Ensaio SEAT Leon 1.4 TGI: Gás natural para fazer mais quilómetros e gastar menos

18/04/2018

Embora muita gente pense apenas em veículos híbridos ou elétricos quando se fala em ‘combustíveis’ alternativos, existem outras opções que vale a pena equacionar. A deste ensaio é disso exemplo: face à gasolina é mais limpa, não emite tantos agentes nocivos para a atmosfera, não exige mudança brutal de rede de abastecimento e, ponto fundamental, é mais acessível para o utilizador. Qual é? A resposta é o Gás Natural Comprimido (GNC), solução que a SEAT escolheu para alguns modelos, como o Ibiza ou Leon. Uma equação que tem o benefício de aumentar a autonomia disponível de forma dramática.

Imagine que tem dois depósitos no seu automóvel e que com isso pode percorrer muitos mais quilómetros com um custo que é bem mais acessível do que se fosse apenas alimentado por gasolina ou Diesel. Parece demasiado otimista para ser realidade, mas é isso que se passa com o Leon TGI ensaiado, uma unidade aqui em versão familiar ST que recorre ao bem-sucedido motor 1.4 TSI a gasolina mas que o converte para utilização com gás natural comprimido (daí a sigla TGI), ajustando-lhe a potência para 110 CV. Uma ligeira adaptação para um motor que é dos mais versáteis do mercado nesta faixa de potência e que, como se verá mais por diante, não acarreta grandes prejuízos em termos de performance.

O que muda?

Na prática, o Leon TGI não tem grandes mudanças técnicas face a um 1.4 TSI convencional, embora existam, naturalmente. A maior de todas é a inclusão de um segundo depósito de GNC sob o piso da bagageira, o que lhe retira alguma da capacidade comparativamente à carrinha Leon com motores a gasolina ou Diesel. Esse depósito permite levar até 15 kg de gás natural comprimido, sendo que tem um armazenamento com pressão de 200 bar.

Além desse, mantém-se o depósito de 50 litros de gasolina, o que, como se percebe, já é um bom indício de autonomia. E, tecnicamente, as mudanças ficam-se por aqui. No interior, ao condutor é reservado no manómetro do conta-rotações um ícone do GNC (verde quando está a ser utilizado), no lado esquerdo, bem como o respetivo indicador do nível de combustível restante. Do lado oposto, no direito, dentro do velocímetro, encontra-se o indicador tradicional de gasolina. O computador de bordo também apresenta dados de consumo e autonomia de ambos os combustíveis.

Como se conduz?

A forma de conduzir é praticamente a mesma, embora exista uma novidade: o GNC é o combustível primário. Ou seja, o condutor não tem hipótese de escolha entre o GNC e a gasolina, com o gás a ser utilizado sempre que ainda esteja presente no depósito. Uma vez esgotado, alterna para gasolina. Em termos práticos, a SEAT oferece com esta solução mais de 1000 quilómetros de autonomia com solução ecológica, não sendo difícil registar baixos consumos com o GNC. No nosso ensaio obtivemos uma média de 4,3 kg/100 km no GNC – no caso dos modelos de gás natural, a forma de apreciação dos consumos altera-se para quilogramas por 100 quilómetros. A marca espanhola aponta um consumo médio de 3,6 kg/100 km, ao passo que a média de consumo de gasolina é de 5,5 l/100 km.

Uma vez que falámos da localização do depósito de GNC, convém referir que, pelo lado menos bom, a sua colocação sob o piso da bagageira resulta numa perda da capacidade desta variante face aos modelos a gasolina ou Diesel, além de ver reduzida alguma da sua versatilidade – passa dos 587 litros para 482 litros. Perde, ainda, a possibilidade de receber uma roda sobressalente. Contudo, na verdade, muito dificilmente irá sentir que ‘perdeu’ aqueles 100 litros de capacidade, tal é a volumetria disponível em configuração de cinco lugares.

Esta versão TGI debita 110 CV e 200 Nm de binário máximo, surgindo aqui em associação a uma caixa manual de seis velocidades (também existe variante com caixa automática DSG), destacando-se pela sua comodíssima prestação, mostrando respostas rápidas e desembaraçadas em praticamente todas as situações. Elástico nas reações, tem fôlego interessante desde baixas rotações até patamares mais altos, mesmo que não seja necessário esticar a mudança para regimes mais altos. Ou seja, fruto do funcionamento do turbocompressor, o motor TGI tem boa elasticidade e atitude quando se carrega na acelerador.

Face à versão de 150 CV (TSI), os 110 CV mostram-se um pouco mais ‘apertados’ quanto mais carga se leva a bordo, mas há desenvoltura mais do que suficiente para uma condução agradável na maior parte dos momentos. Menção ainda para a caixa de velocidades com escalonamento acertado e manuseamento correto, permitindo engrenagens rápidas.

