Reforçando a sua aposta na eletrificação, a Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi apresentou a sua ofensiva para os próximos anos, prevendo um investimento de 23 mil milhões de euros em diversas áreas para acelerar a introdução dos elétricos a nível global e, muito concretamente, na Europa.

O grupo pretende lançar 35 novos automóveis 100% elétricos até ao final da década, mantendo a estratégia ‘Líder-Seguidor’ já anunciada anteriormente, na qual uma marca se responsabiliza por diferentes mercados. Em 2024 chegará uma nova plataforma comum para elétricos mais compactos, para o Renault 5 e para o sucessor do Nissan Micra.

Na apresentação do plano estratégico para os próximos anos, o grupo composto por diversas marcas – Renault, Alpine, Dacia, Nissan, Lada ou Mitsubishi – ofereceu uma visão daquilo que será o caminho para a eletrificação de todas as marcas, com um esforço de desenvolvimento em diversas áreas para reduzir custos e acelerar a implementação de tecnologias e modelos que possam servir as necessidades dos clientes de cada região.

“Entre os líderes mundiais do setor automóvel, a Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi é uma aliança comprovada, com um modelo único. Durante 22 anos, temos vindo a progredir em torno das nossas respetivas culturas e pontos fortes para o nosso benefício comum”, disse Jean-Dominique Sénard, Presidente da Aliança.

Jean-Dominique Sénard, Presidente da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi

“Hoje, a Aliança está a acelerar para liderar a revolução da mobilidade e fornecer mais valor aos clientes, ao nosso pessoal, aos nossos acionistas e a todas as nossas partes interessadas. As três empresas-membro definiram uma rota comum para 2030, com partilha de investimentos em futuros projetos de eletrificação e conectividade. Estes são investimentos maciços que nenhuma das três empresas conseguiria fazer sozinha. Juntos, estamos a fazer a diferença para um futuro global e sustentável; a Aliança tornar-se-á neutra em carbono até 2050”, completou.

Jogo de plataformas

Assentando em quatro pilares – plataformas comuns, baterias sustentáveis, arquiteturas eletrónicas e motorizações elétricas – esta estratégia de cooperação entre as três principais marcas da aliança – Renault, Nissan e Mitsubishi –, o grupo procura atuar de forma rápida e decidida para reconquistar algum do foco perdido na Europa.

Os três construtores demonstraram o seu plano de plataformas comuns que dará o próximo passo em breve com o surgimento no mercado dos Nissan Ariya e Renault Mégane E-Tech, que estreiam a CMF-EV. A companhia explica que, embora os componentes e desenvolvimentos sejam partilhados, cada marca manterá a sua própria individualidade e design interior e exterior.

Mas essa será apenas uma das cinco plataformas a utilizar pelas marcas da Aliança, já que a companhia tem já em utilização as plataformas CMFA-EV (que é a mais acessível do mercado, utilizada por exemplo no Dacia Spring), a Kei-EV (mais orientada para o mercado japonês e modelos muito compactos), a LCV-EV (que deu como primeiros frutos a Renault Kangoo e a Nissan Townstar), sendo anunciada como grande novidade a chegada, em 2024, da CMFB-EV, que será oferecida para a próxima geração de automóveis compactos como o Renault 5 e também para um novo Nissan Micra (embora a marca tenha apenas referido que será o sucessor do Micra), com um design igualmente retro.

A Aliança destacou, sobretudo, a importância de duas das plataformas apresentadas, nomeadamente as CMF-EV e a CMF-BEV, a primeira estreada pelos novos Renault Mégane E-Tech e Nissan Ariya já este ano, enquanto a segunda tem os seus primeiros ‘frutos’ previstos para 2024, com o regressado Renault 5 e o sucessor do Micra.

A CMF-EV é apresentada como uma plataforma global altamente flexível, oferecendo um elevado potencial de modularidade e aproveitamento do espaço interior, sendo base para uma nova geraão de veículos elétricos da Aliança. Esta arquitetura foi desenvolvida para acomodar um novo motor de alta performance e uma bateria ultrafina. Em 2030, mais de 15 automóveis serão baseados na plataforma CMF-EV, com até 1.5 milhões de carros produzidos por ano.

Já a nova CMFB-EV é apelidada de plataforma elétrica compacta mais competitiva do mundo, com uma autonomia até 400 quilómetros, sendo por isso adequada para os modelos de segmento B. A Aliança destaca o potencial do aproveitamento aerodinâmico e com uma redução de custo na ordem dos 33% e do consumo em mais de 10% face ao atual Renault ZOE. Esta plataforma servirá de base para cerca de 250 mil automóveis por ano para as marcas Renault, Alpine e Nissan.

