Lutz Meschke: Porsche digitalizou carros e já fatura a dois dígitos

05/04/2019

“Fazemos carros de que ninguém precisa, mas com os quais todos sonham.” A frase pertence a Ferry Porsche (1909-1998), icónico designer da marca. E faz sentido recordá-la na conversa com o diretor financeiro da Porsche, Lutz Meschke, a propósito da “nova era” anunciada na conferência anual.

A Porsche sempre desenhou modelos que despertam fortes paixões aos clientes. Não apenas pelas linhas, mas também pela sua performance e pelo som do motor. Com a aposta na eletrificação do Macan e do Taycan, coloca-se a questão: estarão os clientes a mudar ou é a própria Porsche que está a tornar-se mais racional do que emocional?

“Penso que temos de diferenciar os clientes tradicionais do 911, um grupo muito emocional, dos clientes dos SUV, que são atraídos pelo Macan e têm um enfoque mais racional. E nós temos, enquanto marca, de responder a ambos. São dois grupos muito diferentes. Especialmente na China, onde realizamos 80% das vendas do Macan”, explicou Lutz Meschke ao Dinheiro Vivo/Motor 24.

Para o responsável da Porsche, o segundo destes dois grupos de clientes está mais interessado na tecnologia e na digitalização dos modelos. “São elementos muito importantes para eles. Têm outras referências de mobilidade”, sublinhou.

A Porsche Digital, divisão de startups da marca que foi criada em 2016, representa já nesta altura dois dígitos da faturação. E a tendência é para continuar a aumentar nesta área, muito por conta das novas aplicações digitais anunciadas no evento – há várias e procuram estreitar laços com os clientes. Há o Porsche Road Trip, uma espécie de guia digital que permite planear e organizar as viagens ao detalhe; o Porsche 360+, que funciona como um assistente para a vida pessoal; o Porsche inFlow, onde os clientes podem conduzir um modelo da marca, por um período mínimo de seis meses, mediante uma subscrição; e ainda o Porsche Host, plataforma que permite ao cliente rentabilizar o seu modelo usado através de um aluguer temporário.

Por enquanto, as aplicações estão a ser lançadas nos Estados Unidos, mas Lutz Meschke garante que num prazo de “seis meses a um ano” passarão a estar disponíveis em vários países europeus. Voltando à citação inicial e ao sonho de ter um Porsche, espaço para uma última pergunta. No futuro, será suposto então que se partilhe o próprio sonho? “Obviamente”, reconhece o diretor financeiro da Porsche.