Presidente e CEO da Volvo desde março, Jim Rowan tem por missão liderar a marca sueca rumo à eletrificação plena ao mesmo tempo que aposta, cada vez mais, no software como elemento diferenciador. Definindo-se como um “homem da tecnologia”, o escocês acredita que a paridade de custos entre os modelos elétricos e os de combustão será alcançada em 2025, sendo isso fundamental para a aceitação da mobilidade sem emissões.

Não tendo um percurso profissional diretamente ligado aos automóveis, Jim Rowan tem a seu cargo a tarefa de fazer da Volvo uma marca cada vez mais na vanguarda da tecnologia e da digitalização, enquanto a própria indústria atravessa um momento marcante em termos de segurança, sustentabilidade e na experiência do consumidor. São precisamente estas as áreas em que Jim Rowan quer trabalhar afincadamente para dar à marca sueca uma posição de destaque naquilo que apelida de mobilidade de nova geração – encapsulada na segurança (tema tão querido à Volvo), mas também sustentável e mais ligada aos clientes.

Com o SUV topo de gama EX90 apresentado recentemente, a Volvo reafirmou o seu compromisso em tornar-se 100% elétrica em 2030. Neste sentido, Rowan antecipa não só a necessidade de as marcas abandonarem a dependência dos incentivos estatais à compra de elétricos, mas também o ponto fulcral de paridade entre os custos dos veículos com motor de combustão e os térmicos.

“Ninguém deve ficar dependente dos incentivos dos governos. Ninguém recebe subsídios para smartphones ou computadores portáteis, certo? A certa altura precisamos de chegar ao ponto em que há paridade nos custos com os carros de motor de combustão interna e penso que isso irá chegar em 2025”, refere Rowan, cuja franqueza nas respostas denota também outra vivência profissional.

“Eu sou engenheiro e olho para isto do ponto de vista da tecnologia: na minha opinião, a tecnologia leva sempre a melhor. Por vezes, leva mais tempo, mas geralmente quando se tem algo melhor, como aconteceu com os smartphones face aos telefones fixos, a tecnologia vence. Nos automóveis há custos de manutenção menores, mais suavidade e emissões zero nos elétricos e esse é um argumento muito forte de que a tecnologia vai vencer”, argumenta, complementando que, na sua ótica, não se pode jogar em dois campos.

“Se queremos levar vantagem no mundo da nova mobilidade temos de ser empenhados, sólidos e focados na tecnologia que assumimos – se tiverem uma perna nos motores de combustão interna e outra nos elétricos a bateria, então estão distraídos, não tenho dúvidas. Estamos totalmente empenhados nos elétricos”, acrescenta.

O impacto do software

Tendo cumprido grande parte do percurso profissional na tecnologia de consumo, Jim Rowan não considera estar em desvantagem pela aparente inexperiência na área automóvel, argumentando que, enquanto engenheiro, tem a seu favor o facto de “as leis da física não mudarem quer se esteja na indústria da tecnologia, dos aspiradores ou dos automóveis”.

“Queremos ser a marca mais segura na estrada”

“Penso que a grande diferença entre as indústrias dos automóveis e da eletrónica de consumo é que nesta o envolvimento com os consumidores é essencial. A mim, fazia-me alguma confusão que se gastasse 60 ou 70 mil dólares num automóvel, que é o segundo bem mais caro da vida, e que nunca se falasse com o cliente, nem antes da venda, nem depois da venda. Isso tem de mudar. A nova geração que compra online quer envolver-se com a marca, temos de fazer parte dessa conversa. Temos de criar envolvimento com o cliente”, garante.

A resposta a todas as questões acaba por ser o software, tendo Rowan a preocupação de dizer que a sua inclusão não substitui o legado dos automóveis. “Somos uma marca automóvel e toda a conversa de sermos uma companhia de software não faz sentido. Fazemos hardware, que são os carros, mas melhoramos o nosso hardware com software de ponta. Por isso, vamos no sentido de nos tornarmos numa companhia de hardware e software. Sinto-me muito orgulhoso por sermos uma companhia de mobilidade de próxima geração, mas o foco da nossa operação é um produto que leva as pessoas de A para B de forma segura e nos dá liberdade de movimentos”, adianta ainda.

Neste aspeto, exemplifica as potencialidades da integração do desenvolvimento de software dentro da própria marca, sobretudo quando aplicado à área da segurança, com o EX90 a estrear um revolucionário sistema LiDAR que pode reduzir os acidentes graves em até 20%. A ambição é, pelo menos, tornar os acidentes fatais com os Volvo cada vez mais raros e a taxa de fatalidades a bordo dos automóveis da marca cada vez mais diminutas – se possível, inexistente.

“Esse é o objetivo e o que estamos a dizer é que queremos ser a marca mais segura na estrada. Para tal estamos a usar tecnologia, não só de proteção em caso de acidente, mas também de antecipação e prevenção. Com o EX90 e com o novo LiDAR, sensores e sistemas de câmaras, julgo que iremos reduzir significativamente os acidentes graves em até 20% mas pode ser muito mais do que isso. O que o LiDAR faz e que nunca tinha sido feito antes é permitir uma perceção da estrada até 250 metros mesmo na escuridão ou com o Sol a ofuscar. Infelizmente, muitos acidentes graves acontecem de noite e isso explica-se porqu as pessoas estão mais cansadas, há menos trânsito e as pessoas têm menor atenção e também porque a visibilidade é muito menor”, prossegue na sua explicação.

“Quando veem aquele obstáculo na autoestrada, geralmente a velocidades altas, já é muito tarde para travar e isso pode acarretar acidentes fatais ou capazes de mudar vidas. O LiDAR, em combinação com as câmaras e sensores, vai ajudar nisso. Se nos vai levar ao zero [número de mortos] não sei, honestamente, mas estamos a investir bastante para lá chegar”, complementa.

Posicionamento próprio

Adquirida em 2010 pela gigante chinesa Zhejiang Geely Holding Group, a Volvo dispôs de um novo fôlego para se voltar a impulsionar como uma das marcas mais fortes no segmento premium. Hoje, faz parte de um grande número de marcas automóveis atualmente detidas pela Geely, levantando-se a questão sobre um eventual espaço para cada marca e possível sobreposição entre elas.

Porém, Jim Rowan refuta qualquer ideia do género, dizendo que a Volvo tem o seu próprio espaço e a sua própria liberdade para operar.

“Em primeiro lugar, somos afiliados [da Geely], mas continuamos a ser uma marca sueca, estamos na bolsa de Estocolmo e é por aí que nos regemos. Temos membros do conselho de administração da Geely, mas nós gerimos a nossa própria casa e não existe nenhuma especificação sobre o posicionamento de cada marca no mercado. A Polestar foi um investimento que fizemos e pensamos que é uma marca muito diferente – situam-se como uma marca de performance pura progressiva, que não é claramente o mesmo que a Volvo. Nós só temos 1% de quota mundial e se passarmos para 2% será fantástico. Na China há centenas de rivais, algumas domésticas, novas start-ups e muitas dessas são só muito espetáculo, com muitos ecrãs e cromados, mas isso não somos nós, nunca vamos fazer isso. Se existem muitas pessoas na China dispostas a apreciar a segurança, a fiabilidade e o design escandinavo da Volvo? A resposta é sim! O mesmo se aplica na Europa e nos EUA onde o 90 é um grande representante. Independentemente da Zeekr, da Lynk & Co, da Polestar, da Geely ou da Louts, penso que temos um espaço muito definido e penso que temos clientes suficientes nesse espaço para termos bastante sucesso”, conclui.

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