O sonho ainda não é taxado ou alvo de impostos, pelo que fica já aqui um número: 269.053,45. São euros. Duzentos e sessenta e nove mil e cinquenta e três euros, e quarenta e cinco cêntimos. É quando vale, em Portugal, a entrada no mundo do MC20 – Maserati Corse 2020.

Agora que enxotámos esse elefante da sala, falemos de sonho. O regresso da Maserati aos superdesportivos faz-se com linhas límpidas, puras, sem que ao primeiro olhar possa dizer-se que este ou aquele artifício está ali a mais, só para impressionar – um pecado comum neste segmento onde a forma, por vezes, domina a função.

O MC20 que esteve em Lisboa, para uma apresentação estática, sublinhava essa pureza com um branco mate a lembrar o mármore imaculado, sem veios que estraguem os planos dos escultores, que é extraído das pedreiras de Carrara, a uns 160 km da histórica fábrica da Maserati, na Avenida Ciro Menoti, em Modena.

A marca do tridente está visivelmente orgulhosa do MC20, um superdesportivo requalifica a imagem e coloca a Maserati num campeonato onde não entrava há demasiado tempo. Ao que garantem os responsáveis da marca do tridente, está ali, no MC20, a futura linguagem de design da Maserati. É o nascimento de uma “nova era”, disseram por diversas vezes durante a apresentação em Lisboa.

Os motivos desse orgulho são fáceis de compreender. O MC20 foi desenvolvido no Maserati Lab e é produzido de uma ponta à outra na fábrica de Modena. É 100% fabricado em Itália. A marca anuncia uma relação peso/potência líder nesta classe (1500 kg e 2,33 kg/cv) e muita inovação na aerodinâmica, com o trabalho em túnel de vento a contribuir para as tais linhas limpas e puras, sem artifícios – algo que só poderá ser comprovado ao volante e, de preferência, em pista. O chassis é um monocoque completamente em fibra de carbono e foi desenhado em parceria com a Dallara. Vai servir, com alterações mínimas, para as três derivações do MC20 – Coupé, Descapotável e Elétrico.

Outro motivo de orgulho? O novo V6 de 3.000cc, de seu nome “Nettuno”, a debitar 630cv – 210cv/litro de potência específica, que a marca garante ser mais um valor de referência nesta classe. É a primeira vez em 20 anos que a Maserati desenha e produz um motor de raiz.

O “Nettuno” tem umas quantas patentes internacionais a protegê-lo e a Maserati afirma que está a importar, com este V6, tecnologia que até aqui só estava disponível na Fórmula 1. A tecnologia foi baptizada MTC (Maserati Twin Combustion) e o melhor é fazer uma busca no Google e ver as imagens. No essencial, trata-se de um sistema com três componentes: uma câmara de pré-combustão, colocada entre a vela de ignição principal e a câmara de combustão convencional, e com uma série de de canais a ligar as duas câmaras; uma vela secundária, numa das laterais de cada cilindro, que tem como missão assegurar um funcionamento suave e minimamente silencioso quando o motor não está em carga máxima; e, por fim, um duplo sistema de injecção de combustível – directa e indirecta -, com dois injectores por cilindro, funcionando a pressões diferentes.

A Maserati garante que este sistema explica a elevada potência específica deste V6, assegurando em simultâneo que consumos e emissões permanecem dentro de valores aceitáveis para a classe. Para quem goste de números, aqui ficam: V6 a 90º, 3.000cc, bi-turbo, com cárter seco. 630cv às 7500rpm e 730Nm de binário máximo entre as 3000rpm e as 5500rpm.

O MC20 é, nas palavras dos responsáveis pela Maserati, um carro de competição que pode circular em estrada. O interior está desenhado em função do condutor/piloto, com toda a informação e controlos organizados de forma racional e funcional. As formas, tal como no exterior, são simples e depuradas, e todo o cockpit é revestido a materiais de cor negra ou tons de cinzento escuro. O objectivo é evitar reflexos e distrações da função principal, manter o MC20 dentro dos limites da estrada ou da pista. Tal como num carro de competição, a Maserati conta que desenhou o habitáculo com duas prioridades: funcionalidade e visibilidade.

O Maserati MC20 já está disponível para reserva em Portugal – entregas só em 2021 -, através do concessionário oficial da marca, a C. Santos VP. A partir de final de outubro, os clientes terão um espaço Maserati completamente novo, em Alcabideche, onde poderão tratar de detalhes como aquele número no início do texto, um valor que, em boa verdade, poderá ser apenas o princípio da conversa, já que o MC20 vai ser um dos modelos que, em breve, vai poder ser personalizado através do programa “Fuoriserie”.

Paulo Tavares (Jornalista GMG)

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