Agora que enxotámos esse elefante da sala, falemos de sonho. O regresso da Maserati aos superdesportivos faz-se com linhas límpidas, puras, sem que ao primeiro olhar possa dizer-se que este ou aquele artifício está ali a mais, só para impressionar – um pecado comum neste segmento onde a forma, por vezes, domina a função.
O MC20 que esteve em Lisboa, para uma apresentação estática, sublinhava essa pureza com um branco mate a lembrar o mármore imaculado, sem veios que estraguem os planos dos escultores, que é extraído das pedreiras de Carrara, a uns 160 km da histórica fábrica da Maserati, na Avenida Ciro Menoti, em Modena.
A marca do tridente está visivelmente orgulhosa do MC20, um superdesportivo requalifica a imagem e coloca a Maserati num campeonato onde não entrava há demasiado tempo. Ao que garantem os responsáveis da marca do tridente, está ali, no MC20, a futura linguagem de design da Maserati. É o nascimento de uma “nova era”, disseram por diversas vezes durante a apresentação em Lisboa.
Os motivos desse orgulho são fáceis de compreender. O MC20 foi desenvolvido no Maserati Lab e é produzido de uma ponta à outra na fábrica de Modena. É 100% fabricado em Itália. A marca anuncia uma relação peso/potência líder nesta classe (1500 kg e 2,33 kg/cv) e muita inovação na aerodinâmica, com o trabalho em túnel de vento a contribuir para as tais linhas limpas e puras, sem artifícios – algo que só poderá ser comprovado ao volante e, de preferência, em pista. O chassis é um monocoque completamente em fibra de carbono e foi desenhado em parceria com a Dallara. Vai servir, com alterações mínimas, para as três derivações do MC20 – Coupé, Descapotável e Elétrico.
Outro motivo de orgulho? O novo V6 de 3.000cc, de seu nome “Nettuno”, a debitar 630cv – 210cv/litro de potência específica, que a marca garante ser mais um valor de referência nesta classe. É a primeira vez em 20 anos que a Maserati desenha e produz um motor de raiz.O “Nettuno” tem umas quantas patentes internacionais a protegê-lo e a Maserati afirma que está a importar, com este V6, tecnologia que até aqui só estava disponível na Fórmula 1. A tecnologia foi baptizada MTC (Maserati Twin Combustion) e o melhor é fazer uma busca no Google e ver as imagens. No essencial, trata-se de um sistema com três componentes: uma câmara de pré-combustão, colocada entre a vela de ignição principal e a câmara de combustão convencional, e com uma série de de canais a ligar as duas câmaras; uma vela secundária, numa das laterais de cada cilindro, que tem como missão assegurar um funcionamento suave e minimamente silencioso quando o motor não está em carga máxima; e, por fim, um duplo sistema de injecção de combustível – directa e indirecta -, com dois injectores por cilindro, funcionando a pressões diferentes.
A Maserati garante que este sistema explica a elevada potência específica deste V6, assegurando em simultâneo que consumos e emissões permanecem dentro de valores aceitáveis para a classe. Para quem goste de números, aqui ficam: V6 a 90º, 3.000cc, bi-turbo, com cárter seco. 630cv às 7500rpm e 730Nm de binário máximo entre as 3000rpm e as 5500rpm.
O MC20 é, nas palavras dos responsáveis pela Maserati, um carro de competição que pode circular em estrada. O interior está desenhado em função do condutor/piloto, com toda a informação e controlos organizados de forma racional e funcional. As formas, tal como no exterior, são simples e depuradas, e todo o cockpit é revestido a materiais de cor negra ou tons de cinzento escuro. O objectivo é evitar reflexos e distrações da função principal, manter o MC20 dentro dos limites da estrada ou da pista. Tal como num carro de competição, a Maserati conta que desenhou o habitáculo com duas prioridades: funcionalidade e visibilidade.
Paulo Tavares (Jornalista GMG)
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