Portugal tinha muitos motivos para sorrir na abordagem ao novo milénio, mais concretamente em 1998, ano em que Lisboa seria o ponto de encontro de múltiplas culturas com a realização da Exposição Universal de 1998, mais comummente apelidada Expo 98, naquele ano dedicada aos oceanos, que Portugal dominou por tantos anos ao longo da História.
Os sons que não se esquecem
Hoje, é uma obra imponente que assinalava o progresso da área a Norte da cidade de Lisboa, esquecida por muito tempo até ao momento em que os trabalhos para a Expo 98 se iniciaram. Muito se discutiu sobre a sua construção, desde custos à localização, esperando-se que a mesma pudesse retirar trânsito da congestionada Ponte 25 de Abril, situada mais a Sul ligando Alcântara a Almada.
Com 12,3 quilómetros de comprimento, arrebatou para si o estatuto de ponte mais longa da Europa, unindo as regiões do Montijo e de Alcochete à zona do Parque das Nações, nome atual da área que em 1998 albergou a Expo 98 e que reformulou toda aquela envolvente.
Começou a ser construída em fevereiro de 1995 e uma semana antes do prazo, três anos depois, foi inaugurada, numa prova de engenharia que contou com o empenho de 3300 trabalhadores. Para quem morou na zona na época da construção, há imagens que a memória vai substituindo por outras mais recentes, tornando difícil lembrar como era a visão sem a ponte naquele local, mas há sons que nunca se esquecem, garante José Ramiro, morador na zona de Camarate, vila às portas de Lisboa.Dali, do Bairro de São José e aproveitando a localização privilegiada do seu prédio, viu a ponte a nascer paulatinamente, partindo dos pilares para a chegada posterior do tabuleiro e tirantes. Mas foi o som que nunca esqueceu: o das máquinas a cravarem no solo as estacas dos pilares ainda na fase inicial do projeto.
“Ouvia-se bem aquele som metálico, ao longe, mas forte e ritmado”, recorda, acrescentando que, por vezes, “ficava às meias horas a olhar para aquilo, sem saber muito bem o que estava para vir”.
O que estava para vir, sabe-se agora, foi uma profunda reformulação de toda a malha urbana e viária da zona em redor daquela que albergou a Expo 98 e que hoje consiste na zona da Parque Expo, entre Moscavide, Sacavém e Marvila, na margem Norte, além das novas oportunidades que trouxe para as áreas da construção civil e comércio na margem Sul, mais concretamente no Montijo e em Alcochete, que hoje está também na expectativa de uma decisão quanto ao novo aeroporto de Lisboa.
Feijoada recordista
Uma semana antes da inauguração, deu-se aquela que ficou conhecida como a mega feijoada da Ponte, batendo um recorde do Guinness com as cerca de 15 mil pessoas prontas para comerem numa mesa com 5 km de extensão. Para a história ficou a curiosidade de ter uma refeição numa ponte ainda por inaugurar para os carros.
FOTO: Gonçalo Rosa da Silva/Global Media Group
No dia 29 de março, por fim, a inauguração. Uma semana antes do previsto, um feito destacado então por quase todos. Jorge Sampaio era o Presidente da República, sendo Guterres o primeiro-ministro da época, ao passo que o atual Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, também não faltou à chamada, embora na época marcasse presença como líder do PSD.
No total, a ponte teve um custo em redor dos 900 milhões de euros, uma verba da qual 319 milhões vieram do Fundo de Coesão da União Europeia, 299 milhões de euros por empréstimo do Banco Europeu de Investimentos e outros 50 milhões derivados das portagens cobradas na Ponte 25 de Abril.
Se já passaram 20 anos da sua construção, ainda tem mais um século pela frente (no mínimo): foi feita para durar 120 anos, tendo ainda o mérito de suportar ventos de 250 km/h. Além disso, numa outra nota de segurança, a ponte está projetada para resistir a um sismo 4,5 vezes mais forte do que o histórico Terramoto de Lisboa, em 1755, o qual teve uma magnitude de 8,7 na escala de Richter. Foi, por isso, apelidado de local mais seguro de Lisboa em caso de sismo… As fundações mais profundas com um diâmetro de 2,2 m estão a uma profundidade de 95 metros abaixo do nível médio do mar.
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