Shareacar: A comunidade lusa que permite pôr o seu carro ‘a render’

05/12/2017

No panorama atual em que o paradigma da mobilidade se vai alterando, atendendo à cada vez mais difícil utilização dos automóveis particulares nas grandes cidades, as plataformas de partilha de automóvel começam a surgir em grande força, posicionando-se como alternativas ao tradicional esquema de propriedade automóvel.

Outra das plataformas que está agora a dar os seus primeiros passos em Portugal, promovendo então uma diferenciação na partilha de veículos automóveis é a Shareacar, que tem origem totalmente lusa e que promete dar aos condutores uma nova possibilidade de mobilidade e aos proprietários obter a partir do seu automóvel uma fonte de rendimento.

Garantida está também a proteção total com um seguro especial e com assistência em viagem sete dias por semana. Pensada para dar retorno financeiro a quem tem o seu carro parado uma grande parte do tempo, o proprietário deve registar-se e ao seu carro, descrevendo a viatura e estabelecendo um preço por dia, a localização habitual em que deve ser entregue e responder às reservas que surgirem.

Com esta premissa que se pode considerar aliciante para utilizadores e para proprietários, fomos perceber o que diferencia esta comunidade de carsharing lusitana, com o seu CEO e co-fundador Zé Francisco Leitão de Sousa a explicar em entrevista ao Motor24 o que esteve na origem desta plataforma e qual o caminho a seguir para obter um número cada vez maior de utilizadores.

Motor24: Como é que surgiu a ideia para criar esta plataforma de partilha automóvel?

Zé Francisco Leitão de Sousa: Eu queria alugar uma VW ‘pão de forma’ das verdadeiras, antigas para passear nas férias. Ao fim de algumas horas de pesquisa, consegui encontrar “A carrinha” no OLX. Correu tudo muito bem, foi uma aventura. Mas quando voltei, pensei, e se tivesse corrido mal? Até onde ia a minha responsabilidade. Não houve nenhum contrato, apenas a troca de chaves pelo dinheiro do aluguer entre duas pessoas que nunca se tinham visto. Não tive de apresentar quaisquer garantias nem havia seguro. E aqui surgiu a primeira ideia, a Shareavan, para alugar Vans, Carrinhas.
Zé Francisco Leitão de Sousa, CEO e co-fundador da Shareacar, explica que a criação da sua plataforma enfrentou naturais obstáculos no início, mas “hoje o gozo é enorme ver a Shareacar na estrada”.

As companhias de seguros nem nos quiseram ouvir “Carrinhas antigas? Nem pensar” e como não somos de desistir pensámos: “E se fosse aluguer de carros de carros entre pessoas?” E aqui estava a real oportunidade. No fundo estamos agradecidos às companhias de seguros. Quando estudámos o mercado não havia nenhum player em Portugal e decidimos que era cá que queríamos lançar a Shareacar.

M24: Foi fácil colocar em prática esta ideia em Portugal?

ZFLS: Todos sabemos que passar de uma ideia para a execução é um desafio. Independentemente do mercado ou setor. Tivemos os nossos desafios, legais, seguros, tecnológicos. Por isso a resposta é não, não foi fácil. No entanto, o “caminho das pedras” está feito e achamos que bem feito. O gozo que nos dá vermos a Shareacar literalmente na estrada, termos Car Owners que são portugueses que agora ganham dinheiro alugando os seus carros e, por outro lado, viajantes, estrangeiros e portugueses, que encontram na Shareacar o parceiro perfeito para as suas viagens é a recompensa do trabalho de toda a equipa. Estamos a construir uma verdadeira comunidade. Esta é a magia da Sharing Economy.

M24: Quais são os principais predicados da Shareacar e o que é que a diferencia de outras marcas do género que entretanto já surgiram?

ZFLS: A Shareacar tem muito de nós. Construímos uma marca de acordo com os valores em que acreditamos: a transparência, a flexibilidade e a proximidade e o facto de estarmos muito focados na felicidade da nossa comunidade. Sabemos que são pessoas que estão atrás dos emails, não são apenas clientes.

M24: Como tem sido a aceitação por parte dos clientes portugueses?

