Entre os principais responsáveis dos construtores automóveis, Akio Toyoda, CEO da Toyota, é um dos que tem sido mais crítico na abordagem dos reguladores do setor no sentido de tornarem os veículos elétricos na única solução permitida para atingir a neutralidade carbónica. O japonês garante que há uma “maioria silenciosa” na indústria automóvel que duvida dessa abordagem.

Toyoda tem sido, a par de Carlos Tavares, CEO da Stellantis, um dos grandes defensores de um caminho múltiplo, composto por diferentes soluções tecnológicas, para se atingir o objetivo da neutralidade carbónica e da liberdade de movimentos, voltando a insistir nessa sua visão durante uma conferência de imprensa com os jornalistas na Tailândia.

Com um portefólio composto por automóveis elétricos (nos quais também irá reforçar a sua aposta), híbridos plug-in (PHEV) e modelos a hidrogénio (FCEV), a Toyota mantém uma estratégia multifacetada, mas trabalha também noutras soluções, incluindo combustíveis sustentáveis (numa parceria com outras marcas japonesas, como a Mazda e a Subaru) e o hidrogénio para alimentar motores de combustão, numa possibilidade que seria mais vocacionada para a competição automóvel.

Em declarações citadas pelo The Wall Street Journal (conteúdo pago), Toyoda voltou a garantir que o caminho para a neutralidade carbónica passa pela multiplicidade de soluções e que muitos dos agentes envolvidos na indústria automóvel duvida da estratégia escolhida pela Europa, por exemplo, para permitir a comercialização apenas a veículos novos elétricos em 2035.

“As pessoas envolvidas na indústria automóvel são amplamente uma maioria silenciosa. Essa maioria silenciosa interroga-se se os VE são realmente bons enquanto solução única. Mas eles pensam que é a tendência [atual], pelo que não falam publicamente… A resposta certa ainda é incerta, não nos deveríamos limitar a uma única opção”, referiu Toyoda, em declarações reproduzidas pelo Carscoops.

Já na sua conferência de imprensa para a apresentação da nova Toyota Hilux Vigo e na celebração dos 60 anos da Toyota Motor Thailand, o responsável máximo da marca frisou o mesmo.

“Na Toyota, acreditamos que as pessoas estão em primeiro lugar. Acreditamos em construir carros que sirvam as necessidades reais dos nossos clientes”, afirmou. “É também por isso que a Toyota não adota uma abordagem de uma solução serve para tudo para os nossos produtos e motorizações. Na verdade, sou frequentemente criticado na imprensa porque não declaro que a indústria automóvel deve comprometer-se a 100% para com os veículos elétricos a bateria. Eu acredito que precisamos de ser realistas sobre quando é que a sociedade poderá adotar totalmente os veículos elétricos e quando é que a nossa infraestrutura poderá recebê-los em larga escala”, indicou, prosseguindo no seu tom crítico.

“Porque tal como os carros totalmente autónomos que deveríamos já estar todos a conduzir agora, acredito que os veículos elétricos a bateria vão demorar mais a tornar-se a escolha generalizada do que os média gostaria que acreditássemos. E, francamente, os BEV não são a única opção para alcançar os objetivos globais de neutralidade carbónica. Pessoalmente, gostaria de perseguir cada opção, não apenas uma – opções como os combustíveis sintéticos sem emissões e hidrogénio. Ainda acredito que o hidrogénio é uma tecnologia promissora para o futuro como os BEV”.

“À medida que trabalhamos rumo a um futuro sustentável, também acredito que temos de seguir uma abordagem holística à neutralidade carbónica, desde a extração dos materiais, à produção dos automóveis, aos motores que lhes colocamos e à forma como os reciclamos. Devemos lembrar-nos que o carbono é o verdadeiro inimigo, não uma motorização em particular e que não podemos atingir a neutralidade carbónica sozinhos. Tem de ser um esforço concertado e incluir outras indústrias além da automóvel”, completou.

Recorde-se que a marca lançou este ano o seu primeiro elétrico, o bZ4X, mas tem em carteira um maior número de automóveis com essa tecnologia, a par do lançamento de novos veículos, como o Prius e o futuro C-HR. Ao mesmo tempo, a experiência da marca no desenvolvimento de soluções híbridas permitiu-lhe também baixar enormemente os custos de implementação dessa solução em modelos como o Yaris, que tem tido um desempenho comercial de grande relevância, sobretudo na Europa.