá mais ter automóveis de combustão à venda em todo o mundo.
Um objetivo ambicioso, mas que Varela acredita que será cumprido, mesmo com todos os problemas recentes em termos de disrupção das cadeias de fornecimento a nível global.
“Temos um objetivo claro na Volvo Cars que é o de fornecer liberdade de movimentos de uma forma sustentável e segura. A sustentabilidade está associada à eletrificação. Os nossos clientes e os mercados pedem cada vez mais veículos elétricos, com a procura a crescer, pelo que todos querem ir ao encontro dessa procura”, afirma Varela numa mesa redonda com os jornalistas à qual o Motor24 pôde aceder.
Sobre o novo EX90, novo SUV 100% elétrico apresentado na semana passada e que dá o pontapé de saída para uma nova era de segurança e de eletrificação na Volvo, o responsável da marca lembra que este é apenas o primeiro de uma série de novos automóveis 100% elétricos que serão lançados nos próximos anos, com uma cadência de um por cada ano, esperando atingir 50% das suas vendas com modelos 100% elétricos já em 2025. O restante pertencerá aos modelos híbridos, como o XC90, que se manterá em comercialização até ao final do seu ciclo de vida.
Porém, numa fase em que as fronteiras entre as áreas da tecnologia e dos automóveis são cada vez mais ténues, há a tentação de olhar para as marcas automóveis cada vez mais como simples fornecedoras de software sobre rodas, algo que Javier Varela diz que não será o caso da Volvo.“Tenho sempre muito cuidado com a expressão de que queremos uma companhia mais orientada para o software. Queremos continuar a satisfazer os nossos clientes, por isso temos de ser muitíssimo bons no software e muitíssimo bons no hardware. Não quero esquecer a nossa herança e queremos continuar a produzir excelentes carros em termos de comportamento, mas estamos a crescer no software, estamos a absorver mais e mais software ‘in house’, que é também uma direção a seguir. Estamos a fazê-lo nas áreas em que podemos fazer alguma diferenciação. Nas áreas em que não adicionamos diferenciação para o cliente podemos comprá-lo [fora]. Mas nas áreas em que criamos diferenciação queremos ser nós a desenvolvê-lo. Sim, estamos a crescer no software, mas sem esquecer que somos uma companhia de automóveis. Uma companhia de tecnologia que quer ter o melhor software e o melhor hardware”, afirma, lembrando também que o próprio conceito de plataforma irá tirar partido de uma nova noção de evolução.
“Decidimos usar esta plataforma, a SPA2, para o nosso carro, porque queremos usá-la ou podemos reutilizá-la com outros modelos que podemos lançar no futuro”, adianta. “Estamos a lançar o EX90 com tecnologia de 400 volts mas no futuro iremos continuar a evoluir essa capacidade. Iremos evitar chamar-lhes plataformas no futuro. Será antes uma plataforma elétrica que será evoluída ao longo do tempo. Isto porque neste veículo existirão diversos updates com base no software e pode ser confuso estar sempre a falar em plataformas. Por isso, vamos apenas chamar-lhes plataformas elétricas que serão atualizadas ao longo do tempo com diversas novas funcionalidades. Podemos continuar a atualizar o carro ao longo dos anos”, afiança ainda.
Apostar na evolução das baterias
“Estamos focados na tecnologia de baterias elétricas. Criámos uma ‘joint-venture‘ para a produção e desenvolvimento de células de baterias, para ser muito preciso. Estamos a abordar a química das próprias baterias. Na nossa estratégia de integração vertical, pensámos que a compreensão e a capacidade de conceber as células são primordiais”, adianta.
“Estamos nessa viagem e temos ações a médio prazo que passam pelo enriquecimento da química fundamental, como adicionar mais silicone ao ânodo. O próximo passo será o das baterias semi-sólidas e o passo final poderão ser as baterias de estado sólido. Claro que estamos nesta viagem e a investigar e a desenvolver e a inovar”, admite, abordando também a aparente dicotomia existente em torno da mobilidade sem emissões que passa também pelo desenvolvimento da tecnologia de pilha de combustível (fuel cell) a hidrogénio.
“Quanto às pilhas de combustível a hidrogénio, não estamos a desvalorizar ou a descartar essa tecnologia, mas não é a nossa prioridade atual. Acho que essa é uma tecnologia mais adaptada para veículos comerciais pesados ou ligeiros, não está ainda no nível de compactação necessário para implementação em automóveis mais pequenos. Mas estamos a monitorizar e a investigar também”.
Aquilo que está liminarmente fora da equação para o futuro são mesmo os motores de combustão interna, qualquer que seja a opinião da União Europeia no futuro relativamente à possível aceitação dos e-fuels como forma de manter essa tecnologia ainda válida na Europa. “O que estamos a descartar, isso sim, são os motores de combustão interna”, reafirma, perentoriamente.
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