ZFLS: Incrível! Quando lançámos a Shareacar focámo-nos muito nos turistas mas foram os portugueses os primeiros a alugar carros e neste momento já representam mais de 50% dos nossos viajantes. Já são muitos portugueses que optam por não comprar carro, mas que em alguns momentos precisam de um carro, uma viagem ao IKEA, uma ida a um festival, uma visita a um familiar que vive longe, uma viagem à praia ou ao campo. Qualquer viagem é uma viagem e sermos parte disso é muito gratificante.

Do lado dos Car Owners, sabemos que nós portugueses temos uma cultura de carro próprio enraizada e que temos um “amor” grande pelo nosso carro, sendo que o desafio foi convencermos os portugueses a alugarem os seus carros. A verdade é que superámos todas as expectativas. Ter um carro custa em média 6000€ por ano, entre custo de aquisição, depreciação e manutenção. Com a Shareacar os portugueses estão a ganhar dinheiro com o seu carro. “Eu alugar o meu carro?! Nem pensar!” Mas e se ganhares 2000€ ao fim de um ano, alugando-o sempre que não o usas? É uma forma de ganhar dinheiro segura.

M24: Quais são os principais requisitos para a) um cliente poder alugar um carro e b) para um interessado se poder inscrever?

ZFLS: Para os primeiros (a): ter carta de condução é o único requisito. Só têm de submeter na plataforma Shareacar a carta de condução e o cartão de cidadão e esperarem pela nossa aprovação, que no máximo é em 48h. Para os segundos (b), os Car Owners: os carros têm de estar em perfeitas condições de circulação, certificado de inspeção periódica válido, não podem ter mais de 10 anos e não podem ter um valor Euro Tax superior a 50.000€. De igual forma há uma aprovação da nossa equipa antes de ficarem disponíveis para alugar.

M24: O seguro automóvel cobre todos os danos eventualmente causados pelo utilizador do veículo? Por exemplo, imaginando que um utilizador bate noutro carro ou risca o para-choques, como se definem culpas e arranjos?

ZFLS: Cobre sim. A solução de seguro que temos contratualizada à Allianz dá-nos todas as garantias que nenhum Car Owner corre riscos ao alugar o seu carro. Os viajantes têm a natural responsabilidade durante o período de aluguer, sendo que aqui funcionamos como uma tradicional rent a car: há uma franquia fixa para todos os alugueres, de 1.000€, uma caução de 100€. No caso de um acidente/incidente, o condutor tem de chamar as autoridades, apurar-se a responsabilidade, preencher declaração amigável, se a responsabilidade for de facto do condutor e o arranjo for de 500€, é esse o valor que será retirado à franquia. Caso o arranjo seja superior e a responsabilidade continue a ser do condutor, entra em acção a apólice de seguros Shareacar.

M24: O aluguer para partilha tem algum limite temporal ou é o próprio cliente da plataforma que disponibiliza o carro a impor um limite à sua utilização: por exemplo, não mais do que ‘x’ quilómetros ou apenas na região de Lisboa.

ZFLS: Os carros não são nossos, são das pessoas, dos Car Owners, e cada um impõe as regras do seu carro. Todos os car owners podem definir limites e impor regras que têm de ser aceites pelos viajantes.

M24: Qual é a perspetiva para a Shareacar a curto-prazo? Existirá alguma possibilidade de eventualmente se vir a aliar com outra companhia do mesmo género ou até com uma marca automóvel atendendo a que também começam a despertar para esta realidade.

ZFLS: A curto prazo é continuarmos o caminho que já começamos, de crescimento, mas também de proximidade com a nossa comunidade, de lhes darmos as soluções que procuram. Aos viajantes, portugueses e estrangeiros, queremos continuar a garantir que encontram na Sharecar o parceiro ideal para a viagem que preparam. Para os Car Owners, queremos que a Shareacar seja uma solução para ganharem um dinheiro extra ao final do mês. Num futuro próximo, queremos ainda alargar a operação da Shareacar ao Porto e ao Algarve, durante os meses do verão. Os ecossistemas de que fazemos parte, Mobilidade e também Travel & Leisure têm gerado muita curiosidade e expectativa, por isso ficamos naturalmente orgulhosos por já sermos um player de referência. Estamos a trabalhar com players de referência em projetos piloto, com quem temos aprendido muito e com quem partilhamos a nossa visão. É muito interessante ver o interesse e a disponibilidade de gigantes da indústria em explorarem novos caminhos. Acreditamos que todos juntos vamos tornar o futuro das cidades e a vida pessoas, mais seguro, mais confortável e mais sustentável.