Apostada em posicionar-se como uma força a ter em conta no segmento C-SUV, a Renault aposta com empenho no novo Austral, um crossover pensado para assumir o lugar do Kadjar e ser, de forma assumida, aquilo que esse modelo não conseguiu ser: um conquistador de novos clientes para a marca francesa.

Numa rara demonstração de franqueza na indústria automóvel, os responsáveis da Renault não escondem que esperavam mais do Kadjar. Modelo de segmento C-SUV de dimensões maiores do que o Captur, o Kadjar deveria ter captado para a marca francesa as atenções dos clientes que ponderam modelos de estilo mais familiar num mercado em que propostas como o Peugeot 3008 ou o Nissan Qashqai, entre outros, beneficiam de grande popularidade.

Porém, a realidade foi outra e, apesar de vendas relativamente boas, a marca admite que esperava mais do Kadjar. Agora, recomeçando de forma simples, apostam de forma mais contundente com o novo Austral, um modelo totalmente novo no qual Bruno Vanel, responsável da área de performance de produtos da marca Renault, vê o potencial para se tornar num dos modelos de maior sucesso na Europa.

Questionado sobre os motivos que levaram o Kadjar a não cumprir as expectativas, Vanel aponta que foi feito um trabalho apurado de pesquisa e que o Austral responde a todos os pontos que eram considerados menos fortes no Kadjar.

“Sim, o Kadjar não teve todo o sucesso que esperávamos. Tratámos de analisar efetivamente porquê. Vendemos cerca de 120 a 140 mil unidades do Kadjar na Europa, o que não é um número assim tão baixo e vendemos bem, mas diria que não tivemos a imagem e a notoriedade à altura. É um segmento no qual fazemos face a uma concorrência bastante forte e que o vimos é que o Kadjar não se impôs”, começa por dizer este responsável da Renault, que justifica a sua ideia com pontos concretos.

O Renault Kadjar recebeu um facelift em 2019, ganhando atributos estéticos e tecnológicos.

“Temos concorrentes, que todos conhecem bem, que são bastante fortes e ferozes. Vemos que neste segmento, nos últimos anos, é cada vez mais importante ter motorizações eletrificadas. Com o Kadjar, não tínhamos motorizações eletrificadas, pelo que tínhamos uma desvantagem. Nem tínhamos versões de alta gama. Com o Arkana, vemos que 80% das vendas são de versões mais equipadas, eletrificadas ou potentes, como a R.S. Line ou a Iconique. No Kadjar não tínhamos motorizações potentes, nem mesmo o Diesel. Não tínhamos versões Initiale, estávamos relativamente limitados. Do ponto de vista tecnológico, que é um ponto extremamente importante para um cliente desta categoria, que quer desfrutar de um pacote tecnológico ao melhor nível, tínhamos dois ecrãs de 7.0 polegadas, mas não tão como bons como alguns dos nossos rivais e face às expectativas dos nossos clientes, apenas para dar estes exemplos na tecnologias”, assume.

Voltando a comparar com aquele que é um modelo de sucesso atualmente, o Arkana, Bruno Vanel aponta que “analisámos tudo isso. Quando olhamos para o Arkana, temos motorizações eletrificadas, temos um painel de instrumentos digital de 10”, um ecrã de 9” ao centro, versões topo de gama R.S. Line e um design com um conceito totalmente inovador. E, felizmente, temos um modelo em que a procura supera a capacidade de produção”.

Bruno Vanel, responsável da área de performance de produtos da marca Renault.

“Diria que analisámos tudo isto que vimos com o Arkana e achamos que com o Austral atingimos o objetivo”, assegura.

Sem medo da canibalização

Outro ponto que não preocupa Bruno Vanel é o da potencial canibalização entre modelos no seio da marca. Na sua ótica, o Austral tem um posicionamento muito seguro, diferente do Captur e do Arkana, que são os outros SUV da Renault com que se poderia bater, sendo também distinto em formato e intenção comparativamente com o Mégane.

“Com o Austral, temos um verdadeiro SUV, ou seja, mais tradicional. Em relação ao Captur, é 30 cm mais comprido o que é um valor elevado – a habitablidade é muito superior, a capacidade da bagageira é muito superior, o nível tecnológico é muito superior e a potência máxima disponível no Captur é de 160 CV. Com o Austral, temos 200 CV de máximo. Está num nível de gama francamente superior. Já o Mégane é um modelo um pouco menos familiar, talvez para um jovem casal, em que nos sentamos mais baixo e dinâmica. O Austral é um verdadeiro SUV, com espaço mais generoso em que visamos mais o conforto e as férias, pelo que não tememos a canibalização”.

Por fim, estando a indústria a atravessar um momento delicado devido à falta de chips semicondutores, primeiramente devido à disrupção causada pela pandemia e agora agravada pela guerra na Ucrânia, Vanel argumenta que “é muito difícil sabermos que problemas vamos ter com os semicondutores” e revela que algumas das maiores dificuldades estão nos semicondutores existentes há mais tempo.

“Por exemplo, surgem mais problemas com os chips que chamamos de ‘legacy’ [antigos], do que com os desta nova geração. O Austral é de uma geração totalmente nova, pelo que tem os derradeiros semicondutores, que não são necessariamente os que estão em crise. [Mas] é bastante difícil saber”, argumenta, concluindo que “temos um problema com os [comandos dos] retrovisores elétricos, que é algo que fazemos há 30 anos e não temos problemas no ZOE ou no Mégane elétrico, pelo que é totalmente imprevisível atualmente”.

O Austral chega ao mercado em setembro (na mesma data em que chega o Mégane E-Tech), propondo unicamente versões eletrificadas, seja por intermédio de tecnologia mild hybrid de 12 V e de 48 V, seja de híbridos ´puros’ com uma nova versão E-Tech.

*Em Paris, França.

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