Mais imediato, o recurso à plataforma CMF para os segmentos C e D irá também dar origem (ou já deu) a diferentes modelos das três companhias da Aliança, tendo sido dados como exemplos os Nissan Qashqai e X-Trail, o novo Mitsubishi Outlander PHEV, o Renault Austral e um novo SUV de sete lugares para a marca francesa. A Mitsubishi também irá beneficiar grandemente, uma vez que terá dois novos modelos na Europa, sendo um deles o novo ASX com base no Renault Captur.

Este fortalecimento de partilha de plataformas terá como consequência o aumento da taxa de partilha de plataformas dos atuais 60% para mais de 80% no combinado dos 90 modelos em 2026.

Redução de custos nas baterias e estado sólido em 2028

Graças a novos desenvolvimentos na área das baterias de iões de lítio, a intenção da aliança é reduzir o seu custo em 50% até 2026 e 65% em 2028, tornando os automóveis mais acessíveis. A companhia pretende ter uma capacidade global de produção de baterias na ordem dos 220 GWh em 2030.

Para o final da década está previsto um novo avanço forte nas baterias, com a previsão da comercialização em massa de automóveis com baterias de estado sólido (AASB), cujo desenvolvimento está a cargo da Nissan.

As baterias de estado sólido terão o dobro da densidade energética em comparação com as atuais baterias de iões de lítio, enquanto o tempo de carregamento será também amplamente reduzido para um terço, permitindo dessa forma que se cumpram viagens longas com tempos de carregamento relativamente curtos para maior conveniência.

A intenção da Aliança é ter estas novas baterias em produção de larga escala em meados de 2028, apontando posteriormente para a redução do seu preço para atingir a paridade de custos com os veículos de combustão interna (até um valor de 65$ por kWh).

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Para apoiar a transição energética para os modelos 100% elétricos, a companhia franco-nipónica também se apoia num novo sistema de gestão das baterias, o qual foi desenvolvido a 100% (em software e hardware) pela própria Aliança, beneficiando assim de um maior controlo sobre a gestão de dados recolhidos em termos de utilização, carregamentos e monitorização do estado da bateria. A reciclagem e o aproveitamento das baterias em ‘segunda vida’ também está em foco nos planos futuros da companhia.

Eletrificação plena a diferentes ritmos

Embora a estratégia esteja praticamente definida no Velho Continente, o ritmo de adoção dos veículos elétricos como solução única não é igual em todo o mundo, nem mesmo em todas as marcas da Aliança Renault-Nissan-Mitsubishi.

A Renault pretende tornar-se 100% elétrica na Europa em 2030, mas em 2025 os cálculos apontam para que 25% do mix de vendas seja 100% elétrico para que se alcance esse objetivo. Daqui até 2025, explicou Luca de Meo, responsável pela marca do losango, os nossos lançamento e a facilidade de adoção dos automóveis elétricos na Europa permitirá que seja exequível atingir esse objetivo. Acrescentou ainda que dos 27 novos modelos até 2025, a maioria será 100% elétrica.

A Nissan enfatiza que no início de 2030 serão uma marca 100% eletrificada nos seus mercados centrais. Mas para a Europa, em 2026 preveem uma meta de 75% de eletrificação. Makoto Uchida, o CEO da Nissan, indica, no entanto, que é necessário olhar para a escala global de mercados e da sua adaptabilidade para receber os elétricos.

A mesma ideia foi partilhada por Takao Kato, Presidente e CEO da Mitsubishi, que aponta para um rácio de eletrificação na ordem dos 50% a nível global. Embora admita que “parece pouco ambicioso, a verdade é que o ritmo dos elétricos é diferente. Na Europa é já bastante claro que se quisermos sobreviver em 2030 será necessário que sejamos elétricos, mas noutros mercados a situação não é a mesma”.

Unificar a tecnologia em ‘nuvem’

Por fim, na tecnologia, há também um esforço nos sistemas de assistência ao condutor avançados e condução autónoma, procurando melhorar em todos os aspetos. Um dos exemplos da competência tecnológica do grupo é dado com o sistema ProPilot da Nissan.

Com plataformas e eletrónicas partilhadas, os membros da Aliança esperam ter mais de dez milhões de veículos nas estradas em 2026, divididos por 45 modelos equipados com sistemas de condução autónoma.

Em termos de conectividade, existem atualmente três milhões de veículos conectados à ‘nuvem’ da Aliança com trocas constantes de dados. Em 2026, são esperados mais de cinco milhões de sistemas ligados em ‘nuvem’ por ano, com um total de 25 milhões de carros na estrada. A companhia pretende ainda, ao abrigo de um acordo de desenvolvimento de tecnologia com a Google, tornar-se no primeiro construtor global a ter um ecossistema da Google nos seus carros.

Sob liderança da Renault, está a ser desenvolvida uma arquitetura comum centralizada para as vertentes eletrónica e elétrica, para um máximo de benefícios em termos de custos e de otimização dos sistemas. O primeiro veículo definido pelo novo software em 2025. Com este veículo, a Aliança vai melhorar os seus automóveis com atualizações ‘over-the-air’ ao longo dos seus ciclos de vida.

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