Philippe Bismut (CEO da Arval): “Diesel ainda domina nas frotas em Portugal”

12/07/2018

Tema incontornável da indústria automóvel recente, a eletrificação apenas agora começa a ganhar o seu espaço nas grandes frotas, nas quais os motores Diesel ainda dispõem de uma posição preferencial mercê dos muitos anos de dados recolhidos quanto à sua utilização e custos operacionais. A mudança vai acontecer, garante a Arval Corporate, mas vai ser mais lenta do que seria de supor.

Ao cabo de diversos anos de ‘apego’ aos Diesel, as empresas vão demonstrando cada vez maior consciência ambiental, embora poucas sejam aquelas que estejam já dispostas a assumir o risco de optar por um elétrico (ou até mesmo um híbrido Plug-in) para as suas frotas, sobretudo em países como Portugal. A conclusão é da autoria de Philippe Bismut, CEO da Arval Corporate, uma das maiores companhias europeias de renting, que esteve em Portugal para falar do setor e que, relativamente ao mercado nacional, observa uma grande predominância dos Diesel, situação que, afirma, é muito semelhante à doutros países do Sul da Europa.

Diferenças culturais (entre Europa do Norte e do Sul), pouca oferta de veículos do género e falta de massa crítica quanto aos custos operacionais são algumas das razões apontadas por Bismut para que os veículos elétricos (e híbridos Plug-in) não tenham ainda assumido uma maior preponderância nas frotas das grandes empresas.

“Não existe tanta aceleração na procura por soluções de eletrificação no Sul da Europa, mas talvez exista mais uma consciencialização da questão ambiental. Já os países nórdicos, talvez por uma questão cultural, são mais sensíveis à questão do ambiente e das emissões poluentes”, aponta o responsável máximo da Arval, companhia detida pelo BNP Paribas com uma frota mundial atual em redor de 1.150.000 veículos.

Ao invés de encarar esta situação meramente como uma oposição de Diesel contra elétrico, Bismut refere que, neste momento, há uma outra tendência que é a da “passagem dos Diesel para os motores a gasolina e híbridos, porque os elétricos puros ainda não estão de acordo com os padrões em termos de custos, autonomia e infraestruturas de carregamento”. Mais concretamente em relação a Portugal, Bismut não vê grandes diferenças face a outras nações da Europa, com “um número muito, muito baixo de veículos elétricos. Nos próximos cinco anos, veremos cada vez menos Diesel e mais gasolina e híbridos. [Mas] o presente é Diesel”.

Transição lenta

Ressalvando que a procura está a mudar em virtude da cada vez maior noção de responsabilidade social das empresas, Bismut sublinha que a transição para os elétricos “vai ser lenta”, procurando também fazer com que a Arval esteja bem posicionada quando essa fase chegar.

“O consenso é que nas frotas, dentro de três anos – e previsões mais longínquas do que isso é entrar verdadeiramente em especulação –, os veículos elétricos possam representar 3% do total, embora este valor dependa sempre do país, havendo mais, por exemplo, no Norte da Europa”, assume este francês de 63 anos, que gosta de ver o panorama da eletromobilidade de uma forma mais ampla. Por um lado, elogia o potencial dos elétricos “na redução de emissões de CO2 para combater as alterações climáticas e de redução da poluição”, mas também considera que é importante saber se há algum “defeito escondido que descobrimos apenas depois”, nomeadamente na produção e reciclagem das baterias.

Assumindo também algumas interrogações quanto a fatores práticos como o aumento da infraestrutura de carregamento, condições de fornecimento de energia e medição dos custos, Philippe Bismut explica que a Arval está a “trabalhar em todas estas questões, complexas e técnicas” e que, nesse sentido, “estabelecemos como objetivo superar os 5% de elétricos em três anos na nossa frota, assim que os constrangimentos forem desaparecendo. Não acredito que seja um salto quântico, mas um crescimento lento. Vai acontecer”.

Arrojo para crescer

Com uma taxa de crescimento na Europa bastante uniforme de 8% no ano passado – valor também aplicável a Portugal –, a Arval tem mostrado um reforço da sua posição nos diversos países em que opera, com esta prestação a ser vista por Bismut como uma demonstração de que “apesar da relativa estagnação das dimensões das frotas, o aumento da nossa quota dá validade àquilo que consideramos serem vantagens competitivas nossas no setor, que são a economia de escala e a cobertura internacional, que poucos dos nossos concorrentes dispõem”.

Não obstante o crescimento “significativo” de 8%, confia que há margem para crescer em toda a linha. Para tal, confia que o rumo traçado será o mais adequado: por um lado, mantendo a atuação ao lado de empresas de todas as dimensões (com destaque para aquelas que têm presença internacional, oferecendo-lhes soluções uniformes) e, por outro, enveredando por uma estratégia que visa atender às necessidades dos profissionais em nome próprio e particulares.

A maior agressividade neste campo fica patente em parcerias como a encetada recentemente com o banco BPI, numa solução direcionada para particulares, com um produto de aluguer operacional específico para o Fiat 500. A resposta a uma necessidade, defende. “Penso que a procura sempre existiu, mas a questão sempre esteve do lado da oferta, já que ninguém se esforçava para chegar a esses potenciais clientes. Mas, agora, os canais existem, temos o lado digital e se fizermos parcerias com os canais certos e desenvolvermos a nossa presença digital, a procura vai crescer”.

O setor dos carros usados é igualmente trabalhado pela Arval, com o responsável a destacar que, embora muitas vezes desvalorizada, essa “é a mais importante área de atuação de uma empresa de renting: no fundo, servimos para fazer com que o cliente não tenha de se preocupar com a revenda do carro e com flutuações do preço. O nosso trabalho é encontrar as melhores vias de escoamento de veículos, seja através de leilões, de portais de usados ou fisicamente, fornecendo soluções transfronteiriças para encontrar as oportunidades certas”.

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