Nasceu como um grupo de Facebook, mas rapidamente ganhou uma notoriedade impressionante. Ao cabo de apenas três semanas de existência, o grupo ‘Bring Tesla Gigafactory to Portugal!’ conta já quase 50 mil membros e, levado pelo seu crescimento quase espontâneo, organizou um primeiro encontro nacional, em Lisboa, para debater formas de trazer este avultado investimento para Portugal.

Em debate estiveram os criadores do grupo naquela rede social e oradores e autarcas convidados que, em conjunto, traçaram linhas de pensamento para apelar a Elon Musk, oferecendo uma série de atrativos racionais e, também, emocionais para que o CEO da Tesla se decida pela instalação no nosso país da segunda gigafábrica da marca, secundando aquela que já existe no Nevada, Estados Unidos da América (EUA).

Embora reconhecendo a dificuldade de trazer para Portugal aquela fábrica, Miguel Duarte, mentor deste grupo, enfatizou que existe essa possibilidade e, como tal, é necessário mostrar uma força positiva em torno de um projeto que ganhou força de forma automática e exponencial na rede social Facebook.

Exemplo de crescimento viral

Apontando o crescimento e aumento de visibilidade deste grupo como um exemplo de ‘marketing viral’ que nasceu e ganhou força nas redes sociais, mais concretamente, por via do Facebook, Miguel Duarte fez questão de salientar que “não nos pretendemos sobrepor aos órgãos oficiais, mas há uma questão de ideais que não são apenas do foro racional, mas que são também do lado emocional. Queremos apelar a esse mesmo lado, mostrar que os portugueses estão empenhados com o projeto e que são apaixonados pelas novas tecnologias e pelos elétricos. Aliás, o próprio Elon Musk referiu isto, que não é apenas o lado racional que conta, mas também o lado emocional”.

Para este responsável, existe uma noção óbvia de que não será o grupo a decidir, mas “a ideia é de que possamos vir a influenciar o processo. Somos um grupo de cidadãos, um movimento da sociedade civil sem qualquer fim político. Queremos promover esta ideia e a discussão, eventualmente impressionando com a nossa paixão. A emoção tem de ser a chave!. Também foi assim no Nevada”, assume Miguel Duarte.

Razões para acreditar

Com cerca de 50 mil pessoas no grupo do Facebook, que nasceu apenas no passado dia 18 de novembro, foram os próprios membros deste movimento a estabelecer um argumentário com 23 pontos para chamar esse mesmo investimento para Portugal, elencando desde argumentos técnicos, governativos e emocionais.

O primeiro ponto diz respeito ao acesso privilegiado a zonas portuárias, como as de Leixões, Lisboa, Aveiro, Setúbal e Sines, com uma ampla experiência de funcionamento e infraestrutura para exportação fácil, articulando-se este com os quatro pontos seguintes: acesso multimodal ao mercado EMEA/EUA, rede viária bastante evoluída (a segunda melhor do mundo de acordo com o World Economic Forum), futuro aeroporto de Lisboa (previsivelmente em Alcochete) e rede ferroviária modernizada e orientada para a Europa.

Outros pontos citados referem a integração de energias renováveis no fornecimento de energia elétrica (terceiro lugar na Europa), o cluster industrial automóvel de elevada produtividade, parques industriais preparados para receber aquela infraestrutura, cadeia de fornecimento automóvel, empresas de construção local rápidas (eficientes e mais acessíveis em custo) e uma extensa rede de fibra ótica, sendo hoje um hub mundial na amarração de cabos de fibra ótica.

Por outro lado, a motivação de trabalho, a população jovem, o domínio da língua inglesa, o domínio de ferramentas de trabalho, o ambiente acolhedor para o investimento, os benefícios fiscais para a indústria, o fornecimento já existente de muitas empresas lusas à Tesla, os parceiros industriais de carregamento rápido e a elevada quantidade de energia solar no nosso país (1.700 kWh/m2) são também critérios apontados para situar Portugal como um território potencialmente apetecível para a Tesla implantar a sua gigafábrica.

Por fim, num outro ponto crítico, é recordado que Portugal possui as maiores minas de lítio da União Europeia, num traço que poderá fazer do país um candidato de elevado relevo. Não obstante estes motivos racionais, André Marquet, outro dos oradores e impulsionadores deste grupo, explicou que existe uma “imensa comunidade apaixonada pela Tesla” e que este é um “movimento de acreditar”.

Portugal, também conhecido por ser atualmente, um dos locais de força da Europa no que à criação de start-ups diz respeito, pretende assumir as rédeas desta causa: “Já fomos empreendedores no passado. Temos apostado nas energias alternativas, estamos a ser um dos grandes empreendedores pelo menos em termos de start-ups e esse é um dos pontos em comum com Elon Musk: o do empreendedorismo”, acrescentou, por seu lado, Miguel Duarte.

Energia renovável em alta

Também em grande destaque esteve a capacidade de Portugal se posicionar como um dos líderes europeus em termos de produção energética a partir de fontes renováveis, com José Medeiros Pinto, secretário-geral da APREN (Associação de Energias Renováveis), a destacar neste mesmo evento duas grandes vantagens: “uma grande percentagem de renováveis na eletricidade, o que gera um grande benefício ambiental e uma rede elétrica muito boa e fiável, que é um bom argumento para atrair projetos de investimento. Temos uma rede elétrica de qualidade: não treme e raramente se apaga”, referiu, lembrando que as energias eólica e solar são as mais importantes neste momento em termos de contribuição para a produção de energia para consumo.

De resto, para 2040 espera-se uma implementação de 100% de energia renovável na rede, em termos de balanço.

Autarquias dispostas a ajudar

Com a possibilidade de a Tesla chegar a Portugal ao abrigo deste investimento, são também muitas as autarquias que se mostram recetivas a contar com a gigafábrica, como as de Torres Vedras, Albergaria-a-Velha ou Penela.

Para Carlos Bernardes, presidente da Câmara de Torres Vedras, “os municípios têm um papel importante na tarefa de incentivar estes investimentos. Havendo a perspetiva de um investimento destes na Europa e o facto de poder vir para Portugal, que tem as condições que tem e que nos permite diferenciar face a outros concorrentes, já é uma conquista. Esta visão otimista é fundamental”.

Contudo, Portugal não ‘corre’ sozinho pela fábrica da Tesla. Outros países estão também interessados em contar com este gigantesco investimento, como Espanha ou a Finlândia, num processo que os responsáveis deste grupo querem fazer pender, de forma decisiva, para o nosso país.

Tesla oficialmente em Portugal

Entretanto, na senda do interesse que Portugal tem desenvolvido, sobretudo por parte deste grupo, sabe-se já que a companhia norte-americana registou sede social no nosso país, de acordo com o Diário de Notícias na sua edição de hoje.

A informação adianta que a recém-constituída Tesla Portugal, Sociedade Unipessoal, tem data de 22 de novembro e conta com dois sócios-gerentes: o responsável em Espanha e a a responsável do departamento de serviços financeiros. Nos últimos dias têm surgido notícias de que a Tesla está à procura de novos talentos para Portugal.