Wolfgang Porsche: “A nossa identidade permanece, mesmo quando tudo ao redor muda”

01/08/2018

Num ano em que a Porsche cumpre 70 anos de existência, um dos seus mais prestigiados membros também celebra um marco importante da sua vida. Aos 75 anos, Wolfgang Porsche mantém uma abertura de mente surpreendente sobre qual o caminho a seguir pela marca alemã.

Wolfgang Porsche, neto de Ferdinand e filho mais novo de Ferry – fundador da empresa –,é atualmente o membro mais representativo da família. Além de presidente do Conselho de Supervisão da Porsche, detém diversos cargos de supervisão, quer no Grupo Volkswagen, quer na Porsche Holding Salzburg – empresa comercial detida pela própria família.

Cumprindo agora 75 anos de idade, considera que o seu principal papel é continuar o trabalho do seu pai e seu avô, além de equilibrar e unir os interesses dos membros da família com a gestão do construtor de Estugarda.

Nas últimas décadas, Wolfgang Porsche teve uma influência fundamental em todas as principais decisões da marca germânica, incluindo o realinhamento estratégico e reorganização da Porsche AG, em 1992, e a expansão do portefólio de produtos –desde o Boxster ao Macan, passando pelo Cayenne e Panamera –, incluindo o elétrico Mission-E.

Esteve, também, por detrás de decisões corajosas, como a aposta em motores Diesel – que muito contribuíram para o crescimento de vendas –, e o seu posterior abandono, e foi, igualmente, um dos estrategas do investimento da Porsche na Volkswagen AG, em 2005.

“Tudo deve ser reavaliado”

Num mundo de constante mudança e evolução tecnológica, quisemos saber como é que a Porsche se vai adaptar aos novos desafios. Wolfgang Porsche revela uma mente aberta…

Wolfgang Porsche: Estamos a crescer em áreas que, ainda há pouco tempo, não poderíamos imaginar. A transformação digital determina a maneira como pensamos e agimos. O que esperam os nossos clientes dos carros, tanto agora como no futuro, assim como da mobilidade em geral? A resposta é que tudo deve ser reavaliado. Não será necessário reinventar a roda, mas todo o resto, sim. E se vamos mudar, temos que inovar para promover flexibilidade nos pontos de vista, nas estruturas e na latitude de pensamento. A criatividade requer sempre uma certa liberdade. Só assim conseguimos ser mais rápidos, mais focados, mais ágeis e especialmente mais eficientes. Para uma empresa como a Porsche, é sempre importante pensar do ponto de vista do cliente. Para todos os futuros carros e serviços, existe apenas um padrão: o cliente. Tendo em consideração a rapidez e imprevisibilidade dos desenvolvimentos atuais, parece quase impossível prever o futuro. No entanto, como empreendedores, devemos tomar as decisões estratégicas certas hoje para melhor nos prepararmos para o que nos espera amanhã e depois de amanhã.

“Qual é o verdadeiro 911?”

Para um construtor cuja história e sucesso dependeu tanto de um modelo icónico, como é o caso da Porsche relativamente ao 911, impõe-se saber: qual é o verdadeiro 911, o original, de 1963, ou a milionésima unidade produzida em meados de 2017?

WP: Ao longo dos anos temos desenvolvido de forma consistente o 911,aplicando tecnologias novas e inovadoras. Nenhum dos componentes do 911 de hoje é idêntico aos do original. Apesar disso, a essência permanece a mesma há mais de 50 anos. A identidade de um 911 não é apenas definida pelos detalhes técnicos. O que importa é que permaneça fiel à sua natureza. E não conheço nenhum carro que, apesar de todas as evoluções técnicas e dos tempos, tenha permanecido tão fiel à sua natureza como o 911.
“Não conheço nenhum carro que tenha permanecido tão fiel à sua natureza como o 911”

E com tanta evolução tecnológica, com a progressiva entrada numa era elétrica e por a Porsche, atualmente, não se limitar a construir apenas modelos puramente desportivos, não haverá o perigo de a marca perder alguma da sua identidade?

WP: Estamos ‘cercados’ por mudanças rápidas. As exigências dos clientes em torno dos nossos modelos desportivos e da mobilidade em geral estão a mudar. É importante para nós antecipar e atender a esses requisitos nos novos produtos e serviços sustentáveis ​​que oferecemos. O que não nos impede, contudo, de sermos nós próprios, de sermos Porsche. Porque foi a essência da nossa marca que nos fez o que somos hoje e o que seremos amanhã. A nossa identidade, clara e indivisível, permanece, mesmo quando tudo ao nosso redor muda. Não devemos sucumbir à ganância dos números. Crescer por si só não é uma meta corporativa sustentável. Isso destruiria a magia do Porsche. Nosso maior argumento de venda é a exclusividade, diversidade e individualidade. Remontando aos ‘pilotos’ originais da Porsche, os tipos ‘James Dean’, eles eram rudes e rebeldes, não se definiam como parte da maioria ou como seguidores. Essa é a essência, o ADN que nunca devemos abandonar.

“Preservar a essência Porsche”

Mas num mundo em constante mudança de valores, sobretudo para as novas gerações, isso será assim tão fácil?

Hoje, a nossa empresa emprega mais de 30 mil funcionários altamente qualificados e motivados, que trabalham juntos com base numa cultura corporativa única para moldar o presente e o futuro da Porsche. Desde que tenhamos essa cultura especial – esse respeito um pelo outro, responsabilidade pessoal nas nossas ações e liberdade de pensamento – também estamos a preservar a essência da Porsche para o futuro. Sucesso na inovação significa desafiar consistentemente tudo sem perder características básicas e identidade no processo. Na Porsche, sentimos a necessidade de sermos excecionalmente bons. Seja em modelos elétricos ou convencionais, seja no puro prazer de pilotar em pista ou em condução autónoma em cidade, seja como fabricante de carros desportivos ou como um inovador fornecedor de serviços, a Porsche sempre será a Porsche.

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