As tecnologias de condução autónoma são apontadas como soluções para o final dos acidentes nas estradas e para evitar vítimas mortais derivadas de acidentes rodoviários. Porém, o avanço desses mesmos sistemas tem sido feito a uma velocidade mais lenta do que muitos apontavam até numa fase recente. Alain Dunoyer, especialista da SBD Automotive Ltd., admite mesmo que a condução totalmente autónoma só será uma realidade dentro de várias décadas, havendo ainda um longo caminho pela frente.

Participando num dos painéis do Fórum da Mobilidade Inteligente da Nissan, Dunoyer, responsável do departamento de carros autónomos daquela consultora especialista em tecnologia automóvel, que trabalha em parceria com diversos fabricantes, explicou que os avanços em tecnologias como a inteligência artificial (IA) têm sido significativos, mas que no conjunto apenas dentro de algumas décadas a condução autónoma de Nível 5 (totalmente independente dos comandos do condutor) poderá estar nas estradas.

“Atualmente, estamos no Nível 2+ de tecnologia de condução autónoma, em transição para o Nível 3. No Nível 2 temos sistemas como o da Nissan, o ProPilot 2.0, ou o Super Cruise da General Motors. No Japão, onde os avanços têm sido maiores neste campo, o Honda Legend terá condução de Nível 3, mas trata-se de uma experiência em números limitados”, refere este especialista, apontando três razões para a demora na implementação da condução autónoma.

“Em primeiro lugar, porque os humanos são realmente bons a conduzir. Apesar de ser verdade que são os principais responsáveis pelos acidentes, são também bastante bons na tarefa de condução”, começou por justificar, apontando ainda que a condução autónoma terá de ganhar o mesmo nível de confiança que os sistemas de automação na indústria aeronáutica, pelo que estamos apenas no início da viagem para a indústria automóvel”.

“Algo que também nos está a atrasar ligeiramente é a inteligência artificial. Tem feito grandes avanços e pode fazer coisas que não considerávamos possíveis antes, mas algo que é muito claro é que a IA ainda não consegue extrapolar cenários. Por exemplo, se um condutor vir um colchão na estrada, ao vê-lo, admitindo que está ao volante de um SUV e considerando que o colchão é macio, poderá passar por cima dele de forma segura, ou então dependendo do trânsito, contorná-lo. A IA não consegue fazê-lo. Está treinada para coisas que estão na estrada hoje. Terá que ser construída com base na experiência dos humanos”.

Por último, Dunoyer aponta a dificuldade na leitura da fricção da estrada, que poderá não ser facilmente lida pelos sistemas tecnológicos.

A estes desafios tecnológicos, Dunoyer adiciona ainda o fator humano em termos de confiança. “Fazemos muitos estudos e o que os condutores querem, sobretudo, é a segurança. Sim, a conveniência é boa, mas o que querem é mesmo a segurança”, afirma, lembrando que, apesar de tudo, a implementação dos sistemas de assistência à condução (ADAS) vai reduzir os acidentes entre 19% a 24% em 2030, estabilizando depois nos 30% a partir daí.

Uma das consequências do acréscimo de tecnologia na prevenção de acidentes passará pelo aumento dos custos em caso de acidentes. As reparações tenderão a ficar mais caras devido ao número de sensores e sistemas integrados, que terão de ser calibrados e reparados de forma exata para evitar maus funcionamentos.

Com este cenário traçado, Dunoyer atira apenas para a década de 2070 a chegada da condução totalmente autónoma aos veículos ligeiros de passageiros. Antes, porém, alguns níveis de automação na condução poderão ser vistos em áreas como a de serviços partilhados de mobilidade (os robôtáxis) ou de transporte de mercadorias em veículos pesados (por via do ‘platooning’, ou condução em pelotão). O seu sucesso será determinante para o alargamento das tecnologias aos veículos ligeiros de passageiros, mas deixa o alerta de que a automação da condução não ser a ‘bala’ de prata para impedir os acidentes e lesões nas estradas, mas sim apenas uma das partes necessárias para que tal aconteça.

Nissan evolui tecnologia

Nota que a Nissan conta já com uma larga experiência no campo da condução autónoma, oferecendo nos seus automóveis a evolução do ProPilot, agora na versão 2.0, que melhora os padrões de segurança em diversos aspetos. No início de 2020, um Leaf de primeira geração alterado para elevados níveis de autonomia, concluiu uma viagem de testes em modo autónomo, ao abrigo também de um projeto-piloto do Governo britânico.

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