Com largos anos de experiência na indústria automóvel, Mark Adams teve no desenho do novo Opel Corsa um dos seus maiores desafios. O responsável pelo design da marca alemã estava já numa fase adiantada do projeto da nova geração do utilitário quando o Grupo PSA oficializou a aquisição da Opel.

Em virtude disso, alguns dos elementos de design foram obrigatoriamente alterados, mesmo que os princípios da identidade da marca de Rüsselsheim não tenham sofrido grandes mudanças com um objetivo muito claro: não deixar qualquer dúvida de que a Opel é uma marca de génese alemã e que a sua filosofia não se irá alterar.

O que se vai alterar, porém, é a plataforma do novo Corsa, estreando a inovadora arquitetura multienergia do Grupo PSA, que lhe permitirá lançar, quase ao mesmo tempo que as demais motorizações, uma variante 100% elétrica, a qual foi aliás a revelada no evento exclusivo a que o Motor24 teve acesso na localidade onde a Opel é rainha – Rüsselsheim, na Alemanha.

Sobre o novo Corsa, Adams explica que “o primeiro elemento que chama a atenção e o mais importante é que as pessoas esperam uma certa presença destes carros, do segmento B, em redor dos quatro metros de comprimento. O que quisemos fazer com este carro foi fazer um modelo que não fosse maior do que o atual, porque temos grande feedback de que aquele era o tamanho ideal. Aquilo que chocou as pessoas quando viram o carro pela primeira vez é que parece muito maior e perguntavam-me: ‘é muito maior do que o carro atual, não é?’. Eu respondia que não”.

Mark Adams, discursando no lançamento do Opel Corsa-e em Rüsselsheim.

Embora indique que o novo Corsa é realmente “um pouco mais longo” com uma distância entre eixos substancialmente maior face ao atual (mais 38 mm), o ‘truque’ para uma aparência robusta foi a redução da sua altura: “O carro é, na verdade, 30 mm mais estreito do que o carro atual, mas a verdadeira chave é que baixámos o carro em 48 mm no tejadilho”, o que foi feito sem prejudicar a habitabilidade, “já que aumentámos o espaço em altura no interior com a redução do ponto de anca”.

“Por isso, quando se olha para o carro tudo parece longo e esticado e dá a ilusão de que é muito maior do que verdadeiramente é. O mesmo se passa na frente, em que custa acreditar que é mais estreito quando parece muito mais largo, graças aos elementos ligeiramente mais planos. Falamos aqui do ‘Compasso Opel’, que é a linha central do capot e que orienta as linhas [laterais] e pressiona o carro contra a estrada. Com os faróis LED pudemos obter um visual mais horizontal e requintado”, acrescentou ainda, apontando a possibilidade de o novo Corsa poder vir a montar duas versões de iluminação LED – os standard e os Matrix LED, mais evoluídos.

Jogo das diferenças

Havendo nesta geração a estreia do modelo elétrico, Adams clarifica que não houve a preocupação de diferenciar enormemente o desenho desse face às variantes com motor convencional.

“Existem pouquíssimas diferenças. Na fase inicial de desenvolvimento, testámos este carro com clientes de motores de combustão interna, mas também convidámos pessoas que poderiam estar interessados um carro de segmento B e eles adoraram este carro. Disseram que queriam um carro muito bem-parecido, mas com a tecnologia mais recente. Não queriam saber de diferenças de cor ou no design, mas sim um carro bem desenhado e com ar desportivo com tecnologia. Acho que foi isso que cumprimos e penso ainda que não existe uma necessidade [de diferenciar estilos] à medida que a eletrificação avança para a massificação, saindo do seu nicho, e que as pessoas tratam esta versão elétrica como mais uma opção na gama”, clarificou.

Nesse sentido, os mesmos traços, mesmo no caso da grelha dianteira, que muitos entendem que deve ser fechada por uma questão de redução do atrito aerodinâmico. Mas, Mark Adams dá uma explicação para a razão de ser desta grelha Corsa, além de ser um evidente elemento estético identificador.

“A grelha dianteira no carro com motor térmico é utilizada essencialmente para a refrigeração do motor e também temos lâminas ativas que permitem fechar a grelha por questões aerodinâmicas. Mas, neste carro em particular [no e-Corsa], para o carregamento, quando está parado, é necessária uma boa circulação do ar para manter todos os elementos refrigerados. Por isso, ter uma grelha dianteira é, na verdade, muito importante quando está parado, para manter essa refrigeração. Uma vez mais, este carro é uma questão de equilíbrio. Existem outras opções mais caras que se poderiam efetuar para conceber tudo isto, mas então não se conseguiria obter uma proposta interessante. Se vamos trazer um carro para o mercado de massa no segmento B, queremos trazer um carro com elementos que acrescentem valor”, sublinhou o britânico, confirmando igualmente que as diferenças no interior são reduzidas, fruto da boa base que é a plataforma CMP e da compactação das baterias.

Mas, ainda assim, aponta que houve a necessidade de afinar a suspensão para diferentes configurações de peso, uma vez que a versão elétrica será ligeiramente mais pesada devido ao peso do pack de baterias (colocado sob os bancos traseiros). “Mas, o que fizemos com este carro, no geral, foi focarmo-nos bastante em reduzir o peso base. Por exemplo, aquilo que chamamos ‘body in white’, ou seja, todo o esqueleto de metal, é 40 kg mais leve do que a do carro anterior. E noutras áreas também reduzimos o peso dramaticamente, para que quando acrescentássemos o peso das baterias, esse fosse quase compensado e continuássemos a ter um carro bastante dinâmico”, explica.

Filosofia de estilo

Será, então, que o novo Corsa é o início de uma nova etapa? Para o homem-forte do design da Opel, esta é uma indicação do que está para vir.

“Eu diria para pensarem nisto como o início do próximo passo. Sim, queremos que todos os nossos designs sejam mais alemães, com a organização dos elementos, a pureza das superfícies, todas essas coisas transparecem. Mas este é o primeiro passo. Já o assinalámos no ano passado quando apresentámos o GT X Experimental Concept, uma pista do que temos no horizonte. Vemos os elementos a evoluírem”.

Mas, partilhando plataforma com o Peugeot 208 e muitos dos seus componentes, Adams não quer que as identidades se misturem além do necessário, pelo que a aposta está na escolha de linhas diferenciadoras que sigam no caminho germânico da racionalidade e da funcionalidade.

“Uma vez mais, pensando nos nossos valores de marca, o nosso objetivo é oferecer praticabilidade, se posso guardar a minha garrafa de litro e meio ou se tenho mais espaços de arrumação neste carro. Temos uma enorme quantidade de atributos funcionais, mas ao mesmo tempo, tal como com os seus smartphones, as pessoas esperam grandes interfaces nos carros. Assim, ter este ecrã de 10 polegadas na consola central num carro de segmento B é bastante impressionante para conceder um visual muito moderno, mas é também muito ergonómico”.

Apesar dos novos tempos da mobilidade elétrica e da eficiência, Adams termina a conversa com os jornalistas com um tema que ainda é, afinal, importante para qualquer automóvel – a dinâmica. E partilhou connosco algumas das opiniões de quem já conduziu o carro: “Ouvi algumas pessoas que conduziram o carro e diziam que se conduz como parece, ou seja, de forma ágil. Por isso, espero que concordem que parece ágil e dinâmico e que se conduz também de forma dinâmica e ágil. Eu já o conduzi de forma agressiva por chicanes e afins e portou-se lindamente. Por isso, estamos muito confiantes de que temos essa integridade na função”.

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