O seu comportamento é muito certinho, com ótima estabilidade em curva sem ser um desportivo, dando primazia ao conforto dos ocupantes. Na prática, o Leon ST é ágil nas mudanças de direção, com rolamento da carroçaria bem contido em percursos sinuosos, ainda que a direção ofereça pouca sensação do que se passa na estrada. Por dentro, qualidade nos acabamentos e na construção é ponto de honra, sendo um bom exemplo do cuidado que é depositado atualmente nos produtos oriundos de Martorell. O sistema de infoentretenimento de nova geração é outra mais-valia, sobretudo pela nitidez e conectividade apresentada. O sistema consegue, também, antecipar o final do GNC e mostrar na navegação os pontos de carregamento do gás natural mais perto.

Para passageiros, idealmente quatro, uma vez que os bancos traseiros são estreitos, mas tanto o espaço para as pernas como em altura são bastante bons. Apenas adultos de estatura acima da média poderão sentir qualquer incómodo.

Só se lamenta, mesmo, a redução da capacidade da bagageira…

“É fazer as contas…”

A frase do antigo primeiro-ministro ficou célebre e ‘dá’ para tudo. Aproveitemos o conselho e façamos contas rápidas. Com o depósito de 15 kg de GNC é possível realizar qualquer coisa como 300 quilómetros, no caso de ter um pé direito muito ‘pesado’, ou de cerca de 350 quilómetros caso seja mais comedido e ‘navegue’ pelos 4,3 kg/100 km, como sucedeu no nosso caso. Com o preço a ser de 0,9€ por cada kg, facilmente se percebe que um depósito tem um custo inferior a 15€ para encher. Ora, este é um valor que concorre diretamente com o registo dos Diesel, sobretudo pelo custo, que é assim inferior, mas com boa autonomia – superior aos 1000 km – graças à conjunção dos dois combustíveis. Se se mantiver sempre o GNC em utilização, a poupança é maior. Equação simples.

A rede de abastecimento também ainda é uma pequena limitação, mesmo que esteja a crescer cada vez mais, prevendo-se até a sua expansão nos próximos tempos.

VEREDICTO

Não se fala muito do GNC como opção, mas é uma pena que seja assim. Em boa verdade, esta é uma solução bastante útil e eficaz para quem procura um modelo mais ecológico sem ter de abdicar dos motores de combustão interna e sem ter de despender mais dinheiro em modelos da era da eletrificação. Mesmo que seja o futuro, a eletrificação ainda não está ao alcance de todos. Ambientalmente, as emissões de CO2 são menores em cerca de 25% face a um modelo a gasolina e 20% face a um Diesel. Comparativamente ainda a um GPL, é também menos poluente no CO2 em 12%. No que diz respeito ao nocivo óxido de azoto (NOx), emite menos 15% do que um gasolina e GPL e impressionantes menos 80% do que um Diesel.

Entremos, pois, no capítulo do custo: o GNC é muito mais acessível do que o gasolina ou gasóleo, pelo que o custo operacional resulta num dos modelos mais económicos do mercado. Na versão Style, que já tem bastante equipamento de série, o custo de partida é de 28.730€, mas acrescentem-se alguns extras e o valor aumenta. Mas, seja como for, os custos de utilização são difíceis de bater num produto solidamente concebido, como já tem sido apanágio na SEAT.

SEAT LEON 1.4 TGI 110 CV STYLE CX MAN
Motor 1395 cc, 4 cilindros em linha, injeção direta, turbo, intercooler
Potência 110 CV às 4800 rpm
Binário 200 Nm às 1500 rpm
Transmissão Caixa manual de 6 velocidades, tração dianteira
Aceleração 0-100 km/h 11 seg.
Velocidade máxima 194 km/h
Consumo médio anunciado Gasolina 5,5 l/100 km
Consumo médio anunciado GNC (medido) 3,6 kg/100 km (4,3 kg/100 km)
Emissões CO2 96 g/km
Comprimento/largura/altura 4549/1816/1454 mm
Distância entre eixos 2636 mm
Peso (c/ condutor) 1421 kg
Bagageira 482 – 1365 litros
Depósito de combustível gasolina 50 litros
Depósito de combustível GNC 15 kg
Suspensão dianteira Independente McPherson
Suspensão traseira Eixo de torção
Pneus 225/45 R17
Preço base 28.730€
MAIS: Autonomia, custos de utilização, conforto, condução, qualidade geral, prestações.

Menos: Bagageira reduzida para uma carrinha, Equipamento de série poderia ser mais recheado, Rede de abastecimento ainda escassa.

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