Yves Bonnefont (DS): “Os políticos tendem a forçar tecnologias específicas”

14/04/2019

Recém-criada com o objetivo de ser a porta-estandarte da filosofia francesa de luxo e requinte, a DS Automobiles trilha o seu caminho com a apresentação dos seus primeiros automóveis Premium, que não fogem à tendência incontornável da eletrificação.

Seja por meio de tecnologia híbrida ou 100% elétrica, a eletrificação será determinante para os fabricantes atingirem as muito apertadas metas europeias de emissões CO2 até 2030, com Yves Bonnefont, CEO da DS, a considerar, porém, que as forças políticas estão a guiar a indústria para uma única solução, ao invés de permitir uma maior liberdade no desenvolvimento tecnológico para o combate às emissões.

Em entrevista ao Motor24/Dinheiro Vivo, Bonnefont elogiou “a atenção atual dada à questão da eficiência da utilização da energia e das emissões, o que é bom para o planeta e para as pessoas”, mas não deixou de apontar a ideia, no seu ponto de vista, de que se estão a forçar tecnologias específicas: “A minha perspetiva pessoal é de que os governos deveriam traçar regras nas emissões e deixar, depois, os construtores [automóveis], com os seus engenheiros e capacidades de produção, encontrar a melhor solução técnica para ir ao encontro desses regulamentos. Hoje, não é bem o caso. Os governos e os políticos tendem a forçar tecnologias específicas. Claro que vamos cumprir, mas não creio que seja a melhor abordagem”, argumentou o presidente da DS, autonomizada em 2014 depois de ter sido relançada como gama de modelos de ponta da Citroën.

Recorda que o Grupo PSA tem mais de 12 mil engenheiros espalhados pelo mundo e que seria preferível, definidas as metas, permitir aos fabricantes que encontrassem “a melhor solução técnica pelo melhor custo possível”. No entanto, sem abdicar dos motores Diesel, que na Europa têm vindo a perder clientes, tanto o DS 7 Crossback como o DS 3 Crossback contarão com todas as variantes disponíveis de motorizações, graças à nova plataforma multi-energia do grupo.

“Tentamos fazer o nosso melhor em todas as categorias de motores. Se pegarem no DS 7 Crossback e se virem motor a motor, verão que é o melhor em termos de emissões de CO2 no seu segmento. É assim que queremos abordar a questão. Queremos ser os melhores nos Diesel, nos carros a gasolina, elétricos e híbridos. Depois o cliente pode escolher qual a tecnologia que melhor se adequa a si”.

Sempre Premium, finalidades distintas

Nesse âmbito, com um plano de lançamento de seis novos modelos entre 2018 e 2023 (um por ano), todos cumprirão o desígnio da eletrificação, mesmo que de formas distintas. Por exemplo, o DS 7 Crossback, SUV médio, terá versão híbrida Plug-in e o DS 3 Crossback, mais compacto apenas terá variante elétrica. Tudo consoante a finalidade do modelo.
“Com um carro mais pequeno como o DS 3 Crossback é complicado ter um híbrido com autonomia suficiente de emissões zero por causa das dimensões do veículo. Por isso decidimos logo pelo 100% elétrico”, observa, destacando como ponto forte do futuro DS 3 Crossback E-Tense a autonomia de 320 km com peso contido das baterias, podendo recarregar até 80% em cerca de meia hora com o carregador rápido (100 kW).

Apesar de todo o esforço em torno da eletrificação, Bonnefont não tem uma previsão factual da forma como os elétricos irão dominar as estradas europeias. “Para ser bastante franco, não fazemos ideia da rapidez com que os elétricos vão ganhar volume. [Mas] tenho duas convicções fortes. Uma é de que quem começa a conduzir um elétrico, não volta para um carro com motor térmico e, com mais pessoas a experimentarem os elétricos, o número irá aumentar. Mas será um crescimento muito lento. A minha segunda convicção é que se tivermos cidades na Europa a dizerem que para lá entrarem precisam de ter [carros de] emissões zero, os clientes Premium vão mudar muito rapidamente porque há gente dentro das grandes cidades que não quer limitações à sua mobilidade”, acrescentando que os “clientes Premium estão dispostos a pagar um pouco mais para não terem quaisquer limitações”.

O carro do Presidente

O prestígio Premium é, por outro lado, um ideal do qual a DS pretende aprofundar, com a marca a crescer a nível europeu e a conseguir, em França, impor já o DS 7 Crossback como o líder do seu segmento SUV. Essa noção de requinte gaulês, tantas vezes enaltecida pelos responsáveis da marca, não está sozinha na definição dos produtos da DS, com Bonnefont a destacar a estética, a qualidade dos materiais, as tecnologias e o conforto a bordo.

O mesmo compêndio de características que fez do DS 7 Crossback o primeiro carro oficial do Presidente Emmanuel Macron, com elementos específicos para a sua função, nomeadamente o teto de abrir panorâmico. Para 2020, ainda sem data de revelação, espera-se um novo modelo, o terceiro da nova geração DS.

Um dos modelos, precisamente, que ajudou a cortar os laços com a Citroën, marca com que a sigla DS regressou ‘à vida’ e que Bonnefont reconhece: “Creio que o DS 7 Crossback começou por mostrar para onde queremos ir com a marca e até que ponto é diferente de qualquer outra marca do grupo e com o DS 3 Crossback temos dois carros que podemos colocar lado a lado. As pessoas podem ver as semelhanças entre os dois carros e têm a impressão daquilo que a marca representa: veem a mesma grelha dianteira, por isso percebem que a grelha dianteira é importante, encontram o mesmo desenho do interior, os materiais nobres e percebem que esses são os fundamentos da marca, as pessoas começam a ler isso. É o mesmo com a tecnologia. Ambos os carros têm a tecnologia de condução autónoma de nível 2. A nível de iluminação, também veem o muito trabalho efetuado – no DS 7 com os faróis [com elementos] que rodam, no DS 3 com os faróis de matriz LED”, afirmou o responsável da marca gaulesa, que aponta ainda o conforto como um dos elementos primordiais à companhia do Grupo PSA.

“As pessoas quando testarem o DS 3 Crossback também vão perceber que temos o mesmo nível de conforto em termos de silêncio no interior, no qual podem sentir aquilo que chamamos de ‘lounge effect‘ do DS. Agora com dois carros, penso que as pessoas vão começar a perceber aquilo que corporiza a marca”.

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