Como desenhar um carro: Do compasso e papel ao ecrã tátil e realidade virtual

18/06/2018

Cada vez mais distantes estão os tempos em que compasso, borracha e papel vegetal eram ferramentas essenciais para o projeto de um automóvel. Hoje, esses instrumentos de desenho deram lugar à era digital.

No caso da SEAT, os engenheiros que participaram na criação e desenvolvimento de diversos modelos da marca espanhola ao longo dos anos oferecem a sua visão de como esta indústria mudou, conforme explica Ángel Lahoz, engenheiro do Centro Técnico da SEAT, que aponta o papel – ou a sua poupança – como uma das maiores diferenças.

Agora desenha-se diante de um monitor com recurso à última tecnologia em 3D, mas há quatro décadas os projetistas reuniam-se à volta de uma enorme mesa para traçar as linhas de um automóvel à escala real. “Fazia-se tudo com papel, régua e compasso na mão e, claro, nada de programas de edição de imagem”, recorda Ángel Lahoz. Nos anos 80, uma das dificuldades era a de projetar diferentes secções do modelo desenhado, umas sobre as outras, no mesmo plano. Por vezes, usavam-se até seis metros de papel…

Mas também para escrever se mudou muito. O lápis de carvão saiu de cena e deixou a caneta digital assumir o controlo.

“Havia um único computador por departamento, para a assistente da direção, e os restantes trabalhavam em mesas cheias de planos e de lápis de cor. Parecia um atelier de artistas”, recorda Lahoz. Hoje, esta imagem foi substituída por tablets interativos e canetas digitais. Os desenhadores podem agora fazer correções instantâneas com um só clique, fazendo com que desaparecessem “as mil e uma modificações feitas à custa da borracha de apagar”, acrescentou.

Duas toneladas de gesso face a 5000 kg de argila

Na fase de criação de um novo modelo, os esboços convivem com as reproduções de protótipos em tamanho real. É desta forma que se definem as formas finais. Nos anos 80, para a primeira geração do SEAT Ibiza, utilizava-se o gesso. Em contraste, hoje, recorre-se à argila, um material de mistura de aspeto semelhante ao barro “muito mais moldável”, explica Lahoz. Agora, graças à tecnologia, é também possível alcançar “uma precisão à décima de milímetro”. Este processo, mais manual, é combinado com protótipos virtuais.

Todo este processo é acompanhado de mais um progresso tecnológico, na forma de óculos HD, já que, atualmente, não só é possível desenhar um modelo virtual como também experimentar, em primeira mão, as sensações ao volante. Estas novas ferramentas de trabalho permitem garantir em cerca de 90% a viabilidade dos primeiros esboços.

Por outro lado, agora cumpre-se o dobro das simulações graças à realidade virtual: a realidade virtual tornou-se, nos últimos anos, um elemento chave em todo o processo de desenvolvimento de um modelo. Outro exemplo é o dos testes de colisão. Para o novo Ibiza foram realizadas 95.000 simulações, duplicando as que foram feitas na geração anterior. Além disso, esta nova tecnologia é capaz de analisar até três milhões de elementos de um automóvel, número que não passava dos 5000 há 30 anos.

Antes de serem comercializados, os automóveis devem completar uma série de testes em condições extremas. “Os testes mudaram muito ao longo dos anos”, garante Jaume Camps, o engenheiro responsável pelos testes em condições extremas. Há três décadas já se sujeitavam os protótipos a provas dinâmicas no calor, em zonas desérticas, e no frio extremo no Círculo Polar Ártico. A diferença, esclarece Camps, é que hoje há muito mais coisas a testar devido “à incorporação de toda a eletrónica e aos sistemas de ajuda à condução” presentes nos automóveis atuais.

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Ao mesmo tempo que todos estes progressos foram sendo realizados, houve a necessidade de manter todos os campos sob controlo estrito. O Centro Técnico da SEAT, nascido em 1975 com 211 engenheiros a trabalhar numa superfície de 130.000 m2, é hoje, quatro décadas mais tarde, um hub de conhecimento com um espaço de 200.000 m2 e mais de 1000 profissionais a trabalharem.

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